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disputa em joão pessoa

Articulação domina pré-campanha

publicado: 19/03/2024 10h01, última modificação: 19/03/2024 14h51
Políticos mobilizam partidos em busca de definição de nomes; o trabalho nos bastidores é intenso e lento

por Filipe Cabral*

A pouco menos de sete meses para as Eleições 2024, o quadro eleitoral da disputa pela Prefeitura de João Pessoa segue cercado de indefinições.

Até o momento, o atual prefeito e pré-candidato à reeleição pelo Progressistas, Cícero Lucena, tem despontado como o principal nome do certame, com o apoio declarado de outros sete partidos em torno de sua candidatura. Na última quinta-feira (14), o PCdoB anunciou que se somará à lista que já contava com PV, PSD, PSB, Rede, Solidariedade e Agir. O anúncio, além de reforçar a candidatura do atual chefe do Executivo municipal, enfraqueceu ainda mais a possibilidade de uma candidatura do Partido dos Trabalhadores (PT), isolando-o até mesmo dentro da própria federação que forma com PCdoB e PV.

"A candidatura de Cícero Lucena é competitiva por estar com a máquina do governo municipal"
--  José Marciano

A decisão se o PT concorrerá ou não ao Executivo na capital deve ser divulgada apenas na próxima semana. Na última quinta-feira, o Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) nacional enviou um comunicado ao diretório estadual adiando a discussão da tática eleitoral para o dia 26. A orientação foi acatada pela cúpula local do partido, mas, pelo visto, o PT da  Paraíba não abrirá mão fácil da candidatura ao Executivo em João Pessoa.

Em discurso durante conferência eleitoral realizada no fim de semana, a deputada estadual Cida Ramos - única pré-candidata da legenda após a desistência do deputado estadual Luciano Cartaxo - afirmou categoricamente: “Nossos valores estarão representados. Teremos candidatura própria em João Pessoa. Teremos uma prefeita. E esse partido é tão ousado que ele vai ter a sua primeira prefeita mulher com deficiência”. “O nosso nome se chama coragem”, finalizou.

Direita

No campo da oposição, o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, segue firme como pré-candidato do Partido Liberal (PL). Segundo ele, a legenda  “tem avançado no diálogo com outros partidos do espectro conservador”. O partido Novo, de acordo com Queiroga,  seria uma das legendas com “agenda semelhante”. No entanto, apesar dos boatos, o apoio do pastor Sérgio Queiroz como vice-prefeito da chapa ainda não foi confirmado.

“Sérgio Queiroz foi meu companheiro no governo Bolsonaro e temos uma agenda de convergências. Discutimos, no momento, um projeto para a cidade de João Pessoa, sem avançar em questões atinentes a composição em chapa majoritária”, afirmou o ex-ministro.

Questionado sobre a possível composição com Queiroga, Sérgio Queiroz informou que a proposta segue “em estudo”.

Outros nomes inicialmente ventilados, como os de Nilvan Ferreira e Ruy Carneiro, também parecem não se confirmar para a disputa na capital. Enquanto Nilvan já anunciou sua pré-candidatura à Prefeitura de Santa Rita pelo Republicanos - seu novo partido - Ruy corre solitário após condenação da Justiça pelos crimes de peculato, fraude em licitação e lavagem de dinheiro, que teriam sido cometidos durante o período em que foi secretário estadual de Juventude, Esporte e Lazer.

Reflexo das ações de um cenário nacional
Marciano: disputa em JP reflete tensão mais ampla | Foto: Divulgação

Para o cientista político e professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), José Marciano, a disputa eleitoral em João Pessoa reflete as tensões e correlações de força do cenário político nacional. Neste sentido, ele observa que os recentes reforços da candidatura de Cícero Lucena podem ser compreendidos como uma expressão da relação que o próprio presidente Luiz Inácio da Silva - e os partidos que lhe dão sustentação - tem estabelecido com as legendas do chamado centrão.

“A meu ver, a candidatura de Cícero Lucena é competitiva por estar com a máquina do governo municipal e por estar alinhada, eu diria, às forças do ´centrão´ – refiro-me aqui ao PSD e ao próprio PP, representados na pessoa da senadora Daniella Ribeiro e do deputado federal Aguinaldo Ribeiro - e ao próprio governo do Estado da Paraíba, na pessoa de João Azevêdo”, explica.

Ainda segundo Marciano, assim como no cenário nacional, o receio de uma ascensão da extrema-direita em João Pessoa pode ser o motivo que tem forçado um posicionamento mais ao centro por parte dos partidos de centro-esquerda e esquerda, inclusive do PT.

“Diante dessa correlação de forças que o centrão estabelece com o PT nacional, eu acredito que possa haver um alinhamento do PT estadual muito mais ao centro. Haja vista que o bolsonarismo tenta emplacar uma candidatura competitiva e que possa disputar com esse Centrão, como é o caso da candidatura vinculada aos nomes de Marcelo Queiroga e do pastor Sérgio Queiroz”, pontua.

Contudo, o cientista político destaca que a disputa permanece aberta e que novos personagens ainda podem interferir no quadro das eleições em João Pessoa.

“Além disso, não sabemos ainda como vai ficar aí o próprio MDB de Veneziano, que é outra grande liderança no estado, e a correlação que ele vai estabelecer com outros partidos, como o PSDB ou até com a pessoa de Ruy Carneiro. A grande incógnita, ainda pensando a lógica e a força do centrão, é exatamente se uma possível articulação de Veneziano com o PSDB poderia arregimentar outros partidos e compor mais uma candidatura competitiva”, concluiu.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 19 de março de 2024.