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em um ano

Bolsonaro movimentou R$ 30,5 mi

publicado: 22/08/2025 08h36, última modificação: 22/08/2025 08h36
Relatório de inteligência financeira da PF usou o Coaf para identificar pelo menos 50 movimentações atípicas

por Redação (Com Agência Brasil)*

Informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontam que o ex-presidente Jair Bolsonaro movimentou R$ 30,5 milhões nas suas contas bancárias de março de 2023 a junho deste ano. Os valores fazem parte do relatório de inteligência financeira, que foi usado pela Polícia Federal (PF) no inquérito que indiciou Bolsonaro e um de seus seu filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), no caso do tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil.

“No período de 01/03/2023 a 07/02/2024, foram movimentados R$ 30.576.801,36 em créditos e R$ 30.595.430,71 em débitos, cujos resumos por tipo de lançamento constam nas tabelas a seguir”, escreveu a PF.

O relatório não cita ilegalidades quanto à origem dos recursos movimentados por Bolsonaro, mas o Coaf diz que há suspeitas de indícios de lavagem de dinheiro e de outros ilícitos penais por parte do ex-presidente e do seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O documento da PF relata cerca de 50 comunicações de movimentações atípicas envolvendo o ex-presidente e pessoas ligadas a ele, como o filho Eduardo e a esposa, Michele Bolsonaro.

Dessas, quatro informaram operações suspeitas em contas de Bolsonaro e outras quatro nas contas de Eduardo. Outras 42 operações foram feitas em contas de terceiros.

300 vídeos

A PF concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro realizou mais de 300 compartilhamentos de vídeos no WhatsApp durante o período em que já estava proibido de usar redes sociais, incluindo perfis de terceiros. A informação consta no relatório no qual a Polícia Federal (PF) indiciou Bolsonaro e um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), no caso das sanções dos Estados Unidos. Durante as investigações, o celular do ex-presidente foi apreendido pelos agentes.

De acordo com a PF, no dia 3 de agosto, data na qual foram realizadas manifestações favoráveis ao ex-presidente em todo o Brasil, Bolsonaro enviou a apoiadores vídeos com divulgação dos eventos e sobre a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes. Na ocasião, Bolsonaro já estava proibido por Moraes de usar suas próprias redes sociais e de terceiros.

Ao analisar o caso, a PF disse que o compartilhamento das mensagens assemelha-se às ações de “milícias digitais”. “A título exemplificativo de demonstração do modus operandi equiparado às milícias digitais, a investigação detalhou o compartilhamento e a dinâmica de algumas das mensagens apresentadas na tabela anterior, referente as manifestações em Salvador (BA), em que as mensagens em questão foram compartilhadas ao menos 363 vezes pelo WhatsApp do ex-presidente”, informou a PF.

Defesa

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou ter sido surpreendida com o seu indiciamento pela Polícia Federal, anunciado na noite de quarta-feira (20), pelos crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. O relatório da PF, que também indiciou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), baseia-se em uma série de mensagens e áudios apreendidos do celular do ex--presidente.

De acordo com as investigações, as conversas revelam que Bolsonaro e seu filho atuaram junto ao governo dos Estados Unidos com o objetivo de submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal (STF) ao “crivo de outro Estado estrangeiro”. Os diálogos mostram que o ex-presidente condicionou a aprovação de uma anistia a condenados pela trama golpista à negociação para a retirada de tarifas aplicadas pelos EUA contra produtos brasileiros.

Em um dos áudios, Jair Bolsonaro é ouvido pedindo orientações ao advogado norte-americano Martin Luca, ligado a Trump, para produzir uma nota pública. Na mensagem, o ex-presidente solicita ajuda para elaborar um comunicado que elogiasse Trump e colocasse “a questão de liberdade muito acima da questão econômica”, mencionando ainda a perseguição ao seu nome. A PF interpretou esse áudio como uma demonstração de que Bolsonaro atuava de “forma subordinada a interesses de agentes estrangeiros”.

Tensão familiar

O material apreendido também expõe um clima de tensão familiar. Em uma troca de mensagens, Eduardo Bolsonaro critica o pai de forma agressiva por uma entrevista na qual foi chamado de “imaturo”, chegando a proferir insultos. O deputado reclama em outra mensagem que terá que passar “o resto da vida nessa p**** aqui [EUA]”.

Diante das novas evidências, o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do caso, deu um prazo de 48 horas para a defesa de Bolsonaro prestar esclarecimentos sobre os reiterados descumprimentos de medidas cautelares, a repetição de condutas ilícitas e a existência de comprovado risco de fuga. Entre os pontos a serem elucidados está um documento no qual o ex-presidente, supostamente, pede asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei, e seus contatos com o general Braga Netto, com quem estava proibido de se comunicar.

Em nota, os advogados de Bolsonaro afirmaram que os elementos apontados na decisão “serão devidamente esclarecidos” dentro do prazo estipulado e garantiram que “jamais houve o descumprimento de qualquer medida cautelar previamente imposta”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 22 de agosto de 2025.