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Placas e monumentos se deterioram em João Pessoa

publicado: 09/04/2018 17h29, última modificação: 10/04/2018 07h36
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Tomado por ferrugem, monumento Revoar, da rotatória do Bessa, desabou - Foto: Marcos Russo

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Iluska Cavalcante

Pichações, ferrugem, depredações e sujeira revelam a sombra do descaso e falta de manutenção nos monumentos, tanto históricos quanto contemporâneos, da cidade de João Pessoa. Seja nas rotatórias espalhadas pelos principais pontos da cidade ou no esquecido Centro Histórico, é fácil perceber o abandono das esculturas que deveriam deixar a capital paraibana mais bonita.
Um caso recente que retrata essa realidade foi a queda do monumento Revoar, localizado na rotatória do Bessa Shopping, no bairro do Bessa. Na semana passada, devido às chuvas fortes, a obra de arte ganhadora do Primeiro Concurso Público de Obras de Arte Jackson Ribeiro, com visíveis sinais de ferrugem, se desprendeu de sua base e tombou.

A obra é do artista plástico paraibano Luiz de Farias Barroso. O artista plástico ganhou o concurso em 2009 e teve seu monumento inaugurado em 2010, durante a gestão do então prefeito Luciano Agra (PSB).

Segundo informações da Secretaria de Desenvolvimento Humano de João Pessoa (Sedurb), o motivo do tombamento foi a maresia devido a localidade do monumento e as chuvas fortes que ocorreram durante o período da queda.

O diretor de paisagismo da Sedurb, Sérgio Chaves, informou que estava no planejamento da prefeitura revitalizar a escultura antes do ocorrido. “Estava nos nossos planos já restaurar esse monumento do Bessa, inclusive iríamos levar a metalúrgica até lá para efetuar a manutenção”, disse. Ainda segundo o diretor, a escultura foi levada para uma metalúrgica que deverá realizar as restaurações necessárias para a obra ser recolocada na cidade.

Por outro lado, o artista criador da obra acredita que o motivo tenha sido a falta de manutenção por parte dos órgãos responsáveis. De acordo com ele, ocorreu um acidente no ano de 2016 na localidade do monumento. O artista explicou que o impacto desestabilizou a base da escultura. “Como meu filho mora próximo do local onde a obra está localizada, ele me informou na época que um carro bateu na escultura, causando um problema na base. É uma peça de 4 metros de altura, com a base abalada ela não suportou”, disse.

Apesar do acidente ter ocorrido há quase dois anos nada foi feito para recuperar o monumento durante esse período. Barroso conta que entrou em contato com a Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) na época, órgão responsável pelo concurso que premiou o artista, mas a informação repassada foi que a prefeitura não poderia fazer o trabalho de revitalização da obra. “A queda foi em virtude da falta de cuidado com a estrutura. Quando solicitei a ajuda para tentar solucionar o problema me pediram uma papelada que, na minha opinião, não seria necessária. Mas eu repassei tudo e eles me informaram que não podiam fazer nada no momento”, comentou.

Além disso, Barroso não foi informado sobre a localidade da sua escultura e nem foi solicitada a sua ajuda para a revitalização da obra. “Corre o risco de mudar a originalidade da escultura. Eu deveria participar para discutir com a metalúrgica a melhor forma, porque tem o lado técnico, mas também tem o lado artístico”, disse.

Apesar de seu receio da obra perder o sentido artístico ele enfatizou que existe uma comunicação entre ele e a Funjope para a situação ser resolvida. “Foi aberto um canal de comunicação e isso já foi um ponto positivo. Não quero que interpretem a minha opinião como uma barreira para a restauração do monumento e a melhora”.

Os voos dos pássaros da escultura do artista têm um significado que vai além da arte. Em 2009, Pedro, seu filho, faleceu em um acidente de carro no bairro do Bessa. Barroso pensou em cada detalhe para homenagear o filho. A palavra francesa Revoar, que dá nome à escultura, significa tornar a voar ou voltar voando. “A minha intenção de colocar no Bessa também era uma homenagem a ele. Esse lado sentimental e pessoal é muito forte para mim”, disse.

