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Sistema de trens terá novas estações

publicado: 12/05/2025 09h56, última modificação: 12/05/2025 09h56
Preço acessível, no valor de R$ 2,50, leva cerca de três mil pessoas a usarem os serviços da CBTU diariamente
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A população de baixa renda é o principal público do serviço de trens urbanos em João Pessoa, sobretudo aqueles que moram nas regiões às margens da linha férrea | Foto: Roberto Guedes
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Foto: Marcos Russo/Arquivo A União
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por Samantha Pimentel*

Diariamente, cerca de três mil passageiros usam o serviço de trens urbanos na Grande João Pessoa, seja para ir ao trabalho ou para atividades de lazer. São 30 km de linha férrea, que percorrem quatro municípios paraibanos — a própria capital, Santa Rita, Bayeux e Cabedelo. Vinte e seis viagens são feitas todos os dias, de segunda a sexta-feira, e outras 14 aos sábados, quando o horário de funcionamento é encerrado às 12h.

Os caminhos por onde, no passado, viajavam as locomotivas, principais responsáveis pelo transporte de cargas, impulsionando o desenvolvimento econômico da região, hoje dão lugar aos Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), levando e trazendo passageiros, sob a responsabilidade da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Com mais conforto, dos assentos até a climatização, o valor do serviço é de R$ 2,50, bastante acessível, sobretudo se comparado com a passagem de ônibus.

O gerente operacional da Companhia, Othomagno Viegas, fala que, desde a criação da CBTU, em 1984, o número de estações foi ampliado para melhor atender à demanda. Ele conta que no início eram oito estações, depois nove, e atualmente são 13. Complementa dizendo que, para o fim de 2026, está prevista a construção de três novas estações: uma em Bayeux; outra no bairro Roger, em João Pessoa; e uma em Tibiri, Santa Rita. Segundo Viegas, reformas também estão em planejamento, sob a responsabilidade do pessoal da engenharia. Atualmente, das estações em funcionamento, duas ficam em Santa Rita, uma em Bayeux, quatro na capital, e as demais estão localizadas em Cabedelo.

Com a chegada dos VLTs, em 2014, o sistema foi modernizado, substituindo as antigas locomotivas. Othomagno informa que a licitação feita para a compra previa 20 veículos, que seriam divididos entre João Pessoa e Natal. Oito ficariam na capital paraibana e 12 na potiguar; no entanto, descumprindo o acordo estabelecido, foram entregues apenas cinco para cada uma das cidades, o que resultou na extinção do contrato.

O novo e o velho

O gerente operacional conta que os VLTs começaram a operar aqui em 2015; contudo, as antigas locomotivas não foram totalmente retiradas de circulação e elas são usadas em situações onde é preciso atender a uma demanda maior. “Pela população achar melhor, mais confortável, e de fato é, fomos tirando de circulação o sistema mais antigo e mais pesado, as locomotivas, e só colocamos nos casos de necessidade. No VLT conseguimos transportar 600 pessoas; com a locomotiva e os carros de passageiros disponíveis, dá para transportar mil pessoas”, explica. Ele diz, porém, que esses casos são exceções, situações pontuais, e que cotidianamente não existe esse volume de passageiros. 

Segurança

A tecnologia empregada nos VLTs também ajuda a garantir maior segurança para o transporte. Viegas conta que, enquanto nas locomotivas a velocidade não era interrompida e a tendência seria sempre aumentar, nos VLTs ela é descontinuada por um dispositivo com o objetivo de evitar que o transporte ande muito rápido. “A gente definiu alguns parâmetros. Um exemplo são as passagens de nível oficiais; nesses casos os veículos estão definidos a passar, em todas elas, numa velocidade de 30 km/h”, informa.

