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26 de julho

Dia de homenagens a João Pessoa

publicado: 26/07/2023 09h19, última modificação: 26/07/2023 09h19
Governo do Estado e autoridades promovem cerimônia para marcar data do assassinato do ex-presidente
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O Monumento a João Pessoa, na praça que leva seu nome, será o palco das homenagens, hoje - Foto: Roberto Guedes

por Alexsandra Tavares*

Independentemente das motivações que levaram ao assassinato do ex-presidente da Paraíba, João Pessoa, a morte do paraibano, em 26 de julho de 1930, trouxe uma reviravolta ao cenário político nacional. Hoje, às 9h, familiares, amigos e autoridades do Estado irão participar de uma cerimônia religiosa e, em seguida, de um ato cívico na Praça João Pessoa, na capital paraibana. A solenidade voltou à praça, porque o Palácio da Redenção, onde os restos de João Pessoa se encontram em uma cripta, está em reforma.

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O ex-governador Roberto Paulino representa o Governo - Foto: Edson Matos

O governador João Azevêdo será representado por Roberto Paulino, ex-governador do Estado e atual secretário-chefe do Governo. A cerimônia religiosa em homenagem aos 93 anos de morte de João Pessoa será realizada na Igreja da Misericórdia, no Centro, e contará com a presença de familiares do homenageado a exemplo do jornalista Abelardo Jurema Filho e do vereador Fernando Milanez Neto, além de autoridades estaduais e representantes de instituições como o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP).

Após a celebração religiosa, os participantes sairão rumo à Praça João Pessoa onde ocorrerá o ato cívico. O sobrinho-neto do ex-governador paraibano, Abelardo Jurema Filho, afirmou que Fernando Milanez Neto, que é sobrinho-bisneto do homenageado, irá falar em nome da família.

Para Abelardo, João Pessoa é um nome que deveria ser lembrado por todos os paraibanos. “João Pessoa é um nome que, não só a família, mas toda a Paraíba deveria se orgulhar, porque ele cumpriu um papel importante no Estado. Todo confronto tem vencedores e vencidos, e tem sempre alguém insatisfeito com a trajetória dele. Na época, pensava-se que ele seria um instrumento das oligarquias, mas isso não aconteceu. João Pessoa foi contra os atos dos coronéis e instituiu impostos na Paraíba”, frisou Abelardo.

O acadêmico Ramalho Leite, presidente da APL, disse que “João Pessoa foi o último governante da oligarquia fundada por Epitácio a partir da sua vitória eleitoral em 1915. Fazendo pouco caso das recomendações do Tio Pita, João Pessoa tentou modificar os costumes políticos e administrativos do Estado, arraigados desde a fundação da República. Atingiu de início os próprios correligionários do tio, os coronéis que no interior só tinham uma lei - a do quero, posso e mando. A reação surgiu contra ele e seu governo. Os excessos cometidos contra os adversários constituíram inimigos. Um desses, atingido ele e a família por ações do governo, lhe tirou a vida. Sua morte, transformada em bandeira política, fez eclodir a chamada Revolução de 30 que depôs Washington Luiz e colocou Getúlio Vargas no poder.”

Durante o ato cívico na Praça João Pessoa, algumas palavras também vão ser proferidas pelo presidente do IHGP, o advogado e historiador Jean Patrício. De acordo com ele, o líder paraibano é importante para o Estado e o país por vários motivos. “João Pessoa foi presidente (governador) do estado entre 1928 e 1930 e foi candidato a vice-presidente da República na chapa da Aliança Liberal, ao lado de Getúlio Vargas. Eu colocaria a importância dele em dois aspectos. O primeiro é o João Pessoa administrador, gestor público. Ele foi um excelente gestor em relação à atualização do salário dos servidores públicos, no tocante ao Fisco Estadual, ao aumento da arrecadação do Estado, e foi feliz em relação à várias obras públicas que realizou”.

O historiador acrescentou que João Pessoa teve “muito respeito” com os recursos públicos. “Outra coisa interessante é o pós-morte, em relação à Aliança Liberal, a qual integrava. A Aliança Liberal defendia o voto secreto, o voto feminino, o Ministério do Trabalho, o Ministério da Previdência, e a ampliação dos direitos sociais. Getúlio apresentou essa plataforma durante a campanha de 1930, na Esplanada do Castelo, com a presença de João Pessoa. Isso está documentado na revista O Cruzeiro. E João Pessoa abraça essas causas. Os ideais dele permanecem vivos. Então, João Pessoa está mais vivo do que nunca”, ressaltou Jean Patrício.

