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Moradores de rua da capital são assistidos por voluntários

publicado: 02/12/2017 23h05, última modificação: 02/12/2017 23h32
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Trabalho voluntário é uma atividade estipulada em lei e tem uma data nacional, 28 de agosto, e internacional, 5 de dezembro

tags: afeto , atenção , amor , projeto de rua , moradores de rua , assistência


Alexandre Nunes

Afeto, atenção e amor. Esse é o tripé dos 3A’s usado como princípio norteador das ações do 'Projeto de Rua', desenvolvido por voluntários da Comunidade Católica Maria Nossa Mãe, do Bairro dos Expedicionários, em João Pessoa, e que presta assistência aos moradores de rua que dormem sob as marquises de estabelecimentos comerciais, no Centro da cidade, e também nas Avenidas Epitácio Pessoa e Beira-Rio, além das Praças 1817 e João Pessoa.

No Brasil, o trabalho voluntário, além de ser uma atividade estipulada em lei, tem também uma data para sua comemoração, 28 de agosto, o 'Dia Nacional do Voluntariado', definida pela Lei 7.352, de 1985. Já no próximo dia 5 de dezembro é comemorado o 'Dia Internacional do Voluntário', instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU). O trabalho voluntário envolve organizações de voluntariado, governos, fundações privadas, organizações não governamentais (ongs), organizações da sociedade civil de interesse público (Oscip), fundações e associações de cunho social. Trata-se do terceiro setor, que mobiliza ações voluntárias e independentes.

De acordo com a última pesquisa divulgada sobre o assunto, o Instituto Datafolha revelou que apenas três em cada dez brasileiros já realizaram alguma ação voluntária na vida. Ainda segundo o levantamento, apenas 11% dos brasileiros realizam hoje alguma atividade voluntária. São 16,4 milhões de pessoas que se doam, sem remuneração, em prol de alguma obra ou projeto, como acontece com as 60 pessoas que atuam no 'Projeto de Rua', em João Pessoa, coordenado por Sivaldo de Oliveira Chaves e Rosimere Nascimento da Silva, um casal de missionários da Comunidade Maria Nossa Mãe.

"Após ter uma experiência com irmãos de rua em Fortaleza (CE), percebemos que não é apenas de alimentos que os moradores de rua precisam, mas de um contato humano, onde eles podem falar das suas dores, medos e traumas. É através desse contato que sabemos o que cada um realmente mais precisa, assim temos um bom e verdadeiro feedback. Não importa quais os motivos que os levaram para as ruas, eles são seres humanos em situação de risco, aos quais podemos ao menos dar uma melhor condição de vida. Não dá para ficar olhando como espectador da vida, precisamos ir ao encontro do outro, viver a empatia, dar um pouco de dignidade. Não é só alimentar o corpo desses nossos irmãos, eles também precisam ser alimentados na esperança, na fé, acreditar na humanidade e acreditar neles mesmos", ressalta Sivaldo de Oliveira.

Ele informa que a equipe de voluntários se reúne na segunda-feira à noite, porque a maioria do pessoal trabalha durante o dia. "Eu e minha esposa, como somos missionários, começamos mais cedo. A gente inicia de tardezinha, cortando legumes e preparando as coisas. Então, quando o pessoal chega, a gente já conclui o sopão, suco, café, pão com mortadela, achocolatado e água. Tudo isso a gente vai preparando na hora. Uma coisa que as pessoas que vivem na rua pedem muito é água, pois têm muita sede. Então, a gente leva muita água para eles. A partir das 19h é que o pessoal voluntário começa a chegar. Tem gente que já vem direto do trabalho para cá", explica.

Sivaldo de Oliveira considera que ser voluntário, em um trabalho como o 'Projeto de Rua', é completar o que falta no outro. "Como voluntário, procuro encontrar no outro aquilo que está faltando em mim, para que ele busque em mim aquilo que falta nele. Eu vou até ele, porque sinto naquele irmão que está faltando nele algo que está faltando em mim também. Vou completar essa falta nele através de minha doação de tempo, ao trabalhar nesse projeto com tanto amor e carinho. No âmbito religioso, ser voluntário tem o sentido de encontrar com Cristo, um Cristo esfarrapado, um Cristo com fome, um Cristo que não está crucificado, mas está no chão, um Cristo que dorme no papelão. Enfim, são várias formas da gente entender e ver o trabalho voluntário. Para muitos tem um sentido mais humano, para outros um sentido mais religioso, e eu pego os dois lados", complementa.

Caso real

Sivaldo conta que, certa vez, um dos irmãos de rua pediu pimenta para colocar na sopa. "Um condimento tão simples e barato, mas para aquele irmão de rua faria uma diferença imensa em seu alimento. Pois bem, compramos, levamos para ele e a alegria tomou conta deste nosso irmão. Mas, na semana seguinte, tivemos uma triste notícia, este mesmo irmão teria sido atropelado e morto. E ele só nos pediu a pimenta. Às vezes queremos fazer muitas coisas, mas esquecemos de ouvir o que eles realmente precisam: afeto, atenção e amor", conclui.

Iniciativa beneficia população de Mangabeira

Servir ao próximo foi uma semente plantada ainda na infância, na mais tenra idade, no santuário familiar. Irmã Juliana, ou Juliana Suênia Vasconcelos Barros, nascida em João Pessoa, aprendeu com os pais a compartilhar o pouco que tinha com quem tivesse necessidade, seja de amor ou de pão. Ela atualmente dirige a Associação Beneficente São José, também conhecida como Casa de Missão de Mangabeira, local onde o trabalho voluntário é praticado em toda sua essência.

Para atender as 200 famílias cadastradas para receber cestas básicas, cestas de frutas, legumes e verduras, pão e leite de soja e ainda o sopão, e também as mais de 150 pessoas inscritas, por semestre, nos cursos oferecidos no local, é preciso arregimentar um verdadeiro exército de voluntários. São profissionais de diversas áreas que, sem qualquer remuneração, dedicam um pouco do seu tempo para fazer funcionar todas as atividades da Casa de Missão de Mangabeira, vinculada à Comunidade Católica Consolação Misericordiosa, da Arquidiocese da Paraíba.

Na opinião de Irmã Juliana, ser voluntário é se doar simplesmente por amor, sem esperar receber nada em troca. Assim, segundo a religiosa, as pessoas que recebem benefícios do trabalho dos voluntários se sentem amadas, consoladas e vão descobrindo que elas também são importantes e que não estão esquecidas, que têm alguém que lembra delas. "Ser voluntário é dar de graça o que de graça recebemos. Deus capacita cada um de nós com um dom, nos enche de capacidades. E essas capacidades não são para ficar para nós mesmos e não podem ser caracterizadas como algo individual, egocêntrico, só nosso. As capacidades que o senhor nos dá é para serem compartilhadas com o outro. E cada dom compartilhado vai sendo multiplicado", garante.

Irmã Juliana acrescenta que não há nada mais gratificante para o voluntário do que poder ajudar o outro, com aquilo que ele aprendeu e foi adquirindo em sua história de vida. "Não existe valor, não dá para calcular a alegria de poder ajudar ao outro, a aquele que mais precisa. Como dizia Madre Tereza de Calcutá, não sei quem é mais pobre, se é aquele que mendiga o pão, ou o pobre que mendiga amor. Então, cada um de nós seres humanos tem uma necessidade, seja necessidade de amor, seja a necessidade de pão. Portanto, podemos ajudar e também sermos ajudados", assegura.