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Dilma se fortalece e expectativa de retorno ao Palácio é ampliada

publicado: 19/06/2016 00h05, última modificação: 19/06/2016 11h37
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Presidente Dilma Rousseff foi recebida por uma multidão no Espaço Cultural, em João Pessoa - Foto: Roberto Stuckert Filho

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Feliphe Rojas
- Especial para A União

Com pouco menos de duas semanas para a votação no plenário do Senado que pode devolver o mandato de presidente à Dilma Rousseff (PT) ou fazer com que o processo de impeachment prossiga para o julgamento final, o presidente interino, Michel Temer (PMDB), e a presidente afastada, Dilma, trabalham nos bastidores para conseguir apoio dos senadores a fim de alcançar a quantidade de votos necessários visando o da votação, marcado para 2 de agosto. A visita de Dilma à Paraíba, na última quarta-feira (16), em audiência pública organizada pela Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), no Espaço Cultural, reuniu lideranças políticas em nível regional e nacional da presidente afastada. Elas comentaram a expectativa para a votação que definirá os rumos da nação nos próximos meses.

Com exclusividade ao jornal A União, o ministro-chefe da Casa Civil na gestão de Dilma, Jaques Wagner, disse que acredita ser possível a reversão do atual cenário e retorno da petista ao cargo máximo do Executivo. “Nós temos uma expectativa positiva. Estamos trabalhando muito. O movimento aqui na Paraíba é um exemplo da capacidade de mobilização que está havendo, portanto isso também tem uma ressonância a nível dos senadores e, evidentemente, as últimas revelações, a exemplo da última delação do Sérgio Machado e outros que estão por vir, eu acho que elas abalam muito os aliados mais diretos do vice-presidente. Então é claro que vai se criando um ambiente favorável a esta reversão. Eu não tenho bola de cristal, não quero antecipar, mas a gente está trabalhando, estamos disputando seis, sete votos e eu acho absolutamente possível que isso aconteça [que Dilma recupere o mandato]”, declarou.

Em entrevista coletiva após a audiência pública, Dilma comentou o áudio divulgado por Sérgio Machado no qual ele conversa com o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Para ela, o grampo reforça a tese de que uma conspiração foi realizada para que, ao destituí-la do cargo de presidente, houvesse uma paralisação dos avanços da Operação Lava Jato. “Houve uma tentativa, que deu certo, quando a solução Temer virou um processo jurídico [se referindo ao seu processo de impeachment] para evitar uma coisa: que os processos de investigação de corrupção atinjam o governo [o interino]. Quem disse isso foi o senador Romero Jucá, ex-ministro do Planejamento que declarou que tinha que mudar o governo para que se estanque a sangria [se referindo aos efeitos da Lava Jato]”, argumentou.

Para prosseguir ao julgamento final que pode definir o afastamento definitivo de Dilma, Temer precisa da maioria simples dos votos dos senadores presentes (metade dos votos mais um), sendo que pelo menos 54 senadores precisam estar presentes na sessão; para Dilma reaver o mandato, precisa também que a maioria simples dos senadores votem para arquivar o processo, sendo que apenas 41 senadores precisam estar na sessão para que isso aconteça lembrando que, atualmente, o Brasil conta 81 senadores.

Outro a demonstrar otimismo em uma reviravolta na votação do Senado foi o deputado estadual Frei Anastácio (PT). “Embora o cenário nacional seja difícil, eu acredito que realmente haverá inversão dessa situação e o mandato da presidente deve ser devolvido, se Deus quiser. Não será sem luta. Obviamente que precisamos voltar às ruas com toda a disposição de agirmos em defesa da democracia - nos serve de estímulo. Eu, na condição de deputado estadual, estou fazendo a minha parte na luta contra esse golpe que leva o país ao retrocesso, semelhante ao golpe militar que a nossa presidente bem conhece”, comentou.

A deputada estadual Estela Bezerra (PSB) confia na pressão da opinião pública para fazer os senadores repensarem seus votos. “Eu sei que o Senado está de olho na opinião pública do Brasil e todos nós estamos prontos para continuar a lutar para que o Brasil não perca o valioso princípio da nossa democracia e o processo de inclusão social do nosso país”, afirmou.