Controvérsias sobre a trajetória do líder paraibano

Assassinado pelo advogado João Dantas no dia 26 de julho de 1930 na Confeitaria Glória, em Recife, a morte de João Pessoa causou uma reviravolta política no país. Após o ato de João Dantas, uma verdadeira comoção se instalou entre os paraibanos. A bandeira do Estado e o nome da capital foram alterados, e um grupo de revoltosos instaurou um clima de tensão na Paraíba, culminando com a Revolução de 1930. No seu curso, o conflito resultou na destituição do presidente Washington Luís e na força de Getúlio Vargas, que assumiu o poder do país, evitando que Júlio Prestes, que havia ganho as eleições em março daquele ano, assumisse o cargo.

Os historiadores divergem em relação à postura política e os verdadeiros motivos da morte de João Pessoa. O historiador Martinho Guedes dos Santos Neto, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e autor de dois livros que abordam a década de 1930 - “Regime de Interventorias - política e sociedade da Era Varga (1930-1945)” e “Os Domínios do Estado - a interventoria de Anthenor Navarro e o poder na Paraíba (1930-1932)”, afirma que a morte do paraibano foi ocasionada por motivos pessoais e que a postura dele contra a ordem vigente era para evitar a “bancarrota” da Paraíba.

Segundo Martinho, no final da década de 20, a Paraíba vivenciava forte crise econômica agravada por questões climáticas e fatores externos, como a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929. E para evitar que a Paraíba não entrasse em colapso financeiro e sofresse a intervenção do presidente da República, João Pessoa foi obrigado a buscar meios para arrecadar recursos e alavancar a economia paraibana. Ele agiu, então, para evitar essa interferência presidencial e a falência do Estado, e não porque tinha ideias totalmente opostas ao poder oligárquico que o levou ao governo. “Esses agravantes fizeram com que João Pessoa tentasse reorganizar as finanças do Estado, tomando uma série de medidas necessárias para que a Paraíba não fosse à bancarrota, e aí contrariou o poder local, inclusive seu tio, Epitácio Pessoa, e o grupo político ao qual fazia parte”, contou Guedes.

Por conta dessa postura que desafiava o poder instituído e impedia a indicação de nomes de políticos por meio dos coronéis e proprietários de terras, João Pessoa não demonstrou apoio à candidatura de José Pereira, na cidade de Princesa, culminando com a Revolta de Princesa, rebelião que se voltou contra o gestor estatal. Mesmo nesse contexto de conflito e insatisfação, João Pessoa deu andamento à campanha presidencial junto a Getúlio Vargas, aparecendo na chapa como vice-presidente.

“A questão da mudança do nome de João Pessoa é uma questão absolutamente tola e sem sentido"

Dentro dessa conjuntura de insatisfação, ele acumulou vários desafetos e um deles era a família do famoso advogado João Dantas, de Teixeira. “Numa dessas brigas de falação, João Pessoa atacou a honra de João Dantas e o acusou de não respeitar mulheres da sociedade. Então, João Dantas foi a Recife e lá ocorreu o assassinato que não tem nenhuma conotação política, embora os Dantas fossem adversários políticos de João Pessoa. Mas, o motivo que levou ao assassinato foi de cunho pessoal, privado”, contou Martinho.

Outra polêmica, que sempre cerca as homenagens a João Pessoa, é o nome dele ter sido dado à capital paraibana. Para o historiador José Octávio de Arruda Melo, “A questão da mudança do nome de João Pessoa é uma questão absolutamente tola e sem sentido. João Pessoa é uma figura que já passou a História. A ação dele é uma ação consagrada e ele abriu caminho para a Revolução de 30, não através da morte dele, mas sim através do tipo de governo que ele realizou. João Pessoa empreendeu aqui na Paraíba uma experiência que consagra o modelo que será levado para o Plano Nacional por Getúlio Vargas. É o modelo politicamente autoritário, economicamente modernizador e socialmente corporativo. Esse é o modelo que vai presidir o destino do Brasil a partir de 30. Então não há motivo para mudar este nome, até porque é uma minoria insignificante de saudosistas do Velho Regime, cognominados de saudosistas do tempo feudal, que adere a esta ideia”

Saiba Mais

Durante a missa na Igreja da Misericórdia, Abelardo Jurema Filho irá distribuir entre os presentes um texto em homenagem ao tio-avô. Em parte do texto ele diz: “Neste 26 de julho, voltaremos a exaltar a memória do presidente João Pessoa que deixou o seu nome marcado na história da Paraíba, não pela sua morte, no trágico episódio da Confeitaria Glória, mas pelo que foi em vida, administrando o estado com visão de futuro, libertando o povo das garras do coronelismo e projetando o seu nome como candidato a vice-presidente da República”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 26 de julho de 2023.