Vivenciar o passado indígena, do período de 1500 anos atrás, conhecendo peças de barro confeccionadas por comunidades nativas. Foi isso que a Expedição: Jornalistas na Estrada — formada pelas jornalistas especializadas em turismo Alessandra Lontra, Ana Célia Macêdo, Rosa Aguiar e Ruth Avelino, além desta repórter — encontrou em sua passagem pelo município de Pilões, na região do Brejo paraibano. Essa foi a segunda viagem realizada pelo projeto; desta vez, a convite de Jaime Souza, secretário de Turismo de Pilões e presidente do Fórum do Turismo do Brejo Paraibano.
Como a programação da visita foi extensa, esta reportagem se foca especificamente em um grande atrativo histórico da cidade, o Museu de Arqueologia de Pilões. O local, que tem sido bastante frequentado por turistas, chama atenção pela riqueza de seu acervo: são mais de 200 peças arqueológicas e 22 conjuntos funerários dos povos tupi--guarani e aratu, incluindo artefatos da tradição ceramista aratu e outros itens e ferramentas de pedra polida, pertencentes a diferentes contextos históricos.
O museu foi instalado no antigo prédio do mercado público do município e criado a partir de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), que firmou compromissos entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional na Paraíba (Iphan-PB) e empresas de energia elétrica. De acordo com o diretor do museu, José Geraldo Fernandes Neto, tudo teve início após vistorias realizadas para a instalação de subestações de energia da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) em Pilões, no ano de 2009, quando foi identificada, no terreno das obras, uma coleção indígena arqueológica. Constatou-se, assim, que a área era um sítio-cemitério pré-histórico.
Os vestígios encontrados pelas escavações foram coletados e encaminhados para o Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde receberam serviços de curadoria e restauro, ficando sob guarda temporária da instituição, até sua transferência para integrar o Museu de Arqueologia de Pilões. As peças foram recebidas no dia 19 de junho de 2023, por representantes da Prefeitura de Pilões e pelo arqueólogo Juvandi de Souza Santos, responsável legal do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da Universidade Estadual da Paraíba (Labap/UEPB).
Fundado não apenas para preservar o material arqueológico, mas fomentar ações de educação patrimonial na região, o museu despontou como um dos mais importantes sítios arqueológicos da Paraíba.
Expansão favorecerá atividades pedagógicas
Para Juvandi de Souza Santos, os itens descobertos em Pilões, junto a outros 21 sítios arqueológicos do interior da Paraíba, vêm servindo para construir uma nova visão sobre a história do estado.
“Quando se fala em indígenas, do período dos anos 1500, os livros didáticos apresentam que os tupis habitavam o litoral, enquanto que os tapus, cariris e tarairiús habitavam o interior. E, hoje, graças a essas escavações, nós sabemos que os tupis também habitavam o interior da Paraíba, da mesma forma que, até 2009, não se mencionava a presença do povo aratu em território paraibano — algo que se confirmou desde então”, pontua o arqueólogo da UEPB, destacando que o acervo identificado em Pilões “é formidável e está entre os melhores materiais arqueológicos encontrados no Brasil”.
Parte dessas peças, contudo, ainda está armazenada no Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da universidade, em Campina Grande, e deve ser incorporada ao museu após uma ampliação do local, cujas despesas de manutenção são ordenadas pela Prefeitura de Pilões, sob a assessoria técnica da equipe de pesquisadores liderada por Juvandi. “A intenção é ampliar o espaço para abrigar o restante [do material] encontrado, para difundir todo o estudo histórico da nossa região”, explica José Geraldo Fernandes Neto, diretor do empreendimento.
A expansão do Museu de Arqueologia de Pilões também deverá favorecer a promoção de atividades pedagógicas no local.
Urnas funerárias
Uma das principais atrações do museu são as urnas funerárias dos povos tupi-guarani e aratu, que demonstram bem a maneira curiosa como essas comunidades indígenas eram antigamente sepultadas, com os corpos mantidos em posição fetal. Arqueólogos que estudam esses itens levantam a hipótese de que, passado certo tempo após o enterro, os restos mortais eram retirados e depositados em outro lugar. De fato, em relação a resíduos humanos, as escavações locais encontraram apenas dois dentes.
Adornos, machados e utensílios de cerâmica também estão expostos no museu. O local oferece visitação gratuita e está aberto ao público de terça-feira a domingo, nos períodos da manhã e da tarde.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa no dia 17 de agosto de 2024.