Governador Ricardo Coutinho tem sido um forte aliado da presidente Dilma Rousseff na ParaíbaNovo cenário

Na primeira votação no Senado, concluída na madrugada do dia 12 de maio, que resultou na admissão do processo de impeachment de Dilma e a afastou do cargo, estiveram presentes 78 parlamentares na votação. O processo foi aceito com 55 votos favoráveis e 22 contrários e apenas uma abstenção - a do presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Entretanto, o cenário hoje é bem diferente em relação àquele de maio. Uma série de vazamentos de áudios e delações colocaram em xeque a legitimidade do governo interino de Michel Temer (PMDB) e podem fazer com que senadores mudem de posicionamento e votem pelo arquivamento do processo.

Pacto contra a Lava Jato

O maior golpe recebido por Temer foi o áudio vazado que expôs uma conversa entre o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e o senador peemedebista Romero Jucá (PMDB-RR), à época do vazamento, ministro do Planejamento de Temer (posteriormente afastado). Na gravação, os dois articulam um pacto entre vários órgãos e entidades para que, após a saída de Dilma, a “sangria” da Lava Jato fosse estancada. A conversa foi tida como a indicação de uma conspiração para que a saída de Dilma fosse arquitetada como forma de deter os avanços da Operação Lava Jato.

O saldo dos grampos divulgados pela Folha de S.Paulo foi o de pelo menos quatro senadores admitindo rever o voto sobre o impeachment. Foram eles: Romário (PSB-RJ), Cristovam Buarque (PPS-DF), Hélio José (PMDB-DF) e Acir Gurgacz (PDT-RO). Além disso, uma série de parlamentares ainda não se pronunciaram sobre seu voto no próximo dia 2 de agosto, entre eles os paraibanos José Maranhão e Raimundo Lira, ambos do PMDB. Lira preside também a comissão de Impeachment no Senado.

Outro ministro de Temer que caiu por conta de grampos divulgados por Sérgio Machado foi Fabiano Silveira, que ocupava a pasta da Transparência, Fiscalização e Controle. O ex-ministro criticou a condução da Lava Jato pela Procuradoria Geral da República (PGR).

Nesta semana, mais golpes abalaram o governo: o presidente interino foi citado na delação de Sérgio Machado. O ex-presidente da Transpetro afirmou que Michel Temer pediu a ele que obtivesse doações eleitorais para o ex-deputado Gabriel Chalita, que disputava a Prefeitura de São Paulo em 2012. Na época Chalita ainda era filiado ao PMDB (hoje no PDT) e recebeu R$ 1,5 milhão pagos pela construtora Queiroz Galvão. Outro membro da gestão Temer afetado pela delação de Machado foi Henrique Alves (PMDB-RN), que era até então ministro do Turismo. O delator afirmou que repassou R$ 1,55 milhão em propinas entre 2008 a 2014. Henrique Alves já foi demitido da pasta.

Classe política aceita ideia de plebiscito

O pré-candidato a prefeito de João Pessoa pelo Partido dos Trabalhadores e ex-presidente da legenda na Paraíba, Charliton Machado, avaliou que, após um mês de gestão Temer, “se materializa” um desejo da sociedade rever o processo de impeachment. Além disso, acredita que a sinalização de Dilma em fazer um plebiscito para consultar a vontade do povo sobre novas eleições gerais foi bem visto pelos senadores.

“Hoje a população está mais ciente de quais foram as decisões do País nesse momento com relação às suas próprias condições na educação, na saúde, a desvinculação de receitas que são fundamentais para as políticas públicas. A população percebeu que assinou um cheque em branco. Então do ponto de vista da sociedade há um desejo materializando de rever esse processo do impeachment. Temos percebido que alguns senadores estão revendo suas posições e mais ainda depois que a presidente disse que se assumir novamente ela vai convocar um referendo [para convocar novas eleições], construir uma pauta com a classe política mais progressista do Brasil para que a população decida qual deve ser o resto do governo. Se um governo pautado pela decisão do povo ou a manutenção do seu próprio governo que vai até o final de 2018”, analisou.