De acordo com os dados das Estatísticas do Registro Civil divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que reúnem informações de casamentos, divórcios, nascimentos, mortes e óbitos fetais em todo o país, a Paraíba terminou 2024 com um movimento simultâneo de avanço nos casamentos e queda nos divórcios, dois indicadores que caminharam em sentidos opostos e colocaram o estado entre os destaques do país.
Enquanto os registros de uniões civis cresceram 16,1%, somando 18.472 atos — segundo maior aumento estadual do Brasil —, os divórcios recuaram 4,6%, após atingirem seu pico histórico em 2023. No cenário nacional, o comportamento foi mais moderado: os casamentos subiram apenas 0,9% e os divórcios diminuíram 2,8%. No Nordeste, os casamentos caíram 1,4%, embora os divórcios também tenham retraído, em 3,1%.
Toda forma de amor
Em 2023 e 2024, o estado contabilizou 2.566 casamentos a mais, retomando a trajetória de elevação observada em 2021 (26,7%) e 2022 (3,6%). O resultado só ficou atrás do Tocantins, que registrou alta de 17,2%.
A expansão abrangeu tanto os casamentos entre pessoas de sexos diferentes — que cresceram 15,8% (2.493 registros) — quanto as uniões homoafetivas, que tiveram alta expressiva de 45,9% (73 registros a mais). Dentro deste grupo, a maior variação ocorreu entre cônjuges femininas (64,3%), enquanto casais masculinos tiveram incremento de 16,4%.
No ano passado, 98,7% dos casamentos foram entre cônjuges de sexos diferentes (18.240 registros) e 1,3% (232) entre pessoas do mesmo sexo. Tanto na Paraíba quanto no Brasil, o ano marcou o maior número de uniões homoafetivas desde o início da série histórica, em 2013. A taxa de nupcialidade legal — casamentos por mil habitantes de 15 anos ou mais — subiu de 4,9‰ para 5,6% na Paraíba, igualando-se à média nacional. No Nordeste, o indicador ficou estável e terminou 2024 em 4,7%, o menor entre as regiões.
Com esse avanço, a Paraíba passou da 10a para a 16a menor taxa entre as unidades da Federação, tornando-se o estado com a maior taxa de nupcialidade do Nordeste.
Nos casamentos entre solteiros de sexos diferentes, os homens paraibanos casaram-se, em média, aos 31,5 anos — a mesma média nacional —, enquanto as mulheres tinham 29,2 anos (Brasil: 29,3).
Nas uniões entre pessoas do mesmo sexo, a idade média foi de 34,1 anos para casais masculinos e 33,9 anos para femininos, valores próximos aos verificados no Nordeste e no país.
Dissoluções matrimoniais tiveram 4,6% de queda
Depois de atingir, em 2023, seu maior número desde 2009, a Paraíba registrou queda de 4,6% nos divórcios em 2024, com 6.330 dissoluções formais. O recuo foi mais forte do que o observado no Brasil (-2,8%) e no Nordeste (-3,1%), além de representar a 13a maior redução entre os estados da Federação e a quinta mais intensa da região.
A taxa geral de divórcios no estado alcançou 2,1% em 2024 — a 11a menor do país — abaixo das médias nacional (2,7%) e regional (2,2%). Embora menor, o indicador segue muito acima do registrado em 2004 (1,1%), refletindo mudanças significativas na dinâmica familiar ao longo das últimas duas décadas.
Assim como no restante do país, homens divorciam-se mais tarde que as mulheres. Em 2024, a idade média no ato do divórcio foi de 44,3 anos para eles e 41,3 anos para elas na Paraíba, praticamente igual aos índices nordestinos e pouco abaixo do padrão nacional.
O tempo médio de duração dos casamentos de sexos diferentes manteve-se estável no estado: passou de 14,2 anos em 2014 para 14,6 anos em 2024. No Brasil, esse intervalo diminuiu levemente, caindo de 14,7 para 13,8 anos.
Filhos menores
Entre os divórcios concedidos em primeira instância, 37,1% ocorreram em famílias com filhos menores de idade — embora essa proporção tenha diminuído 10,6 pontos percentuais em relação a 2014. Já os divórcios entre casais sem filhos cresceram, alcançando 33% em 2024.
Outro destaque é o avanço da guarda compartilhada, que passou de 6,3% em 2014 para 29,6% em 2024, entre casais com filhos menores. A mudança acompanha a aplicação da Lei no 13.058/2014 e reforça a participação conjunta dos pais na criação dos filhos.
Também houve aumento do percentual de divórcios cuja guarda ficou sob responsabilidade do marido, que passou de 5,4% para 10,1% em 10 anos. Já o índice de guarda exclusiva materna caiu de 86,6% para 56,5%.
Estado tem a menor redução no número de nascimentos do país
A Paraíba registrou o menor recuo no número de nascimentos entre todas as unidades da Federação. Enquanto o Brasil teve uma queda expressiva de 5,8% — de 2,523 milhões de crianças registradas em 2023 para cerca de 2,377 milhões em 2024 —, o estado paraibano apresentou retração de apenas 1,9%.
