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varicela

Reações diferentes à mesma doença

publicado: 19/11/2024 09h01, última modificação: 19/11/2024 09h01
PB teve quatro surtos do vírus, em 2023, contra um, em 2024; em quase uma década, país teve mais de 335 mil casos
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Doença atinge os adultos de forma mais potente do que as crianças, que saram mais rápido | Foto: Divulgação/Freepik

por Emerson da Cunha*

Quando a filha de 11 anos contraiu catapora (ou varicela), em 2011, Ricardo Araújo se preocupou. Como não tinha certeza se havia tido a doença durante a infância — a mãe da criança, sim —, ele se isolou da filha quando apareceram as primeiras feridas no corpo dela. O que ele não imaginava é que a contaminação da catapora também pode acontecer quando a pessoa ainda está assintomática. Então, no fim da janela de 20 dias de contaminação da filha, a catapora também chegou ao pai.

“Na aula, a professora pediu um texto jornalístico sobre qualquer assunto, a partir de um banco de dados. Como minha filha estava em tratamento, decidi pegar dados do Ministério da Saúde e fazer matéria sobre a catapora. Enquanto lia o material, já senti o corpo mole, mas pensei que fosse estresse. Então, quando vi que a pessoa pode contrair a catapora dentro de até 20 dias, contei os dias e ‘buguei’ — eu estava no 19o dia. Saí da sala pensando nisso e já com medo de contaminar os colegas. Nesse dia, dormi isolado. No outro dia, eu me acordei todo manchado. A catapora se manifestou no 20o dia”, conta.

O que mais chamou a atenção de Ricardo foi a diferença na forma como a doença se processou nele e na filha. “Em mim, ela se manifestou de três a quatro vezes pior do que na minha filha. Nela, além de terem sido poucas feridas, em uma semana, já estava tudo secando. No meu caso, atingiu costas, peito, virilha e pernas, além de ter durado umas três semanas”, lamenta.

De fato, a doença atinge os adultos de forma muito mais potente do que as crianças, segundo a infectologista Júlia Chaves, do Complexo de Doenças Infectocontagiosas Clementino Fraga. Ela explica que, em crianças, há menos febre e complicações, enquanto os adultos têm lesões em maior número — às vezes, por todo o corpo —, o que dificulta a cicatrização e prolonga a ocorrência de febre.

Ela também lembra que o vírus varicela-zoster, que causa a catapora, fica adormecido. Então, quando adultos, esse vírus pode ser reativado e vir não como a catapora comum, que são essas vesículas espaçadas, mas como a herpes zoster. “Ela pega todo o nervo, podendo haver sequela de dor crônica”, diz Júlia.

 O que é

A catapora é transmitida por meio do contato com gotículas de saliva e com as úlceras (ou bolhas) que aparecem na pele. Os principais sintomas são febre, lesões de pele tipo vesícula, que podem vir acompanhados de dor de cabeça e indisposição. “Quando essas bolhinhas se rompem, o líquido que há dentro delas escorre. Se outra pessoa tiver contato com esse líquido, pode pegar o vírus”, explica a infectologista. De acordo com a médica, o período de maior ocorrência da catapora é o mais frio, em que as pessoas têm mais contato umas com as outras, em lugares mais fechados, facilitando a contaminação.

 Números

Entre 2015 e 2024, no Brasil, foram notificados mais de 335 mil casos de catapora, segundo o Ministério da Saúde. Este ano tem apresentado o menor número de registros (até junho), concentrando 4.624 (1,4%) casos da série histórica. Entre as faixas etárias com maior incidência estão de cinco a nove anos (32,2%) e de um a quatro anos (27%). Na Paraíba, neste ano, foram notificados 25 casos de varicela pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), contra 22, em 2023. Não foram registrados óbitos em nenhum dos dois anos, mas foram detectados quatro surtos, no ano passado, e apenas um, neste.

No mesmo período, registraram-se mais de 45 mil internações no país. O Nordeste respondeu por 9.943 (21,6%) delas, ficando em segundo lugar no número de internações entre as regiões brasileiras. A maior parte do número de notificações abrange as crianças, enquanto as internações são lideradas por pessoas idosas. Elas se concentram nas faixas etárias de 60 a 69 anos, com 12,9% das internações; 70 a 79 anos, com 12,7%; e na população com mais de 80 anos, com 12,6%. Apesar disso, são os adultos, proporcionalmente, que apresentam mais risco de evoluir com complicações, hospitalização e óbito.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de novembro de 2024.