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Samu registra mais de sete mil trotes

publicado: 10/07/2024 09h01, última modificação: 10/07/2024 09h01
Falsas ocorrências sobrecarregam central de atendimento e atrasam prestação de socorro a vítimas reais
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No ano passado, cerca de 9% das chamadas telefônicas reportavam falsas emergências | Foto: Divulgação/Semob-JP

por Paulo Correia*

Os trotes aos serviços de atendimento de emergência ainda são uma prática expressiva. De acordo com dados do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), foram registrados 7.042 trotes no primeiro semestre na Paraíba. Em 2023, foram constatados 22.169 falsos chamados, o que representou aproximadamente 9% das 245.870 chamadas recebidas pelo serviço.

"Tempo e recursos gastos por causa de trotes afetam diretamente a eficiência operacional do serviço"
- Natália Siqueira

A médica e coordenadora médica do Samu, Natália Siqueira, destaca que os trotes têm potencial de atrasar o socorro a pessoas em situações críticas, comprometendo não só os usuários do serviço, como também toda a equipe. “O tempo e os recursos gastos em trotes afetam diretamente a eficiência operacional do Samu. Em 2023, foram perdidas 22.169 oportunidades de atender a emergências reais devido a trotes. Além disso, o número elevado de trotes sobrecarrega a central de atendimento e pode causar frustração entre os profissionais, afetando a moral da equipe”, alerta.

Conforme a coordenadora, algumas medidas de combate aos trotes foram adotadas pelo serviço, como campanhas educativas, investimentos em sistemas para identificar e bloquear chamadas falsas, além de treinamento dos Auxiliares de Regulação Médica (ARM) — profissionais que recepcionam o chamado, sendo responsáveis pelo primeiro contato com o solicitante. Tais medidas contribuíram para a redução dos trotes em 49%, no comparativo entre junho de 2023 — quando foram registrados dois mil trotes — e  junho de 2024 — quando o Samu contabilizou 979 chamados falsos.

“A redução no número de trotes em 2024 é um sinal positivo de que as medidas adotadas estão funcionando. No entanto, é crucial continuar os esforços para eliminar completamente os trotes, garantindo que os recursos do Samu sejam utilizados de maneira eficaz para atender emergências reais”, destacou Natália Siqueira.

Atitude criminosa

O enfermeiro do Samu Aerton Meireles conta que já presenciou diversos tipos de trote. Dentre os casos, ele recorda a vez que um homem simulou uma situação de emergência para atrair o Samu para um tipo de atendimento que não é de competência do serviço.

"Houve uma denúncia de uma idosa baleada.Quando chegamos ao local, ela estava assistindo à TV "
- Aerton Meireles

“Houve uma denúncia a respeito de uma idosa que teria sofrido dois tiros em um bairro aqui de João Pessoa. Fomos ao endereço citado, entramos na residência e encontramos a idosa na sala, assistindo à televisão.  Eu perguntei para o rapaz que fez a ligação: ‘onde foram esses tiros?’, e ele me respondeu: ‘eu só queria, na verdade, que vocês verificassem a pressão da minha avó, porque se eu dissesse que era isso, vocês não vinham’. Eu disse a ele que a gente não iria porque isso não seria serviço para o Samu, não era uma urgência, nem emergência”.

O profissional alerta que o autor de um trote pode ser, indiretamente, responsável pela morte de uma pessoa, em razão da mobilização de uma equipe médica para a prestação de uma ocorrência fictícia enquanto uma vítima verdadeira espera por atendimento. Por essa razão, passar trote para telefones de utilidade pública é crime previsto no Código Penal Brasileiro e pode resultar em penalidades legais, como detenção e multa.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de julho de 2024.