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Elevado índice de cancelamento de viagens por aplicativos é um dos motivos para a migração dos passageiros

Passageiros voltam aos táxis em JP

publicado: 13/04/2022 08h30, última modificação: 13/04/2022 08h30
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Foto: Marcos Russo

por Juliana Cavalcanti*

O excesso de cancelamentos de viagens por parte dos transportes por aplicativo é o que tem ajudado muitos taxistas a sobreviver e a manter clientes. A informação é do presidente do Sindicato dos Taxistas da Paraíba (SindtaxiPB), Wellington Macedo. Apenas em João Pessoa são 1.440 táxis cadastrados na Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana da capital (Semob- JP).

Esse número corresponde, na realidade, aos veículos cadastrados na entidade, mas na ativa são aproximadamente mil profissionais trabalhando nas ruas da capital. “Nos últimos tempos, as maiores preocupações são a pandemia (que ainda não acabou) e a alta dos combustíveis. Em relação aos aplicativos, estamos menos tensos, porque a qualidade do atendimento é outra e eles não estão conseguindo atender à demanda. São muitos cancelamentos e isso tem beneficiado bastante os táxis”, declarou.

O presidente aponta que depois da pandemia muitos taxistas pararam de rodar, ficaram sem condições de comprar carros, uns adoeceram e outros chegaram a falecer. “Com isso, muitos alvarás de táxis ficaram parados na Semob. São taxistas registrados, mas que não puderam mais trabalhar”, comentou.

Além dos cancelamentos dos alternativos, as taxas dinâmicas (aumento de preços das corridas conforme a hora do dia e quantidade de veículos) também têm gerado insatisfação dos clientes, fazendo com que migrem para os táxis.

Conforme a Uber, o preço dinâmico é uma forma da empresa compensar o aumento da demanda por carros em determinados lugares. Segundo a empresa, quando a quantidade de novos pedidos de viagens cresce em uma área, os preços aumentam para incentivar os motoristas a se conectarem ao aplicativo.

Para Wellington Macedo, às vezes, as tarifas nos aplicativos estão tão altas que chegam a superar o preço dos táxis, o que motiva as pessoas a mudar suas opções nas corridas. “Hoje também estamos usando os aplicativos de táxi que trabalham com descontos de até 20%. Com o desconto, pode-se chegar a um valor menor, o mesmo valor ou com pouca diferença de preço. Se for uma viagem de João Pessoa para o Aeroporto de Recife, por exemplo, o desconto chega até 30%”, destacou.

As dificuldades nos transportes por aplicativos geraram uma oportunidade para que os táxis assegurassem sua presença no mercado. Porém, eles ainda ameaçam a profissão de taxista, já que muitas empresas de táxis reduziram suas frotas. A Uber e a 99 estão entre os principais concorrentes desses profissionais.

José Carlos Oliveira (conhecido como Der) há oito anos trabalha como taxista. Ele conta que os transportes por aplicativo geraram uma redução expressiva na quantidade de clientes, mas garante que ele e vários de seus colegas conseguem sobreviver como taxista e continuam circulando pela cidade. Seu ponto fica próximo ao Mercado Público de Mangabeira.

Ele tinha aproximadamente seis anos de profissão quando percebeu que as corridas estavam diminuindo e que muitos clientes passaram a pedir viagens pelo celular. “Escolhi o táxi pensando em obter uma boa renda, mas a chegada dos aplicativos nos prejudicou. Antes, fazíamos as nossas diárias com as nossas viagens. Mas, esses aplicativos quebraram muitos taxistas”, admitiu.

A maior parte de suas corridas é dentro de João Pessoa. Raramente José Carlos faz viagens para o interior da Paraíba ou outros estados. “Às vezes consigo viagens para Recife, Natal ou Campina Grande. Antes, tinha corrida para todos os lugares e para Natal ou Campina eu ia direto”, disse.

No entanto, ele acredita que aos poucos o setor vem se recuperando diante dos cancelamentos, altas taxas praticadas e outros problemas nessas plataformas, o que tem feito muitos passageiros retornarem aos táxis.

Efeito do aumento dos combustíveis

Conforme o representante do Sindicato, além da pandemia e dos aplicativos de transporte, a alta dos combustíveis é outra questão que preocupa os taxistas. Por essa última razão,t orna-se cada vez mais difícil, atualmente, o motorista conseguir dar descontos nas corridas. Mas em maio o Sindicato irá apresentar aos motoristas um novo aplicativo, já em funcionamento em Recife e em outras capitais, cujo objetivo é fazer com que o taxista possa trabalhar melhor os seus descontos, de acordo com a demanda de cada profissional.

“A gente está passando uma crise muito grande por causa desse combustível caro, porque parte do que a gente ganha é para o combustível. Antigamente, era mais barato e esse lucro era melhor. Agora, temos os combustíveis mais caros e os aplicativos para nos preocupar”, lamentou o taxista José Carlos.

No dia 12 de março ocorreu uma assembleia do SindtaxiPB para discutir um possível aumento de tarifa, devido ao aumento dos preços dos combustíveis. “O aumento foi aprovado, mas os valores ainda não foram definidos. Levamos três propostas para a Prefeitura e ainda esperamos a contrapartida da PMJP”, informou o presidente da entidade.

Diferença de preços

Em João Pessoa, as viagens mais frequentes de táxi são para o Centro da cidade, Bancários, Manaíra e os Shoppings Mangabeira, Manaíra e Tambiá. Os pontos de partida, geralmente, são Mangabeira, Bancários (e demais bairros da Zona Sul) ou de locais diferentes em torno do Centro da capital.

“A maioria das corridas é para o Centro, que inclui o pessoal que vai trabalhar pela manhã e os destinos para o retorno do trabalho, a partir das 17h, para os Bancários ou Mangabeira, por exemplo”, acrescentou Wellington Macedo.

Do Mercado de Mangabeira para o Mangabeira Shopping, por exemplo, as corridas no taxímetro custam entre R$ 10 e R$ 12. Na Uber, esse valor sem taxa dinâmica pode ser R$ 7,90 (UberX) ou R$ 12,90 (Confort), mas pode chegar a R$ 19,90 nos horários de pico. No aplicativo 99, por sua vez, os preços vão de R$ 7,40 (Pop) a R$ 8,90 (Confort), também chegando nos períodos de maior movimento de clientes a R$ 19,90.

Mas, se o destino for o Centro de João Pessoa saindo dos Bancários, o passageiro pode pagar no taxímetro de R$ 30 (Parque da Lagoa) a R$ 35 (Terminal Rodoviário). Na plataforma Uber, essa viagem às 10h custa R$ 14 (Parque da Lagoa) ou R$ 18 (Rodoviária). E na 99, no mesmo horário, os preços são R$ 13,60 (Parque da Lagoa) e R$ 14,50 (Rodoviária)

Poucos clientes andam apenas de táxi, pois a maioria procura fazer o comparativo de preços. “Têm pessoas que chegam e já nos pedem uma estimativa de quanto daria no taxímetro e quando é para longe tentam chegar em um acordo para definir o valor. Por exemplo, saindo de Mangabeira até Jacumã dá entre R$ 50 e R$ 60”, pontuou o taxista José Carlos.

Para fora de João Pessoa, a maior parte das viagens são para Recife, Campina Grande e Natal. Alguns clientes optam por contratar as corridas por valores fixos, sem o taxímetro. “Por causa do combustível, tanto os carros por aplicativo como os taxistas sentiram essa crise. Espero que o valor do combustível diminua para que a situação dos taxistas melhore de fato”, concluiu José Carlos. 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 13 de abril de 2022