Notícias

alto sertão

Um convite aos recantos e eventos de Bom Sucesso

publicado: 25/06/2024 11h48, última modificação: 25/06/2024 12h17
Ex-distrito de Jericó, município prospera com agropecuária, mas também oferece atrativos turísticos
Foto 7.JPG

A Igreja de São José foi erguida em 1941, bem antes da emancipação da cidade, em 1963 | Foto: Ray Almeida/Arquivo pessoal

por Lara Ribeiro*

Sendo a cidade do Alto Sertão paraibano mais distante de João Pessoa, a cerca de 460 km da capital, Bom Sucesso situa-se em terras que, em meados de 1875, pertenciam às fazendas Santo Antônio, Catolezinho e São Bento. Naquele mesmo ano, o povoamento local cresceu, devido à instalação de um galpão no Sítio Bom Sucesso, onde se realizava semanalmente uma feira e eram celebradas missas. Apenas em 1941, porém, foi construída a Igreja Matriz de São José Operário, que se tornaria o padroeiro do município. Este, por sua vez, nasceu como distrito subordinado a Jericó, em 1959, também pertenceu a Catolé do Rocha em outro momento. Conquistando sua emancipação política em 1963.

"O lugar era um ponto de apoio para viajantes, onde poderiam descansar. Então, começaram a ficar mais tempo e surgiu um povoado"
- Ray Almeida

“Ao que se sabe, Bom Sucesso era um ponto de apoio para viajantes, onde eles poderiam descansar um pouco. Então, começaram a ficar mais tempo e, assim, foi surgindo um pequeno povoado”, explica o secretário de Cultura da cidade, Ray Almeida. Segundo ele, o nome do município deriva do fato de que um desses desbravadores, possivelmente o mais influente, seria devoto de Nossa Senhora do Bom Sucesso. “Conta-se que ele se referia ao lugar como um espaço para veneração da santa católica, o que mais tarde veio a dar nome ao local”, relata.

Bom Sucesso possui uma população de 4.661 pessoas em um território de 186,059 km², conforme dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Suas principais fontes de renda são atividades agropecuárias: a cidade produz, principalmente, feijão, milho e capim, além de ser uma grande produtora de pecuária leiteira no estado. De acordo com o secretário de Cultura, o comércio local também impulsiona a economia bonsucessense. “Os aposentados e pensionistas do INSS também representam uma grande parcela do município. Órgãos públicos municipais, estaduais e federais empregam um bom número de pessoas também”, destaca Ray.

Festas e congressos religiosos reúnem visitantes da região 

Segundo a professora Damiana Delmira, Bom Sucesso apresenta, entre seus pontos turísticos, belezas naturais, como a Serra do Maxixe (ou Serra da Repetidora), que oferece uma boa vista da cidade. Outro destaque do turismo local é um curioso atrativo histórico: o Museu José Matias, criado pelo estudante Alciane Alves. O jovem fundou a instituição em 2019, utilizando objetos antigos de sua família e itens doados pela população do município para representar costumes de outras épocas na região, como moedas e até uma geladeira a gás de cozinha.

“Sempre me interessei por coisas antigas. Um dia, ganhei um ferro a brasa e gostei. Fui conseguindo mais peças até que minha mãe me deu um quarto para organizá-las. Depois, minha avó veio morar com a gente, e o museu passou a ser na casa dela. Resolvi fazer um museu de verdade, o primeiro de Bom Sucesso. Botei o nome de José Matias em homenagem ao meu bisavô”, informa Alciane. “O museu serve para nos relembrar nosso passado, nossas melhores lembranças”, define o jovem, que disse já ter recebido, inclusive, uma excursão escolar no local. O Museu José Matias, segundo Alciane, não tem horário fixo de funcionamento, mas, no período da tarde, costuma ficar aberto das 13h às 17h.

De acordo com o secretário de Cultura, porém, o turismo religioso é o maior destaque na cidade. “Festas religiosas dos padroeiros de cada comunidade e do próprio padroeiro do município, São José Operário, atraem inúmeros fiéis para os eventos que acontecem no mês de março. As igrejas evangélicas também realizam congressos e encontros que envolvem várias cidades do Sertão paraibano”, revela Ray Almeida.

A maioria da população bonsucessense, a propósito, é católica. Além da Igreja de São José, o município conta com capelas, santuários e uma localidade onde se acredita que Nossa Senhora da Salete tenha aparecido a dois agricultores. O segundo maior aglomerado religioso é o evangélico protestante, das igrejas Assembleia de Deus, Congregacional, Batista e Congregação Cristã no Brasil; mas, destas, somente a Assembleia tem congregações espalhadas por comunidades da cidade.

Ainda conforme o secretário, outro evento local de amplo alcance é a festividade de emancipação política de Bom Sucesso, celebrada no dia 17 de junho, que inclui não apenas programações religiosas, mas juninas e escolares, além de um show de grande porte. 

Figuras ilustres 

Escritora e pedagoga, Margarida recebeu o título de Cidadã Bonsucessense por sua dedicação à educação municipal | Foto: Raniere Araújo Silva/Arquivo pessoal

Entre as figuras ilustres de Bom Sucesso, de acordo com a professora Damiana Delmira, dois merecem destaque: além de Cícero Ferreira da Silva, um dos fundadores da cidade, ela aponta a escritora e pedagoga Margarida Costa de Lima. Apesar de ter nascido em Catolé do Rocha, em 1939, Margarida reside em solo bonsucessense desde 1963, ano de emancipação da cidade, onde trabalhou na área da educação por 25 anos. Em reconhecimento ao seu compromisso com o desenvolvimento do município ao longo de sua carreira, ela foi homenageada com o título de Cidadã Bonsucessense, concedido pela Câmara Municipal de Bom Sucesso, em 1992.

“O que me satisfaz é ter a sensação de missão cumprida, pois todo o meu envolvimento foi para que as pessoas crescessem com conhecimento, postura social e se tornarem, através do meu esforço, cidadãos e cidadãs de bem. O que eu desejava era uma sociedade alicerçada pela formação educacional e social do seu povo”, explica Margarida.

Margarida Costa de Lima diz ter levado 12 anos para concluir seu livro sobre a história de Bom Sucesso, publicado há dois anos

Aos 80 anos, a escritora lançou, em abril de 2022, o livro “Bom Sucesso: A cidade que eu vi nascer”, obra de fôlego, em que buscou registrar toda a história da cidade. “Eu mergulhei em um mundo de pesquisas, li várias obras de historiadores das cidades circunvizinhas e fiz várias entrevistas. Passei 12 anos escrevendo”, revela.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de junho de 2024.