A eleição do candidato mais velho do Brasil, o homem que ganhou um caixão em uma aposta para prefeito, o candidato que foi eleito suplente de vereador com zero votos e os candidatos a vereador que empataram no número de votos pela segunda vez consecutiva. Pode não parecer verdade, mas todos esses casos aconteceram no primeiro turno das Eleições Municipais 2024 na Paraíba.
Em Monte Horebe, município do Sertão paraibano, José de Oliveira Costa foi eleito vice-prefeito aos 90 anos, em sua primeira candidatura a um cargo político. “Zé Costa”, como é conhecido, compôs a chapa da prefeita eleita, Milena Nogueira (MDB), de apenas 26 anos. Com 2.459 votos, o que corresponde a 68,67% dos votos válidos no município, os dois venceram a chapa do PSB, composta por Padre Gilberto e Hionara de Miranda.
"É comum essa brincadeira nas eleições. Eu sempre aposto com ele e com muita gente aqui"
- Alcidésio Pessoa
De acordo com Zé Costa, sua estreia como candidato surgiu de uma indicação do atual prefeito de Monte Horebe, Marcos Eron. Para ele, mais do que orgulho, o resultado da eleição lhe deu “uma satisfação e uma motivação muito grandes”.
“Fui convencido a aceitar a candidatura para ajudar a promover uma campanha unida e para poder trazer, na medida das minhas possibilidades, a minha experiência no setor público para contribuir com a gestão da prefeita Milena. Sempre fui de cargos técnicos e agora me vem este desafio de ação política direta que quero honrar com todas as forças que, felizmente, ainda tenho”, explicou.
Embora tenha concorrido pela primeira vez a um cargo político, o vice-prefeito eleito possui uma extensa carreira pública que inclui, por exemplo, duas passagens como secretário de Estado de Agricultura nos governos de Tarcísio Burity e José Maranhão. Professor aposentado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) —onde lecionou por 20 anos —José também foi superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), diretor presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária (Emepa) e presidente da Fundação Instituto de Planejamento (Fiplan).
Sobre o fato de ser o candidato eleito com a maior idade no país, ele diz que o “posto” não era esperado, mas também não o surpreende nem sequer assusta.
“Vejo este fato com toda a naturalidade, inclusive porque vejo na política, e lamento muito, jovens que parecem ter 300 anos, pelas ideias arcaicas que têm e pelas ações que repetem, mesmo que estejam ultrapassadas pela história. Estou plenamente disponível para colaborar com a futura prefeita e a Prefeitura de Monte Horebe; com este município que eu sempre colaborei, em todas as vezes que pude, inclusive nos cargos de direção em governos estaduais entre os anos de 1970 até o ano 2000”, afirmou.
Em Monte Horebe, município do Sertão paraibano, José de Oliveira Costa foi eleito vice-prefeito aos 90 anos
Aposta
Outro fato que chamou atenção no primeiro turno das eleições na Paraíba ocorreu em Rio Tinto, no Litoral Norte do estado. O servidor aposentado, Alcidésio Pessoa, ganhou um caixão, em uma aposta, por acertar o resultado da eleição para a Prefeitura do município vizinho, Mamanguape.
“Désio”, como é conhecido na cidade, apostou com o amigo José Antônio — que é dono de uma funerária em Rio Tinto — que Joaquim Fernandes (PSB) venceria a disputa contra o deputado estadual Eduardo Brito (Solidariedade), o que acabou se confirmando, com a vitória de Joaquim com 18.114 votos (66% dos votos válidos).
Além do caixão, Désio também ganhou de “Zé do Caixão” um carro modelo Fiesta. O vídeo dele desfilando com os prêmios pelas ruas de Rio Tinto acabou viralizando nas redes sociais. Segundo Désio, as apostas nas eleições já se tornaram uma tradição entre os amigos da cidade.
