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Mais do que um processo de transformação, a gestação é uma experiência de afeto e o início da relação entre mãe e filho

Maternidade e a construção de vínculos afetivos

publicado: 09/05/2022 08h58, última modificação: 09/05/2022 08h58
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Foto: Arquivo Pessoal

por Ítalo Arruda*

A gestação é um período em que a mulher passa por uma série de mudanças biológicas, psicológicas e sociais. No entanto, mais do que um processo de transformação, é uma experiência de afeto e responsabilidade com a qual se constitui o início da maternidade e da relação entre mãe e filho.

Estudos científicos comprovam que a experimentação maternal acontece muito antes de a mãe segurar o bebê no colo pela primeira vez, amamentá-lo ou entoar canções de ninar para fazê-lo dormir, já que este fator não está ligado meramente à questão biológica, mas ao comportamento social.

De acordo com a psicóloga clínica e doutora em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Noêmia Leal, este processo “inicia-se ainda na infância, por meio da brincadeira de faz de conta com as bonecas ou outras crianças, que acabam evidenciando o papel social da mulher-mãe, e perpassa outros períodos da vida, quando se alimenta esse desejo de tornar-se mãe”.

Para a especialista em orientação de pais, crianças e adolescentes, a maternidade deve ser entendida como uma construção de vínculo afetivo, que, além dos atributos genéticos, envolve uma grande dose de aprendizagem dos papéis sociais e do significado de ser mãe. Noêmia também ressalta que essa experiência é contínua e singular, ou seja, depende de como a gestante lida com este processo.

“A compreensão do significado da gestação e o que a chegada de uma criança representa para a mulher grávida, além das questões psicossociais, como insegurança emocional, relacional e socioeconômica, são alguns fatores que constituem essa experiência materna”, pontua a psicóloga.

Passando pela primeira gestação, a jornalista Rebeka Melo, 26, revela que sentiu muito medo quando descobriu, em meados de dezembro último, que estava grávida há dois meses. Apesar do choque e da insegurança vividos naquele momento, “veio um sentimento incrível de imaginar que existe um ser crescendo dentro de mim e, desde então, tem sido só alegria”, relata a jovem que está no sexto mês da gravidez e já experimenta o “amor de mãe”.

Rebeka conta, também, que se sente agraciada por saber que este ano passará o Dia das Mães com Maria Heloísa em seu ventre, mas não esconde a ansiedade ao saber que no próximo ano a data será comemorada com as duas frente a frente. “Minha filha já existe dentro de mim, e eu já tenho aquele sentimento de proteção e amor que só mãe tem, mas eu sei que ano que vem vai ser ainda mais incrível, porque será o nosso primeiro ano juntinhas em uma nova realidade”.

Diferentemente da jornalista e “mãe de primeira viagem”, a empresária Bianca Chaves já passou por essa experiência há cinco anos, quando engravidou da primeira filha. Ela diz que não se sente tão ansiosa como na gestação anterior, mas admite que, à medida que se enche de mais amor, também teme não dar conta de duas crianças. “Quando somos mães, o medo e o amor andam lado a lado, mas o amor sempre fala mais alto. Agora estarei completa, como sempre sonhei”, diz Bianca.

Conforme explicação da psicóloga Noêmia Leal, a sensação de insegurança e demais sentimentos de ambivalência em torno de o “tornar-se mãe” são bastante comuns durante o período gestacional. “A gestação marca um período de intensas mudanças não só no corpo, mas também nos papéis sociais que a mulher desempenha. A insegurança é parte da experiência que o novo provoca. Cada dia na jornada da maternidade trará seu desafio e sua riqueza”, frisa.

Fortalecimento da relação ao longo da gestação

Se, há algumas décadas, o desconhecimento com relação ao sexo do bebê era algo comum entre as gestantes e os familiares que aguardavam ansiosos por tal descoberta, hoje, a tecnologia viabiliza imagens em alta dimensão que possibilitam não só a identificação da sexagem, mas também a visibilidade da criança em tempo real e com uma precisão que mostra detalhes do rosto e do corpo, por meio dos exames de ultrassonografia. O recurso, além de auxiliar no diagnóstico de possíveis doenças ou problemas de má formação do feto, por exemplo, também ajuda na aproximação entre mãe e filho e no fortalecimento da relação estabelecida entre eles ao longo da gestação.

Para Rebeka Melo, os dias de exame de ultrassom são os mais esperados, porque é quando ela se sente mais próxima da filha. “Não existe sensação melhor do que ver o bebê se mexendo e escutar o seu coração bater. Acho que é o melhor dia do mês para toda mãe que está grávida”, comenta. A mesma impressão tem a empresária Bianca. Como ela ainda está há pouco mais de dois meses de gravidez, só fez um exame deste tipo até o momento. Mesmo assim, ela diz se sentir emocionada e ansiosa. “O coração fica acelerado e os olhos cheios de lágrimas por saber que sou a casa do meu mais novo amor”.

Segundo a médica ginecologista e obstetra Bárbara Lombardi, a partir da oitava semana da gestação já é possível identificar, atravéz de um exame de imagem simples, o sexo do feto, possibilitando, inclusive, a escolha do nome da criança – que assim poderá ser chamada durante sua vida ultrauterina – e, consequentemente, o fortalecimento do vínculo mãe-bebê.

No entanto, com relação aos exames mais modernos, como os que dispõem de imagens em até cinco dimensões (3D, 4D e 5D), a melhor fase da gestação para realizá-los, segundo Bárbara, é entre a 28a e 32a semana. “Porque o feto já possui tecido gorduroso suficiente abaixo da pele, e, assim, os traços físicos detalhados e os movimentos daquele neném podem ser visualizados, deixando o virtual bem próximo do real”, ressalta a obstetra, destacando que, embora a tecnologia tenha avançado bastante, “jamais vai se comparar com a grande emoção que é ver pessoalmente o rostinho do bebê pela primeira vez”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 8 de maio de 2022