A relação que o artista tinha com a obra faz com que ele não desista de vê-la reestruturada. “Isso me dói e me dá uma certa revolta pelo descaso. Há uma relação muito forte com esse trabalho, é um pouco da gente ali. A gente sofre com ele, tem alegrias com ela. Só quem tem filhos é que pode falar dos filhos, é a mesma lógica usada, é como um filho pra gente”.
Apesar da revolta, Barroso entende que não é um caso isolado. “Temos o exemplo da minha, mas todas as outras têm problemas. Esse caso é a metáfora do que é a realidade na Paraíba com os monumentos”.

Centro Histórico marcado por depredações

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Fecomércio de Pesquisas Econômicas e Sociais da Paraíba (Fecomércio), o Centro Histórico está entre os cinco locais favoritos dos turistas que visitam João Pessoa. Mas o local também está entre um dos mais abandonados. Suas praças e monumentos são visivelmente marcados pelas depredações.

A reportagem de A União visitou alguns desses locais. A Praça Antenor Navarro, marcada por ser um ponto de encontro entre jovens, devido a grande quantidade de barzinhos e casas de shows, está visivelmente abandonada. Um lugar esquecido por órgãos públicos e lembrado pelas danificações do tempo e do vandalismo.

A falta de manutenção faz com que nem mesmo o nome da praça fique visível. A placa, danificada e coberta por cartazes e pichações, traz um poema do poeta Políbio Alves que se contradiz com o local ao seu redor: “O varadouro ainda retrata veias e o coração da velha cidade”.

A pichação é o tipo de depredação mais recorrente e visível na praça. Segundo o diretor de Paisagismo da Sedurb, Sérgio Chaves, esse é um problema que a prefeitura tem dificuldade de resolver por conta da grande quantidade de casos. “Com relação às pichações, isso é uma falta de educação total. Nós restauramos várias praças, a Praça da Independência, por exemplo, passou pela maior restauração da história dela, e dias depois já estava pichada. Recuperamos a Praça do Rangel recentemente também e ela já está pichada”, disse.

O empresário Tiê Maia, dono de uma casa de festas na praça Antenor Navarro, disse que a falta de cuidado do local afasta turistas e pessoas que visitam e frequentam o local. Segundo ele, seus lucros poderiam ser maiores e seu estabelecimento mais reconhecido.

No entanto, Tiê acredita que para a manutenção do local, é necessária uma ajuda de todos, tanto dos comerciantes da região, quanto órgãos públicos responsáveis. “Todos nós precisamos fazer a nossa parte. Os órgãos públicos também têm que fazer alguma coisa, mas os comerciantes daqui têm que cooperar para manter a manutenção”.

Quando questionado sobre a situação da Praça Antenor Navarro, Sérgio Chaves explicou que há um projeto de revitalização da praça realizado pela prefeitura recentemente: “inclusive estamos, atualmente, trabalhando em um projeto para essa praça. Ainda não há prazo porque o projeto ainda está sendo planejado”, comentou.

Placas de identificação ilegíveis

Outro ponto importante do Centro Histórico é a Praça Pedro Américo, onde fica localizado um dos principais teatros da cidade, o Teatro Santa Roza. Apesar de ter sido realizada uma manutenção no local recentemente, as placas que identificam a praça e dão informações aos visitantes estão danificadas e ilegíveis.

Segundo a Sedub, órgão que realizou a manutenção da praça, a responsabilidade de revitalizar as placas informativas é da Secretaria Municipal de Turismo (Setur).

De acordo com o coordenador do Centro de apoio ao Turista da Setur, Assuero Alves, existe um planejamento de restauração e implantação de placas turísticas bilíngues em locais com monumentos e pontos turísticos, tanto no Litoral da cidade como no Centro.

Assuero explicou que a Setur depende de outros órgãos para realizar o projeto. “A secretaria faz o planejamento e estudo dos locais que precisam de mudança, no entanto, depende de outras secretarias e órgãos que realizam essa mudança e fazem o trabalho de restauração”.

Segundo o coordenador, o relatório com os locais que precisam de novas placas e das placas que receberão as devidas restaurações foi produzido no final de 2017 e, provavelmente, pode ser colocado em prática em julho deste ano.