A cidade que ensinou o Brasil a dançar forró, Santa Luzia é o último destino da Rota dos Festejos Juninos Vale dos Sertões. Referência cultural no Vale do Sabugi, a cidade proporciona ao visitante um turismo de experiência ao conhecer as louceiras da Serra do Talhado, além do autêntico forró pé de serra. É possível conhecer também o Haras Pedro Miguel, desfrutando da beleza da paisagem rural.
A gestora de turismo e economia criativa do Sebrae-PB, Regina Amorim, comenta as potencialidades de Santa Luzia que agregaram valor à Rota dos Festejos Juninos. “As louceiras de barro da associação enriqueceu muito o roteiro pelo contexto histórico e cultural da comunidade quilombola. A experiência do turismo rural no Haras Pedro Miguel também agregou valor - único espaço equestre da região. Sem falar na alegria diferenciada e acolhimento do povo de Santa Luzia”, destacou.
De acordo com o gestor de Turismo, Esporte e Juventude de Santa Luzia, Gabriel Nóbrega, Santa Luzia foi a primeira cidade da Rota de Festejos Juninos a ser inserida no Mapa de Turismo Brasileiro. “Quando o município é inserido no Mapa passa a receber recursos para fomentar o turismo na cidade”, declarou.
Serra do Talhado
A cidade de Santa Luzia do Vale do Sabugi é riquíssima em cultura, seja na música, na dança, nas artes ou na culinária -- Simone Augusta
Em 1960, o cineasta Linduarte Noronha produziu o filme documentário Aruanda - considerado um dos marcos do movimento Cinema Novo. O filme narra o cotidiano da comunidade Serra do Talhado, em Santa Luzia. A produção de peças em barro, retratada no filme Aruanda, sobrevive até hoje. Este legado atravessa gerações da cultura e resistência da comunidade quilombola. Santa Luzia também é conhecida por ser terra de grandes sanfoneiros.
A produção das panelas de barro era feita no quilombo, mas a associação migrou para a cidade, para facilitar as vendas aos turistas. Na apresentação, a presidente da Associação Comunitária das Louceiras Negras da Serra do Talhado, Girleide Ferreira, menciona duas líderes quilombolas que deixaram seu legado: Rita Preta e Maria do Céu. “Rita Preta, minha avó, foi uma mulher guerreira que incentivou as mulheres a propagarem a cultura do quilombo. Já Maria do Céu cuidava da administração, mas foi vítima de feminicídio pelo companheiro, em 2013. Para continuar o legado dessas mulheres, assumi a associação há 10 anos”, contextualizou. Na visitação, os turistas podem experienciar uma oficina de barro com as louceiras.
A representante da CriativaTurismo, Carmen Moreira, admira a cultura, arte e ancestralidade da cultura quilombola. “A oficina das Louceiras é uma experiência muito interessante para o turista. Compreender o processo de fabricação e poder levar para casa uma panela de barro também, mas o turista também deve ter a opção de peças menores, para servir de lembrancinha. A minha única crítica é o amadorismo na cobrança dos valores das peças”, disse.
Museu tem mais de 30 mil peças catalogadas
O museu comunitário Jeová Batista de Azevedo foi inaugurado em 1971, quando Santa Luzia fez 100 anos de emancipação política. Com mais de 30 mil peças catalogadas, o espaço tem um acervo rico em documentos, moedas, fotografias, armas e bens culturais doados por pessoas da região. O Museu proporciona uma verdadeira imersão sobre a história e cultura da cidade, com foco no São João de Santa Luzia - a cidade que ensinou o Brasil a dançar forró.
O São João em Santa Luzia vai completar 83 anos no dia 23 de junho. O historiador Romerito Moraes explica que a festa popular não é vinculada a nenhum padroeiro, mas sim uma característica cultural. “As pessoas vinham pra cá pra brincar São João, mas a missa do padroeiro só aconteceu há 32 anos. Quando o São João fez 50 anos, começou a ser popularizada a cultura de Santa Luzia, por ter ocorrido 30 dias de festa pública.
Haras Pedro Miguel
O Haras Pedro Miguel, localizado na zona rural, é conhecido pela tradição equestre na região, onde o turista poderá experienciar o contato com a natureza através do turismo rural, como andar a cavalo, descansar na rede instalada na baia para cavalos ou conhecer a extensão da propriedade em um Pau-de-arara, transporte bem rudimentar utilizado no século passado.
A proprietária do Haras, Dora Nóbrega, conta que o Sebrae-PB ampliou os horizontes do seu negócio. “O Sebrae não dá o peixe, mas ensina a pescar. Foi a partir desses diálogos sobre o plano turístico de Santa Luzia que eu percebi que podia criar novas oportunidades, baseado na economia criativa, geração de emprego e renda, valorizando a cultura do Sertão”, disse.
Grupo de dança Maria Bonita
Há 14 anos, o grupo de dança Maria Bonita surgiu quando a professora Simone Augusta percebeu a necessidade de inserir cultura e valores nas crianças e adolescentes de uma escola. “A tradição é um aspecto importante quando falamos em cultura, responsável por manter costumes e valores. A cidade de Santa Luzia do Vale do Sabugi é riquíssima em cultura, seja na música, na dança, nas artes ou na culinária”, disse Simone.
Na Rota dos Festejos Juninos foi apresentado o coco de roda com batidas de pés e mãos. “O coco de roda Mané de Bia é uma cultura e tradição de Santa Luzia. Na performance, as alunas dão as mãos e circulam em giros com a batucada e cantigas”, explicou Simone, responsável pelo grupo Maria Bonita.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 31 de março de 2024.