Essenciais para o escoamento da produção agrícola, a mobilidade rural e, consequentemente, o desenvolvimento econômico de uma região, as estradas vicinais dependem de manutenções regulares, o que impõe desafios às administrações municipais de todo o Brasil — responsáveis pela gerência dessas vias. Na Paraíba, não é diferente. De acordo com o Panorama das Estradas Vicinais no Brasil, documento elaborado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), boa parte da malha rodoviária rural do estado apresenta problemas de conservação, impactando, inclusive, o acesso da população rural a serviços básicos, como os de saúde.
“O transporte tem um papel importante na vida da população. Existem muitas regiões, por exemplo, lá do Sertão, que ainda utilizam carro-pipa e o transporte da água é feito todo em estradas vicinais. A gente está falando da agricultura, do transporte de alimentos, mas também do atendimento médico. Se um agricultor sofre uma picada de uma cobra, ele tem que ir para o hospital muito rápido para tomar o soro”, exemplifica o engenheiro civil e especialista em Transportes, Kennedy Guedes.
Docente da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Kennedy Guedes aponta que a manutenção das estradas vicinais teria baixo custo, se houvesse preparação prévia por parte das Prefeituras. Para ele, a falta de consciência de parte dos gestores é um empecilho maior do que o valor financeiro.
“A adequação é justamente você ter máquinas na Prefeitura, para que ela possa atender às comunidades rurais que, se organizadas, podem indicar quais os pontos mais importantes a serem atendidos. Isso é bem possível se o Poder Público municipal tiver interesse e tiver uma relação muito boa com as comunidades rurais”, opina.

- Estradas vicinais dependem de manutenções regulares e a falta de conservação dessas vias compromete o acesso da população rural a serviços essenciais | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Kennedy Guedes salienta que a manutenção preventiva é crucial, especialmente em períodos pré-chuvosos, para “não impedir o fluxo de mercadoria e de pessoas”, na região da vicinal. O especialista apresenta a formação de consórcios entre Municípios para adquirir maquinário e planejar a melhoria das estradas como uma das alternativas viáveis para diluir os custos.
“Faz um consórcio de cinco municípios, compra uma estrutura e faz esse planejamento para adequar essas estradas vicinais a um tráfego mais adequado, porque o custo é muito barato comparado com o benefício à população”, sugere o especialista, ao acrescentar que os problemas de conservação impactam, diretamente, a fluidez do tráfego e a economia rural. “Quanto mais tempo você mantiver esses veículos na estrada, maior é o custo do veículo de transporte e de manutenção, aumentando o custo da mercadoria”, diz.
Malha estadual
De acordo com o estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a Paraíba possui, aproximadamente, 58 mil km de estradas vicinais, divididas em 23 microrregiões, que receberam classificações distintas no Índice de Priorização das Estradas Vicinais (Ipev), com base em suas produções agropecuárias. As microrregiões denominadas “Brejo Paraibano”, “Litoral Norte”, “Sapé”, “Litoral Sul” e “João Pessoa” foram consideradas as mais relevantes em termos de necessidade de investimentos, por terem “média produção” de cana-de-açúcar e no grupo de frutas e lavouras.
Os custos de mitigação dos problemas de infraestrutura nessas microrregiões são, segundo o panorama, de R$ 18,26 milhões por ano, sendo R$ 12,52 milhões (68,6% do total) para adequação da malha em condições precárias e R$ 5,74 milhões (31,4%) para manutenção da malha em condições adequadas.
Se considerada toda a malha vicinal do estado, os custos anuais estimados são de R$ 220,46 milhões, sendo R$ 155,5 milhões (70,53%) para adequação das vias em situação precária e R$ 64,96 milhões (29,46%) para manutenção daquelas que estão em boas condições.
Obras na Paraíba
Conforme informações do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB), obtidas no Mapa de Obras da plataforma GeoPB, a Paraíba contabiliza 14 obras relacionadas à pavimentação e recuperação de estradas vicinais iniciadas de 2024 a 2025. Os investimentos previstos totalizam mais de R$ 32 milhões.
Treze desses contratos estão sob jurisdição das Prefeituras de Alhandra, Arara, Cachoeira dos Índios, Cajazeiras, Junco do Seridó, Logradouro, Pedra Lavrada, Pocinhos, Poço de José de Moura, Riacho dos Cavalos, Rio Tinto, Tacima e Vieirópolis. Os orçamentos desses projetos variam de R$ 24.013,01 a R$ 917.330,72.
Porém, a maior cifra foi empenhada pelo Governo do Estado. Trata-se de quase R$ 27 milhões, destinados à implantação e à pavimentação de 24,45 km de extensão da vicinal que liga o município de Boqueirão aos distritos Campo Verde, Marinho e Floresta. A obra foi iniciada em 2024 e é executada pelo Departamento de Estradas de Rodagem da Paraíba (DER-PB).
Essa ação estadual de melhoria da infraestrutura rural integra o programa Estradas da Cidadania. Conforme o diretor de Planejamento e Transportes do DER-PB, José Arnaldo Lima, o programa tem uma ênfase no “social, para gerar oportunidades de emprego e renda e, assim, melhorar a qualidade de vida da população rural residente em todas as regiões do estado”. De 2024 a 2025, a iniciativa investiu R$ 188 milhões para a recuperação ou pavimentação de mais de 142 km de estradas vicinais.
O secretário da Infraestrutura e dos Recursos Hídricos, Deusdete Queiroga, destaca que, ao longo dos últimos oito anos de gestão, o Governo do Estado já investiu R$ 5 bilhões no programa. “Foram contempladas algumas ligações importantes entre regiões e diversas estradas vicinais, que ligam as cidades aos distritos, as rodovias aos distritos”, destaca.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de dezembro de 2025.