por Juliana Cavalcanti*
O governador da Paraíba João Azevêdo inaugurou ontem a Casa de Acolhida LGBTQIAP+ da Paraíba – Cris Nagô, no bairro de Tambauzinho, em João Pessoa. O serviço, coordenado pela Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana (Semdh-PB) irá atender à população LGBTQIAP+ dos 18 aos 59 anos em situação de rua, abandono familiar e em situação de violência.
De acordo com a secretária da Mulher e da Diversidade Humana, Lídia Moura, a Casa de Acolhida LGBTQIAP+ da Paraíba tem capacidade de acolher provisoriamente até 25 pessoas simultaneamente durante um período de até 120 dias. “Como há rotatividade na maneira com que nossas assistentes sociais vão reinserindo essas pessoas em outros arranjos sociais, é um número considerável porque em um mês podemos atender muitas pessoas”, explica.
O espaço irá funcionar na Rua Evaldo Wanderley, 884, no bairro de Tambauzinho, na capital. Os casos serão encaminhados após atendimento nos Centros de Referências dos Direitos de LGBTQIAP+ e Enfrentamento à LGBTQIAP+fobia de João Pessoa e Campina Grande.
“É uma casa que vai trazer para essa população tão excluída em seus direitos, dignidade e cidadania. É um lugar aconchegante para uma acolhida de lar, haja vista que muitas destas pessoas são expulsas de casa, estão em situação de rua ou de violência. Então, essa casa vai acolher de uma maneira confortável, mas ao mesmo tempo assegurando seus direitos”, comentou.
A casa conta com profissionais de enfermagem, psicologia, serviço social, assessoria jurídica, assistência pedagógica e educação social. Sobre isso, a secretária reforça que o atendimento das demandas da população LGBTQIAP+ é interdisciplinar e integral, pois contempla a articulação com outros serviços estaduais disponíveis conforme as necessidades de cada indivíduo acolhido.
“Iremos ofertar um serviço qualificado na medida em que teremos psicólogos, assistentes sociais, advogados, equipes de enfermagem, pedagogos que irão inserir essas pessoas não só nos direitos sociais que elas têm, mas também no acesso a riqueza e renda”, detalhou a representante da Semdh.
A solenidade teve início às 10h30 com a presença de parlamentares, o vice-prefeito de João Pessoa, Léo Bezerra, secretários de governo, além de representantes do Movimento LGBT da Paraíba, entidades de Direitos Humanos e órgãos governamentais parceiros.
João Azevêdo
Durante o evento, o governador João Azevêdo comemorou a inauguração da casa de acolhida e afirmou que é a continuidade das políticas públicas voltadas à população LGBTQIAP+ da Paraíba. “Essa ação tão importante da Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana faz parte da rede de proteção que queremos oferecer a toda a sociedade paraibana. Uma casa é o lugar que alguém terá para retornar e essa comunidade que não tinha para onde voltar, agora tem. Esse será o ambiente de proteção e cuidado disponível para esta população”, declarou.
Serviço essencial e de qualidade
O serviço é uma antiga reivindicação do movimento LGBTQIAP+ da Paraíba e será o primeiro espaço implantado no Estado como serviço essencial e de alta complexidade, coordenado pela Semdh.
Sobre isso, o gerente de Direitos LGBT da Semdh Fernando Luiz ressalta que no Brasil existem 12 casas de acolhida para a população LGBTQIAP+, mas são todas de Organizações não governamentais (Ongs), da sociedade civil, mantidas com o apoio de governos municipais ou estaduais. E a “Cris Nagô” é um espaço totalmente paraibano, criado com recursos do Tesouro estadual.
“É uma alegria imensa para o estado da Paraíba ter a oportunidade de inaugurar a primeira casa de acolhida para a população LGBTQIAP+ 100% pública destinada a atender este público em situação de rua, abandono familiar e em situação de violência doméstica”.
O gerente afirma que caso algum cidadão tenha conhecimento de que uma pessoa LGBT esteja nos critérios para ser recebida na casa, pode levá-la para os Centros de Referência em João Pessoa e Campina Grande que farão uma triagem e outros procedimentos necessários para que esta seja encaminhada ao acolhimento.
“As pessoas LGBT podem ser de qualquer cidade paraibana, pois a Rede Estadual de combate a LGBTfobia inclui prefeituras, coordenações de Creas e Cras. E as demandas automaticamente serão encaminhadas para o Centro de Referência mais próximo e essa pessoa é trazida para ser abrigada em João Pessoa, caso seja do interesse dela e ela não tenha apoio na sua cidade”, esclareceu Fernando Luiz.
Sobre Cris Nagô
Cris Nagô foi contramestra do Grupo Capoeira Nagô, da cidade de Campina Grande e foi uma referência da capoeira feminina da Paraíba, se destacando em uma atividade praticada majoritariamente por homens, em especial na década de 1990.
Naquele período, a presença feminina nas rodas de capoeira era pequena e Cris Nagô tornou-se um exemplo para outras mulheres nesta arte. Ela participou da primeira roda feminina de capoeira realizada no Ponto de Cem Réis, em João Pessoa, junto com a mestra Malu e as contramestras Luciana, Fabrícia, Silvia Sorriso e outras.
Cris Nagô sempre lutou pela presença e o protagonismo da mulher na Capoeira. Ela foi assassinada de forma brutal no dia 1o de fevereiro de 2020.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 22 de junho de 2022.