A Paraíba receberá, até o fim desta semana, 13.570 doses da vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), responsável por 75% dos casos de bronquiolite e 40% de pneumonias em crianças menores de dois anos. Os imunizantes serão enviados pelo Ministério da Saúde, que distribuirá, neste primeiro lote, 673 mil doses para todos os estados do Brasil. A vacinação é destinada a gestantes a partir da 28ª semana de gravidez e será imediata, a partir do recebimento pelos estados e municípios brasileiros, com expectativa de ser realizada durante todo o mês de dezembro.
A medida é um método para reduzir a mortalidade infantil decorrente do vírus, que acomete 20 mil bebês menores de um ano anualmente, no país. Ao todo, o Ministério da Saúde fechou a compra de 1,8 milhão de doses da vacina contra o VSR. O investimento é de R$ 1,17 bilhão, conforme anunciado ontem pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Durante toda a campanha no estado, mais de 50 mil gestantes paraibanas devem se vacinar contra o vírus sincicial. Na Paraíba, até a primeira quinzena de novembro, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) registrou 5.199 casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag), dos quais 812 foram provocados pelo VSR. Mais de 94% dos afetados pela doença são crianças: 569 são menores de um ano e 202 têm de um a quatro anos. Foram informados, ainda, 19 óbitos por SRAG associada ao VSR na Paraíba: nove casos referiram-se a menores de um ano de idade; cinco, a crianças de um a quatro anos; dois, a idosos de 70 a 79 anos; e três, a idosos com 80 anos ou mais.
De acordo com o ministério, a vacina oferece proteção imediata a recém-nascidos e pode prevenir cerca de 28 mil internações anuais, além de beneficiar aproximadamente dois milhões de bebês. A imunização, durante a gravidez, atua em dose dupla, garantindo a proteção tanto da mãe quanto do filho.
“Crianças muito novas, principalmente bebês menores de seis meses, são mais vulneráveis à infecção pelo vírus sincicial respiratório porque as vias aéreas são mais estreitas e a capacidade pulmonar também é reduzida. Além do que, nessa idade, crianças e bebês muito novinhos não têm um sistema imunológico completamente desenvolvido. Eles ainda estão em fase de adquirir anticorpos, de maturação das células de defesa”, revela a infectologista Monnara Lúcio.
Como aponta a especialista, a propagação do vírus acontece pelo contato com gotículas transmitidas por pessoas com a infecção, por meio de espirros, tosse, fala e mãos ou objetos contaminados pela secreção das vias aéreas respiratórias. No momento, devido ao alto grau de contágio, a principal maneira de prevenir a forma grave da doença em bebês é a vacinação materna. “Também se deve evitar muitas visitas à criança que acabou de nascer, já tendo ciência da vulnerabilidade, da necessidade de proteção adicional, nessa fase em que o sistema imunológico ainda está em desenvolvimento”, destaca.
Dados levantados pelo Ministério da Saúde apontam que o Brasil apresentou 83 mil internações de bebês prematuros por complicações associadas ao vírus, como bronquite, bronquiolite e pneumonia, de 2018 a 2024. Já em 2025, até 15 de novembro, o país registrou 43,1 mil casos de Srag causados por VSR. Desses casos, a maior concentração de hospitalizações ocorreu em crianças com menos de dois anos de idade, totalizando mais de 35,5 mil ocorrências, o que representa 82,5% do total de casos de Srag por VSR no período.
Além disso, segundo a Pasta, a cada cinco crianças infectadas pelo VSR, uma necessita de atendimento ambulatorial e, em média, uma em cada 50 precisa ser hospitalizada no primeiro ano de vida. O risco é ainda mais elevado entre os prematuros, cuja taxa de mortalidade é sete vezes maior do que a de crianças nascidas a termo.
Prevenção
Três tecnologias são recomendadas para a prevenção de infecções causadas pelo VSR. Em fevereiro deste ano, o anticorpo Nirsevimabe foi incorporado ao rol de medicamentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medicação fornece proteção imediata contra o VSR e é indicada em dose única para bebês prematuros com até um ano de idade e crianças de até dois anos nascidas com comorbidades.
Já a vacina induz uma resposta imunológica na mãe e garante que o recém-nascido receba anticorpos na gestação. “A gestante, ao se vacinar, vai desenvolver anticorpos contra o vírus, que serão passados para o bebê e proporcionarão uma imunização passiva, já que ele vai ter esse anticorpo pronto justamente nessa idade em que o risco de bronquiolite grave e mortalidade por bronquiolite é maior”, explica Monnara Lúcio.
Até o começo deste ano, apenas o anticorpo Palivizumabe estava disponível no SUS. Ele é destinado a bebês prematuros extremos, de até 28 semanas de gestação, e a crianças de até dois anos de idade com doença pulmonar crônica ou cardiopatia congênita grave.
Calendário
A meta do Ministério da Saúde é vacinar, pelo menos, 80% do público-alvo. Além das doses previstas para este ano, o Ministério prevê a compra de mais 4,2 milhões até 2027. A oferta da vacina no SUS, que na rede particular pode chegar a R$ 1,5 mil, foi possível a partir da assinatura de um acordo envolvendo o Instituto Butantan e o laboratório produtor, que garantiu a transferência de tecnologia do imunizante no Brasil. Com isso, o país passará a fabricar o produto, garantindo autonomia da oferta da vacina e acesso da população a essa proteção.
Com a chegada das doses às Unidades Básicas de Saúde (UBS), o Ministério orienta as equipes a verificar e atualizar a situação vacinal das gestantes, incluindo influenza e Covid-19, uma vez que a vacina contra o VSR pode ser administrada simultaneamente a esses imunizantes. Pelo SUS, o calendário nacional inclui seis imunizantes recomendados para gestantes: além das vacinas contra influenza, Covid-19 e, a partir deste ano, o VSR, também fazem parte desse rol a dupla adulto (dT), dTpa (tríplice bacteriana acelular do tipo adulto) e o imunizante contra a hepatite B.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 26 de novembro de 2025.