As irmãs Rafaela e Ramona Henrique, quilombolas da Comunidade de Cruz da Menina, no município de Dona Inês, a 144km de João Pessoa, estão promovendo uma experiência para os turistas que reúne sabor, música e paisagem: é o Café Quilombola.
Num dos lugares mais bonitos da cidade, ponto turístico histórico do município, a Cruz da Menina, onde se visualiza as serras da região e um lindo pôr do sol, elas servem um café típico com tapioca de coco, cocadas, doces, pé-de-moleque, torradas, geléias de frutas como umbu, maracujá com cachaça, manga, tudo feito na comunidade, e um beiju saboroso que tem um segredo que elas não contam. Para tornar a experiência completa, o super café acontece ao som de uma banda de pífanos, formada pelos jovens Douglas Darlan, José Wesley Mane e Gilcleyson Teófilo, moradores do quilombo.
A ideia do Café Quilombola surgiu durante uma reunião da comunidade com o secretário de Cultura e Turismo do município, Josenildo Fernandes, e, imediatamente, aceita com empolgação pelas irmãs quilombolas. Rafaela diz que fazer o Café Quilombola a deixa feliz e quer inspirar mais pessoas da comunidade a criar outras iniciativas: “No futuro, a gente pensa em ter um lugar para o café e já estamos expondo o artesanato feito de crochê, argila. Foi um incentivo para a comunidade, que tinha um pouco de insegurança. A venda das peças de argila tem sido muito boa. Queremos resgatar algumas tradições”.
Os turistas e visitantes ficam encantados com a experiência do Café Quilombola na Cruz da Menina, e para participar é preciso fazer reserva através do Instagram @turnaserra ou @jf_turismo_pb. A representante do Ministério da Cultura na Paraíba, Rejane Nóbrega, já participou duas vezes. “Com a realização do café, as mulheres quilombolas estão tendo oportunidade de mostrar a cultura alimentar delas com essa iniciativa incrível, incentivada pela prefeitura. E você vê a alegria delas, e, associado ao horário, que é durante o pôr do sol, é um ativo turístico e cultural muito importante para o município. É sempre um momento de muita beleza e descontração. A comunidade envolvida, e promovendo a valorização do trabalho das mulheres, que é muito importante para a autoestima. Todos estão de parabéns”.
A Comunidade Quilombola de Cruz da Menina começou a ser povoada por volta de 1850, e, antes, tinha o nome de Tapuio. A denominação de Cruz da Menina veio oficialmente em 1956. O nome do local foi mudado em homenagem a menina retirante do Sertão, Dulce, de sete anos, que na seca de 1877, morreu de fome e sede, onde atualmente existe uma cruz, a famosa Cruz da Menina. Depois foi construída uma pequena capela, e todos os anos, no dia 1o de novembro, são feitas peregrinações com a presença de romeiros e muitas promessas são pagas por pessoas que acreditam que a menina Dulce é uma santa.
A comunidade é composta por 117 famílias e foi reconhecida como remanescente de quilombo em 2008, possibilitando a seus habitantes um acréscimo de autoestima reconhecendo suas origens e valorizando elas.
Em 2009 foi criada a Associação Remanescente de Quilombo da Cruz da Menina, com objetivo de defender e fortalecer a comunidade, atualmente presidida por Bianca Cristina da Silva.
Rafaela, Ramona e Bianca reconhecem que existe um grande potencial a ser explorado. O ateliê do escultor Sérgio Teófilo já é uma atração na comunidade. Juntos, todos estão incentivando a arte e a cultura, com o resgate da produção de cerâmica do Grupo Negrargila, dos grupos de Dança Negra Dulce e Oxumaré, grupo “Costurando Raízes”, mulheres que criam camisetas, almofadas, peças em fuxico. O início de uma nova fase na história da Comunidade Cruz da Menina começou e dará visibilidade e valorização à cultura da etnia afro-brasileira.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 24 de agosto de 2023.