Quanto ao trabalho de manutenção, o gerente da CBTU diz que é feito de forma constante, por meio da oficina localizada em Cabedelo. Em geral acontece um revezamento: dois VLTs circulam simultaneamente, enquanto outros dois são inspecionados, de forma preventiva e/ou corretiva. Viegas explica que “é feita toda revisão da parte de frenagem, tração, porta, tudo que diga respeito ao veículo estar em perfeito funcionamento”, destacando que cada um deles tem uma numeração para facilitar o controle. Informa que as manutenções mais minuciosas são feitas semanal, mensal ou trimestralmente, e aos sábados, nos horários em que não há operação; nesses momentos é possível fazer os serviços mais pesados, que requerem a interrupção total da circulação dos trens.

Elogios da população

Uma pesquisa realizada pela CBTU, entre os usuários do sistema, no período de 17 a 30 de novembro de 2024, apontou que as pessoas usam o serviço, majoritariamente, em função do trabalho (41%). Os passageiros também são, em sua maioria, pessoas com baixa escolaridade, com idades de 35 até 44 anos e que escolhem esse meio de transporte em razão da economia e rapidez.

As irmãs Cristina Simões e Cristiane Simões residem no Colinas do Sul, em João Pessoa, e contam que usam os trens urbanos para ir visitar a mãe, em Cabedelo. “Gosto muito, é bom. Uso há mais de três anos, desde de que ela [a mãe] foi morar lá. Não atrasa, sai na hora”, afirma Cristina.

Edilma Cristina dos Santos diz que usa o serviço pelo menos uma vez por mês, quando sai de Cabedelo, onde reside, para a capital paraibana. “Venho e volto de trem. É ótimo! Eu acho mais confortável, tem ar-condicionado, não vem no calor, não tenho do que reclamar”, conta ela.

Edmilson Camilo estava utilizando o trem pela primeira vez. Ele mudou-se para Santa Rita há cerca de quatro anos. Antes, vinha a João Pessoa de ônibus ou transporte alternativo, mas resolveu testar a viagem ferroviária. “Eu achei melhor, porque venho no ar-condicionado, e é mais em conta também o valor. E achei rápido: de Santa Rita para cá, deu 24 minutos. Melhor do que o ônibus e até mesmo do que o próprio táxi”.

Preço

O baixo custo do serviço é um dos grandes atrativos para a população. Othomagno explica que a permanência do valor da passagem em R$ 2,50 só é possível graças ao auxílio do Governo Federal. “Nenhum transporte ferroviário no mundo sobrevive sem subsídio”, informa ele, comentando o quanto os custos de tudo que envolve o sistema são elevados.

O especialista em mobilidade urbana Nilton Pereira reforça que, sem o aporte de recursos públicos, esse tipo de transporte não sobreviveria, e destaca que o sistema de trens urbanos que hoje circula na capital paraibana é importante para atender às necessidades da população mais vulnerável, sobretudo aquelas que ocupam as margens do traçado da linha férrea.

“Foi uma coisa muito boa essa retomada dos trens. Ele foi utilizado, por muito tempo e chegou a transportar 30 mil passageiros por dia, nos anos 1980, mas hoje, mesmo com todas as adaptações e a melhora na qualidade, o número de pessoas que utilizam o serviço reduziu bastante. Isso porque há a concorrência também com o transporte alternativo”, explica ele, comentando que o traçado do trem é rígido e não permite adaptações, diferente do que ocorre com o transporte alternativo, que muitas vezes busca as pessoas na porta de casa, deixando-as no destino desejado.

