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análogo à escravidão

Operação resgata 33 trabalhadores

publicado: 30/05/2025 08h33, última modificação: 30/05/2025 08h33
Ação identificou as vítimas atuando em condições indignas em obras da construção civil, no município de Cabedelo
Resgate de 33 © Divulgação_MPT_PB.jpg

Empregados estavam alojados na própria obra, em ambiente superlotado e sem infraestrutura | Foto: Divulgação/MPT

Uma operação resgatou 33 trabalhadores em condições degradantes e análogas à escravidão, em obras de construção de edifícios na orla marítima de Cabedelo, município da Região Metropolitana de João Pessoa. A ação realizada pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF) começou no último dia 21 e foi encerrada na quarta-feira (28). Os resgatados trabalhavam em obras de três construtoras, nas praias de Formosa e Camboinha, no litoral da Paraíba.

Somente neste ano, na Paraíba, foram resgatadas 104 pessoas que atuavam na condição de trabalho análogo ao de escravo, o que significa um aumento de 96% em relação a todo o ano de 2024, quando foram encontrados 53 trabalhadores. Dos 104 resgatados neste ano, 92 estavam em atividades da construção civil, nos municípios de João Pessoa e Cabedelo.

Por parte do MPF, participou da operação a procuradora Rosane Campiotto, da Procuradoria da República da 3ª Região, integrante do Grupo de Apoio ao Combate à Escravidão Contemporânea e Tráfico de Pessoas (Gacec-Trap), vinculado à Câmara Criminal do MPF (2CCR/MPF). O órgão tem como um dos objetivos enfrentar o trabalho escravo contemporâneo e, dessa forma, tornar a persecução penal mais efetiva para esse tipo de crime. Alguns dos trabalhadores foram ouvidas pela procuradora.

Segundo a procuradora do Trabalho Dalliana Vilar Pereira, as 33 vítimas encontradas em condições análogas à escravidão são migrantes internos, naturais de diferentes municípios da Paraíba, como Mari e Gurinhém. “Eles estavam alojados na própria obra, sem uma estruturação adequada, com água caindo dentro do alojamento, com superlotação, sem qualquer tipo de ventilação, totalmente inacabado, sanitários em condições inadequadas de uso. Havia também reclamação da presença de mosquitos. Então, eram condições que não garantem o mínimo de civilidade e dignidade ao trabalhador”, relatou a representante do MPT.

“Temos encontrado aqui, na Paraíba, situações de trabalho escravo contemporâneo em locais nobres, como a orla das cidades e ainda em obras de condomínio de alto padrão. Então, é muito importante que a gente mude essa cultura do desrespeito às normas trabalhistas em locais onde não se garante o mínimo de dignidade ao trabalhador, violam as normas trabalhistas de forma global e de forma tão lesiva que chega a caracterizar uma condição indigna, similar à condição de um trabalho escravo”, finalizou Dalliana Vilar.

De acordo com a auditora fiscal do Trabalho Gislene Melo dos Santos Stacholski, o que mais chamou a atenção foi o fato dos trabalhadores estarem alojados dentro da própria obra. “Era um amontoado de gente. Não havia espaço entre as camas, não havia armários. No período chuvoso, tudo era muito úmido, insalubre e esses trabalhadores nem mesmo a higiene conseguiam fazer ou manter de forma adequada. Havia uma cozinha em cada uma das obras, bem pequena, rústica e suja, cheia de gordura, também sofrendo infiltrações, e nessa cozinha eles faziam o café da manhã, o almoço e o jantar. Os banheiros também eram improvisados, com pedaços de tapumes, não havia portas. Tudo era muito decadente”, relatou.

“A alimentação também nos chamou muito a atenção, porque as empresas forneciam o almoço, mas era totalmente insuficiente e desprovido de nutrientes para um trabalhador que atua no sol e no pesado o dia todo. Eles recebiam apenas um pedaço de carne. No dia que acompanhamos, era apenas uma pequena coxa de frango. O café da manhã era só cuscuz com um ovo e o jantar era somente o cuscuz. Qualquer outro tipo de alimentação necessária eles tinham que comprar. Então, esses fatores são muito graves diante da atividade”, acrescentou a auditora fiscal.

Obras embargadas

Gislene Melo dos Santos Stacholski informou, ainda, que as obras fiscalizadas estavam em condições totalmente inseguras, tanto é que foram embargadas pelo grave e iminente risco que elas estavam trazendo aos trabalhadores. “Vários trabalhos em altura sem nenhum tipo de estrutura, os fossos do elevador estavam abertos. Então, a qualquer momento, eles poderiam se desequilibrar e cair. Todo tipo de escada ou acesso estavam prejudicados, sem segurança mínima, o que poderia ocasionar um acidente a qualquer momento e com consequências, provavelmente, fatais”, concluiu a auditora fiscal.

Indenizações

Segundo o MPT, foram formalizados termos de ajustamento de conduta (TACs) com as três construtoras responsáveis pelas obras em que os  trabalhadores atuavam, para que façam a regularização da situação no que diz respeito ao ambiente do trabalho, alojamento, contrato de trabalho e pagamento de indenizações.

Foram pagos aos trabalhadores o valor bruto de quase R$ 200 mil em verbas rescisórias e ainda, conforme acordo firmado com o MPT, deverá ser pago o mesmo valor em indenizações por dano moral individual a cada um dos trabalhadores, sem prejuízo de poderem ajuizar ação na Justiça do Trabalho para pleitear valores maiores, caso assim entendam. Também deverá haver o pagamento de indenização por dano moral coletivo, no valor de R$ 300 mil pelas construtoras.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de maio de 2025.