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Chefe de estado mais velho do mundo tenta resistir a golpe militar

publicado: 16/11/2017 19h05, última modificação: 16/11/2017 19h52
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Robert Mugabe é acusado de corrupção, repressão a oposição e imprensa, fraude em eleições e não respeitar os direitos humanos - Foto: Reprodução/Internet

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Do portal UOL 

Na última quarta-feira (15), o presidente Robert Mugabe, do Zimbábue, foi colocado sob custódia em sua casa durante uma tentativa de tomada de poder por parte de forças militares do país. As Forças Armadas assumiram o controle, mas negam que este seja um golpe de estado. Fato é que as últimas notícias podem marcar o fim do governo de 37 anos. Com 93 anos, Mugabe é o mais velho chefe de Estado em exercício do mundo. Ele está no poder desde a declaração oficial de independência do país, em 1980. Seu governo é acusado de corrupção, repressão à oposição e imprensa, fraude em eleições e não a respeitar os direitos humanos.

Mesmo sob custódia, ele resiste a renunciar à presidência do país. Especialistas ouvidos pelo UOL especulam que a tentativa dos militares seja fruto de disputas internas entre a elite e os representantes do governo pela tomada de poder assim que o presidente morresse.

Golpe militar?

Na última quarta-feira, forças militares tomaram as ruas da capital do país, Harare, sob a premissa de acalmar a tensão em torno da sucessão de Mugabe, já com 93 anos. O então presidente foi detido “sob custódia” em sua casa. Os militares dizem que saíram dos quartéis no final da noite de terça-feira (14) para resolver casos de corrupção em torno do governo. Na manhã da quarta-feira, três explosões foram ouvidas próximas à casa do presidente. O presidente da vizinha África do Sul, Jacob Zuma, disse que conversou com Mugabe pelo telefone e o esse diz estar bem. Um de seus ministros, Ignatius Chombo, das Finanças, foi detido pelo grupo militar.

“Intervenções militares como esta não são desconhecidas em território africano”, afirma Elaini Silva, professora de Direito Internacional da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). “Ao tomarem a capital, eles se recusaram a dizer que é um golpe, falam que é uma ação para afastar criminosos do governo, em uma clara tentativa de dar legitimidade à ação”. O grupo tomou a estatal de comunicação ZBT e fez um anúncio ao vivo para todo o país. “Nós apenas temos como alvo os criminosos de seu entorno que estão cometendo crimes que causam sofrimento social e econômico ao país para que se faça justiça”, dizia um dos soldados não identificados. “Assim que nós cumprirmos com nossa missão, a situação voltará ao normal”.

Aos 37 anos, o governo de Mugabe enfrenta sua pior onda de críticas. Com uma economia instável e um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, a gestão do ex-guerrilheiro que ajudou a conduzir o país para a independência tem perdido cada vez mais apoio. O ápice aconteceu na semana passada, quando o então vice-presidente Emmerson Mnangagwa, 75, parceiro desde a época da guerrilha, foi expurgado pelo ditador sob a justificativa de tramar um golpe e teve de deixar o país. Mnangagwa tinha apoio do exército e era o nome mais cotado como futuro comandante da nação.

Mais de uma centena de funcionários do alto escalão do governo também foi punida. O que se especula é que haja uma disputa interna entre o ex-vice-presidente e a então primeira-dama, Grace Mugabe, 52, que tem ganhado cada vez mais voz dentro do governo.