De acordo com dados do Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande, um dos principais centros de atendimento de urgência da Paraíba, 103 casos de asfixia por engasgo foram registrados na unidade, neste ano, até o momento, contra 92 atendimentos realizados no mesmo período de 2024.
No Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, casos de engasgo são registrados sob o termo “corpo estranho”, referindo-se a qualquer alimento ou objeto não comestível que pode causar obstruções nas vias respiratórias, no trato gastrointestinal ou em outras partes do organismo. Em 2024, a unidade registrou quase oito mil atendimentos do tipo — a maioria dos pacientes (68,2%) foram homens adultos.
Dados do hospital revelam, ainda, que corpos estranhos são as principais causas de acidentes domésticos envolvendo crianças de zero a 12 anos, ficando atrás, somente, dos registros de queda da própria altura. Foram 1.459 pacientes em 2024 e, no recorte de janeiro a julho de 2025, 1.039 casos foram registrados.
Preocupados com a incidência de acontecimentos dessa natureza e com a qualidade nos procedimentos de primeiros socorros, a American Heart Association (AHA), entidade que define os protocolos mundiais de primeiros socorros, atualizou as diretrizes para reanimação cardiopulmonar (RCP) e emergências cardiovasculares. A principal mudança está na forma de agir em caso de engasgo por obstrução das vias aéreas: agora, as compressões abdominais — chamadas de manobra de Heimlich — devem ser precedidas de cinco pancadas nas costas.
A mudança ocorreu porque, segundo a AHA, quase 40% das paradas cardíacas infantis que aconteceram fora de um hospital nos Estados Unidos, país no qual a associação está sediada, foram causadas por emergências respiratórias ou asfixia. Com as novas diretrizes, o objetivo é aumentar a eficácia da manobra e reduzir o risco de lesões.
Para Natalia Cavalcanti, coordenadora da otorrinolaringologia do Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, “as batidas nas costas são mais uma forma de ajudar a deslocar o objeto engasgado”, sendo que o grupo de pessoas mais suscetíveis são crianças de até quatro anos. “As menores de um ano engasgam-se muito com leite e, na fase da introdução alimentar, com alimentos redondos e objetos que não deveriam colocar na boca”, complementa a especialista.
Para bebês de até um ano, a recomendação é alternar cinco pancadas nas costas com cinco compressões no peito, mantendo a cabeça da criança em um nível mais baixo que o resto do corpo. As compressões devem ser feitas com a base da palma da mão, até que o corpo estranho seja expulso ou até que o bebê perca a consciência — a partir desse ponto, é necessário iniciar a reanimação com 30 compressões no peito, feitas com os dois polegares, mais duas ventilações. Compressões abdominais são proibidas para bebês, dado o risco de ferir órgãos internos. Caso o corpo estranho não esteja visível, os dedos não devem ser introduzidos na boca da vítima.
Tanto em crianças maiores de um ano quanto em adultos, a manobra permanece a mesma: após verificar se há obstrução total das vias aéreas, uma pessoa deve se posicionar atrás da vítima, ligeiramente inclinada para a frente, e dar as cinco pancadas firmes nas costas com o calcanhar da mão. Se o objeto responsável pela asfixia não for regurgitado, deve-se realizar cinco compressões abdominais com o punho fechado, posicionado acima do umbigo e abaixo do osso do peito, e continuar alternando as séries de compressões e pancadas até que a vítima desengasgue. Em caso de desmaio, é preciso deitar a vítima para fazer a reanimação cardiopulmonar no ritmo tradicional: 100 a 120 por minuto.
É importante lembrar que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) deve ser contatado rapidamente, pelo número 192, antes de dar início aos procedimentos de desengasgo ou reanimação, para prestar socorro mais rápido e adequado, caso a vítima permaneça impedida de respirar, mesmo após a execução das manobras.
A AHA também recomenda que, a partir dos 12 anos, todos façam um curso de RCP para poder agir em casos de emergência. A otorrinolaringologista Natalia explica que “os primeiros minutos de engasgo e parada respiratória são fundamentais para um desenrolar favorável ao paciente. Por isso, antes do socorro chegar, todos devem ser capazes de realizar manobras que salvam vidas”.
Treinamento ensina servidores da EPC
Por Pedro Alves*
Na tarde de ontem (28), funcionários da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC) acompanharam uma palestra de primeiros socorros na sede administrativa da instituição, onde está localizada também, a redação do jornal A União, no Distrito Industrial, em João Pessoa. A capitã Isabel Reis da Silva, do Corpo de Bombeiros da capital, foi a responsável por passar as orientações de prevenção e de como socorrer pessoas em algumas situações de emergência.
Foram passadas instruções de primeiros socorros em casos de convulsões, engasgos e queimaduras. A capitã Isabel ainda explicou com detalhes como fazer curativos em casos de acidentes no ambiente de trabalho e como conter hemorragias.
O momento foi organizado pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) da EPC. A capitã Isabel agradeceu o convite e disse estar contente com a preocupação da empresa em orientar seus funcionários a agir com conhecimento em casos eventuais de emergências.
“Eu fico muito feliz quando as repartições se interessam em fazer esses tipos de momentos para que a gente possa passar conhecimento aos funcionários. É algo muito importante em um ambiente de trabalho e que pode salvar a vida de alguém. E não há nada melhor do que cuidar e ajudar a salvar a vida de uma pessoa”, destacou a capitã.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 29 de outubro de 2025.