Intervenções influenciam nas operações e produzem riscos

Além do custo elevado para se manter em funcionamento, o sistema de trens urbanos de João Pessoa enfrenta outros desafios, como as intervenções da população que afetam a boa qualidade e prestação dos serviços. Entre as ações da população, está a abertura de passagens de nível clandestinas, feitas para atravessar a linha férrea de um lado a outro, e a ocupação da faixa de domínio em torno da via, seja por residências ou comércios. O gerente da CBTU informa que o setor de engenharia da Companhia está refazendo um estudo fotogramétrico para identificar as áreas mais críticas quanto às ocupações e passagens irregulares. “O trecho de maior incidência dessas ocupações é em Cabedelo, justamente porque é onde temos a maior parte da linha férrea; quase a metade está lá. Quando se passa em Salinas Ribamar, por exemplo, já tem uma invasão, Renascer tem outra, Jacaré também. Mais para a frente, a chamada comunidade do Carandiru, próximo ao IFPB, tem outro adensamento. Eles foram se alocando às margens da linha, o que para nós é um câncer”, comenta.

Mais um problema trazido pelas ocupações é o acúmulo de lixo. Viegas informa que podem ser encontrados entulhos de diversas naturezas, “carcaça de geladeira, sofá, TV… toda sorte de detrito doméstico, e isso não é produzido pela circulação do trem. Até porque as janelas do VLT não conseguem ser abertas. Ele é produzido pela comunidade que está naquele entorno e depositado sobre a via. E completa: “O nosso pessoal da comunicação vive em campanha permanente sobre isso, mas ainda temos muita invasão de faixa de domínio, o que é um problema para a operação”, conclui.

Tudo isso contribui para a ocorrência de acidentes e prejudica a segurança da população. Segundo dados da CBTU, em 2024 foram registrados 22 acidentes, entre colisões e atropelamentos na linha férrea, e esse número pode ser reduzido com a maior conscientização da população.

História

O início da ferrovia paraibana deu-se ainda no Período Colonial, quando a princesa Isabel, em 1871, por meio de decreto, concedeu aos bacharéis Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque e Anísio Salatiel Carneiro da Cunha e ao engenheiro André Rebouças o privilégio de construir e explorar a estrada de ferro Conde D’Eu, ligando a sede da Província à vila de Alagoa Grande, com ramais para as linhas de Ingá e Independência (antigo nome da cidade de Guarabira). Essa primeira iniciativa não foi executada e apenas em 1880 foi iniciada a construção da estrada de ferro. No ano seguinte, um trecho de 30 km ligando João Pessoa à localidade Entroncamento, em Sapé, foi inaugurado sob o domínio da Companhia Estrada de Ferro Conde D’Eu, do Brasil Imperial. De Entroncamento, a estrada dividia-se para o norte, chegando até Mulungu, em 1882.No ano de 1884, a linha férrea chegou à Guarabira, de onde prosseguiu para Nova Cruz, no Rio Grande do Norte, e daí até Natal. Ao sul, parou em Pilar, em 1883.

A ligação da capital paraibana com o Porto de Cabedelo só aconteceu em 1889. Após a proclamação da República, a via férrea avançou pouco: foram construídos apenas os trechos de Mulungu a Alagoa Grande. Em julho de 1901, o Governo Federal arrendou a ferrovia para a empresa inglesa Great Western Railway, que construiu um ramal de Pilar a Timbaúba, em Pernambuco, e completou o trecho de Guarabira a Nova Cruz, no Rio Grande do Norte. O trem chegou a Campina Grande em 1907.

A Great Western operou até 1957, quando o Governo Federal criou a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA). Em 1982, ainda sob o controle da RFFSA, o sistema de trens urbanos para transporte de passageiros foi reativado na Paraíba. Em 22 de fevereiro de 1984, foi criada a CBTU (Decreto-lei no 89.396), vinculada à Secretaria Nacional de Transportes do Ministério dos Transportes. Em 1o de julho de 1995, foi instalada a Gerência de Trens Urbanos de João Pessoa, desmembrada da Superintendência de Trens Urbanos de Recife. A Estação de João Pessoa foi construída em 1889; arquitetonicamente, tinha um estilo eclético, com muitos janelões e uma entrada principal. Na década de 1940, o prédio foi derrubado e substituído pela atual construção, inaugurada em 10 de novembro de 1942, com características do estilo modernista.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de maio de 2025.