“É comum essa brincadeira nas eleições. Eu sempre aposto com ele e com muita gente aqui, seja para presidente, prefeito, governador, vereador. Nesse ano, eu apostei R$ 57 mil no total, mas eu pegava cinco com um, três com outro, 10 com outro e por aí vai. No dia em que a gente apostou o caixão, ele chegou perguntando se eu queria apostar lá em Mamanguape. Eu dei R$ 2 mil e ele apostou o caixão, que era no valor de R$ 10 mil. Depois ele chegou e disse: ‘Eu tenho um carro pra apostar’. Ele pediu R$ 20 mil e eu botei R$ 25 mil em cima do carro. E aí eu ganhei o carro e o caixão. Agora eu tô esperando algum conhecido falecer para eu doar o caixão”, brincou o aposentado.
José Antônio Pereira — o Zé do Caixão — disse que não lamenta o prejuízo. Pelo contrário, gostou da repercussão da brincadeira e comentou que pensa até em lançar candidatura própria nas próximas eleições.
“Prejuízo o quê? Eu devolvi um pouco do que eu tomei dele há uns anos, quando apostei que Lula venceria a eleição. Isso é besteira! Na próxima eleição, vou sair deputado estadual e eu mesmo vou apostar se vou ganhar ou perder”, ironizou.
José Antônio disse ainda que planeja aproveitar a repercussão do caso e lançar um bloco de carnaval no próximo ano, o “Bloco do Zé do Caixão”. Segundo ele, o bloco teria o mesmo objetivo das apostas: divertir-se com os amigos.
“Em 2022, eu ganhei todas as apostas que fiz e, em 2024, eu perdi todas. Mas aqui não tem essa história de prejuízo, não. Teve uma vez que um rapaz apostou a carroça que era o ganha-pão dele. Perdeu. Na eleição seguinte, eu apostei um carro meu e uma moto com o amigo que tinha ganhado a carroça. Eu ganhei a aposta e devolvi a carroça para o dono”, lembrou.
Suplente
Em Cabedelo, na Região Metropolitana de João Pessoa, Sebastião Felintro (PT) surpreendeu a todos — e a ele mesmo — ao entrar para a lista de suplentes a vereador com um total de zero votos.
Beneficiado pelo quociente partidário — que define o número de vagas a que cada partido e federação terão direito nas Câmaras Municipais —, nem mesmo o próprio candidato e seus familiares votaram nele. Segundo Felintro, a princípio, ele não seria candidato. Sua inscrição no pleito se deu faltando apenas 10 dias para a eleição, para completar a lista de candidaturas do partido.
“Não tinha o que fazer. Uma pessoa foi indeferida e aí, como eu era o reserva, colocaram o meu nome. Mas já não dava tempo de imprimir material, nem nada. Então, eu decidi que votaria no partido e orientei a família e os amigos a fazerem isso também”, esclareceu.
A Federação formada por PT, PV e PCdoB elegeu dois vereadores em Cabedelo: Reinaldo Barbosa de Lima —o Rey —, do PT, e Wagner do Solanense, do PV. Além de Sebastião, outros 13 candidatos a vereador da Federação entraram para o rol de suplentes no município. Ele é o último da lista.
Militante do setor da pesca, Sebastião Felintro participou de todos os pleitos de 2014 até hoje. Ele já foi candidato a deputado federal, estadual e vereador — aos dois últimos cargos por duas vezes. Ao longo de sua carreira política, passou pelo PDT, DC e MDB até chegar ao atual partido.
Questionado sobre suas intenções, ele não pestaneja: “Eu pretendo concorrer a futuras eleições, sim, se Deus assim me permitir”.
Empate
Por último, outro fato inusitado das eleições em terras paraibanas foi registrado na cidade de Diamante, na região do Vale do Piancó, onde os candidatos Damião Juca e José Venâncio — ambos do MDB — obtiveram exatamente o mesmo número de votos: 242. O caso se torna ainda mais curioso pelo fato de que, há quatro anos, nas Eleições Municipais 2020, os dois também empataram, com 220 votos para cada um.
Em 2020, tanto Damião como Venâncio conseguiram se eleger. À época, os dois eram filiados ao Podemos. Contudo, neste ano, Venâncio acabou ficando de fora. De acordo com a lei eleitoral, no caso de empate, o candidato mais velho tem preferência. Com 58 anos, 17 a mais que Venâncio, Damião acabou ficando com a vaga na Câmara Municipal por mais quatro anos.
A União tentou entrevistar os candidatos, mas não obteve os contatos até o fechamento desta reportagem.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de outubro de 2024.