por Nalim Tavares*
Após dois anos longe dos festejos, as quadrilhas juninas se preparam para voltar aos arraiás. Emitido em janeiro, o anúncio de que o São João seria realizado este ano fez com que os grupos juninos precisassem se apressar para, em cinco meses, preparar a festa que, normalmente, organizam em um ano. No entanto, nem mesmo a corrida contra o tempo é capaz de ofuscar a alegria de, enfim, celebrar um São João presencial.
Em João Pessoa, a sensação de finalmente retomar os espetáculos é de felicidade para os brincantes. O presidente da Liga das Quadrilhas Juninas, Edson Pessoa, conta que “o sentimento de todas as quadrilhas é de alegria, de começar de novo. Estamos vivos, apesar de termos sofrido tantas perdas. Agora, podemos comemorar o São João de novo.”
Edson conta que, durante a pandemia, algumas quadrilhas organizaram lives e notaram um número de brincantes muito reduzido. Já o presidente da Associação de Quadrilhas Juninas de Campina Grande (Asquaju CG), Márcio Marques, diz que, devido aos custos altos, nenhum evento virtual foi planejado pela associação ao longo desses dois anos pandêmicos, mas ele também pôde perceber o número de brincantes diminuindo: “Algumas pessoas que dançaram em 2019, por exemplo, hoje tem filhos, tem outras responsabilidades, se comprometeram financeiramente com alguma outra coisa. Não há uma renovação de componentes suficiente para suportar todas as perdas que a gente sofreu com esses dois anos parados, praticamente sem nenhum tipo de movimentação do meio junino”.
Com a falta de movimentação do meio, veio também o cancelamento de patrocínios e parcerias com músicos e atores. Márcio conta: “A quadrilha Junina Cambebas, muito tradicional, antiga, do Bairro das Malvinas, fechou justamente por causa disso, por falta de componentes. Fora outros detalhes. Por exemplo, muita gente perdeu emprego, não tem renda para bancar seus figurinos, bancar seus custos. Esses vários pontos dificultaram bastante a nossa volta em 2022.”
Mesmo assim, o presidente da Asquaju CG comenta que “o sentimento de voltar a festejar, de voltar a fazer quadrilha, é proporcional ao momento do espetáculo: é um momento de alegria, de confraternização, de comemoração aos nossos santos juninos. Então não tem coisa que pague, não tem palavras que possam definir a emoção.” Segundo Márcio, durante os ensaios, é difícil para os membros das quadrilhas não dar vazão aos sentimentos: “o pessoal chora, porque realmente, a emoção é muito grande, muito forte. Ver, depois de dois anos, as quadrilhas voltando aos arraiás.”
Presidente da Associação Cultural Quadrilha Junina Lageiro Seco, do Bairro do Roger, em João Pessoa, Kleber Dantas fala da experiência inesperada pela qual o grupo passou durante a pandemia: “Algumas quadrilhas, inclusive a nossa, realizaram eventos virtuais. Nós promovemos lives em 2020 e 2021. Foi muito difícil, mas conseguimos. Não paramos, e isso é uma curiosidade, uma particularidade nossa.”
Kleber, que faz parte da Lageiro Seco há mais de 20 anos, já foi brincante, aderecista e já fez parte do conjunto musical da quadrilha, que é considerada a mais antiga do Brasil. Agora na organização, ele comenta: “Quando a gente fala de uma manifestação cultural que precisa de pessoas, a maior dificuldade é justamente essa, se adaptar para o meio virtual. Tivemos que nos conformar que não podíamos ver as pessoas, ficamos sem realizar os ensaios.” Depois do anúncio de retomada do São João presencial, Kleber conta como a quadrilha se organizou: “Começamos a ensaiar em fevereiro, ainda com máscaras e algumas restrições. A rotina de ensaio está bem puxada agora. Organizar a quadrilha é um trabalho de um ano. Assim que um espetáculo termina, a comissão se junta para planejar a do próximo ano. A gente não para.”
Uma das brincantes da Lageiro Seco, Karla Lins, confirma: “como já estamos há praticamente 30 dias do São João, estamos ensaiando bastante. Ensaiamos a noite e nos finais de semana.” Para ela, é difícil explicar o sentimento de, enfim, poder voltar ao palco: “É até difícil colocar em palavras. Há quem não compreenda, mas a sensação de voltar é maravilhosa. Ficar dois anos parada não foi nada fácil. A emoção é única, todo ano muda”.
No estacionamento do Almeidão
Em João Pessoa, o São João terá início com um festival de quadrilhas juninas, de 12 a 16 de junho, no estacionamento do estádio O Almeidão. Entre os dias 21 e 24 de junho, nomes como Elba Ramalho e Bel Marques estarão se apresentando no Parque Solón de Lucena, durante o São João Multicultural. Em Campina Grande, o São João está programado para durar um mês inteiro. Conhecido como “O Maior São João do Mundo”, marcado para acontecer de 10 de junho e 10 de julho, o evento tem animado os quadrilheiros, que não puderam se apresentar durante esses dois anos. “Todos estão ensaiando a pleno vapor”, conta Márcio Marques, da Asquaju CG. “Na verdade, todo mundo correndo contra o tempo, ensaiando até um pouco mais que o normal, porque nós vamos estrear no dia 9 de junho com o Festival das Estrelas Juninas, que é o festival onde se escolhe a Rainha do São João, o casal de noivos e o casal junino. São apresentações solo dos componentes, e todo mundo tem que estar pronto daqui até lá”, disse.
Ele conta que, assim que a retomada presencial dos festejos juninos foi anunciada em Campina Grande, as quadrilhas da cidade começaram logo a ensaiar: “a gente não sabia se ia ter festa ou não. E aí, quando foi decidido que o São João realmente iria acontecer, no começo do ano, nós começamos a ensaiar.” Os quadrilheiros, emocionados com a volta da festa, estão se esforçando ao máximo: “todo mundo ensaiando muito nas sextas, aos sábados, nos domingos, e às vezes alguns estão ensaiando na terça também. Cada ensaio tem de três a quatro horas, porque se não for dessa forma não fica pronto para o dia 9 de junho”. A expectativa é que, em 2023, com o retorno de patrocínios e parcerias, as escolas fechadas por falta de recursos, como é o caso da Cambebas, possam voltar a se apresentar e deslumbrar o público.
Enquanto isso, fica o sentimento de expectativa para a chegada do São João, cada vez mais próximo. Para as quadrilhas que vão se apresentar, Márcio conta que essa é uma chance de “manter viva, manter ainda mais viva a chama da nossa tradição.” E, apesar das histórias diferentes, para Kleber Dantas, da Lageiro Seco, o sentimento é parecido: “É uma sensação de resgate, de ressurgir, depois de tanto tempo, diante dos olhos do público, estar junto com as pessoas.”
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 15 de maio de 2022