No Nordeste, região que teve a segunda menor queda do país (-5,3%), a Paraíba também se destacou por manter ritmo menos acentuado de redução. Ainda assim, o estado contabilizou 933 registros a menos: passou de 49.524 nascimentos em 2023 para 48.591 em 2024. O movimento confirma a tendência de queda que se repete quase ininterruptamente há seis anos, com exceção de uma pequena alta de 0,2% em 2022 e 2023.
Embora a retração paraibana seja menor que a média brasileira, a comparação com o período pré-pandemia revela mudanças estruturais. A diferença entre os dados de 2024 e a média de registros de 2015 a 2019 (56.983) mostra uma queda de 14,7% no estado — menos intensa que a nacional (-17,1%), mas ainda representativa, com 8.392 nascimentos a menos.
O comportamento acompanha a dinâmica observada no país nos últimos 20 anos, marcada por declínio constante da natalidade e da fecundidade. Fenômenos como mudanças socioeconômicas, adiamento da maternidade e impacto da pandemia são apontados como fatores importantes para explicar essa trajetória.
Mães mais jovens
Os dados revelam transformações profundas no perfil etário das mães. Em nível nacional, a proporção de nascidos vivos de mulheres com até 24 anos caiu de 51,7% em 2004 para 34,6% em 2024 — queda de 17,1 pontos percentuais (p.p.). No Nordeste, a redução foi ainda maior (-19,2 p.p.), embora a região continue com uma das maiores proporções de mães jovens (38,1%).
Na Paraíba, o movimento segue a mesma direção: a proporção caiu de 55,4% em 2004 para 36% em 2024, redução de 19,4 pontos percentuais. O estado registrou, assim, a 12a menor taxa entre todas as unidades da Federação e a terceira menor do Nordeste. Apesar disso, o índice paraibano permanece acima da média brasileira e abaixo da nordestina.
A fecundidade entre adolescentes e jovens de até 19 anos também diminuiu. No Brasil, foram 267.446 nascimentos de mães dessa faixa etária em 2024, representando 11,3% do total — queda em relação aos 20,8% observados em 2004. No Nordeste, o percentual é maior (13,8%), enquanto a Paraíba registrou 12,8% em 2024, redução de 10 p.p. desde 2004.
Ao mesmo tempo que diminui a participação das mães mais jovens, cresce a das mulheres com mais idade. Na Paraíba, de 2004 a 2024, houve avanço marcante em dois grupos: mães de 30 a 34 anos, cuja participação passou de 12,9% para 20,7% (+7,8 p.p.), e mães de 35 a 39 anos, que aumentaram de 6,3% para 13,5% (+7,2 p.p.).
O avanço acompanha tendência nacional de adiamento da maternidade, motivada por fatores como maior inserção feminina no mercado de trabalho, acesso à educação e métodos contraceptivos.
Distribuição por sexo
Quanto ao sexo dos bebês, não houve alterações significativas ao longo das últimas duas décadas. Em 2024, 51,3% dos nascidos vivos na Paraíba eram meninos (24.934), enquanto 48,7% eram meninas (23.655). As proporções se mantêm próximas das médias nacional e regional, repetindo um padrão estável observado desde 2004.
O conjunto de dados mostra que, embora a Paraíba registre queda mais lenta que o restante do país, o estado segue inserido em um processo estrutural de redução da natalidade. A transição demográfica avança de forma consistente, marcada por menos nascimentos, maior idade das mães e redução progressiva da fecundidade entre adolescentes e jovens — um cenário que tende a influenciar políticas públicas de saúde, educação e planejamento familiar nos próximos anos.
Maioria dos falecidos tinha 60 anos ou mais
Em 2024, a Paraíba registrou 29.468 mortes, 1.772 a mais que em 2023 — um aumento de 6,4%. O estado teve a sexta maior taxa de crescimento do país, empatado com Tocantins, ficando acima da média brasileira (4,6%) e da nordestina (3,8%).
Do total, 54,2% (15.957) eram homens e 45,8% (13.508) mulheres, mantendo o padrão histórico de maior mortalidade masculina.
A maior parte das mortes ocorreu entre pessoas com 60 anos ou mais, faixa que cresceu de forma consistente ao longo das últimas décadas: de 64% em 2004 para 71,3% em 2024 (21.018 óbitos). Em contrapartida, a mortalidade entre crianças e adolescentes de até 14 anos caiu de 7,2% para 2,5% no mesmo período.
Na faixa de 15 a 59 anos, houve aumento absoluto, mas uma ligeira queda proporcional: de 27,7% para 25,7% de 2004 a 2024.
Causas naturais
A pesquisa também mostra que a maioria dos óbitos na Paraíba em 2024 decorreu de causas naturais: 91,2% (26.863 pessoas), percentual superior ao nacional (90,9%) e ao nordestino (87,3%). Em 20 anos, a participação desses óbitos subiu 1,4 ponto percentual.
As mortes por causas externas — como acidentes, homicídios, suicídios e quedas — somaram 7,2% (2.123 registros), sendo o segundo menor índice do Nordeste e o 12o menor do Brasil. O percentual ficou abaixo do regional (9%), mas acima da média nacional (6,9%).
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de dezembro de 2025.
