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Cerca de 11% dos eleitores do estado, acima de 70 anos e com até 17 anos, não são obrigados a comparecer ao pleito

Eleições na Paraíba: mais de 327 mil têm voto facultativo

publicado: 16/05/2022 08h53, última modificação: 16/05/2022 08h55
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Foto: Reprodução

por Iluska Cavalcante*

Dos mais de três milhões de eleitores paraibanos, 10,6% não têm a obrigatoriedade de votar. São pessoas acima de 70 anos ou adolescentes entre 16 e 17 anos. São cerca de 327,3 mil títulos de eleitor regulares para essas eleições. Muitos tiveram que emitir ou regularizar o documento junto à Justiça Eleitoral no Estado, nos primeiros meses do ano. Mas o que tem motivado essas pessoas a ir às urnas?

Não é possível saber se todos devem votar nestas eleições. No entanto, segundo a observação do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB), houve um aumento na procura pela regularização do título e na preocupação dos eleitores acima de 70 anos para não ter o documento cancelado.

“Devido às fake news de que os eleitores acima de 70 anos teriam seus títulos automaticamente cancelados, recebemos muitas ligações de eleitores preocupados, perguntando se era verdade e querendo regularizar o título”, revela o secretário de tecnologia do TRE, José Cassimiro.

Na opinião do servidor da Justiça Eleitoral, é possível que a evasão de eleitores seja menor do que a vista em 2020. “Não é possível que eles enfrentaram filas, esperaram no aplicativo e realizaram todo o procedimento de regularização do título para decidirem não votar. Teremos um recorde no número de votantes nessa faixa”, prevê.

Segundo dados do TRE paraibano, ocorreu um aumento nesse grupo que não é obrigado a votar, em comparação com o mesmo período das últimas eleições presidenciais, em 2018. Naquele ano, 260 mil eleitores que não tinham a obrigatoriedade do voto estavam com o título de eleitor válido. Nos últimos quatro anos, esse grupo cresceu 20%.

Em outubro deste ano, cerca de 264,1 mil eleitores entre 70 e 79 anos estão aptos para ir às urnas. Enquanto 63,2 mil jovens emitiram o título de eleitor e devem votar pela primeira vez, mesmo não sendo obrigatório. Totalizando 327,3 mil eleitores desse grupo.

É o caso da jornalista Babi Neves, de 71 anos. Ela não votou nas últimas eleições, em 2020, devido à pandemia. Mas faz questão de exercer seu direito à cidadania neste ano. “Eu não deixei de ser cidadã porque fiz 70 anos, eu quero tentar fazer com que o Brasil volte a ser dos brasileiros, tirando Bolsonaro do poder. Eu vou voltar consciente para tirá-lo do poder”, comentou.

Segundo o cientista político José Artigas, esse é um fenômeno comum no eleitorado atual, devido à conjuntura política do país. A motivação de fazer alguma diferença no voto com o intuito de proteger a democracia, tem levado os eleitores às urnas.

O especialista explica ainda que a polarização não é ruim para a democracia. No entanto, o cenário atual mostra algo diferente do que foi visto nos últimos anos. “Hoje em dia a escolha é entre democracia ou autoritarismo. E isso é algo que acaba estimulando as pessoas a defender esse legado democrático. Se no passado a diferença entre os candidatos era de ideológica, doutrinária, filosófica, agora trata de um outro referencial, a defesa da ordem democrática”, afirma.

Para a jornalista Babi Neves, o poder do voto não deve ser negligenciado. “O voto é a principal arma que o brasileiro tem pela democracia, se não tiver voto, não tem democracia. Não se trata de um candidato específico, se trata de tirar um candidato do poder que está fazendo um mal terrível ao Brasil e aos brasileiros”, diz.

Ela comenta ainda que não é a única a tomar essa atitude pelo país. Segundo a jornalista, as pessoas do seu ciclo e geração estão mais conscientes politicamente. “Está todo mundo pela democracia do país, principalmente as pessoas da minha faixa etária. Estamos todos cansados. Eu sou da geração da ditadura, eu não sofri porque não tinha idade para sofrer consequências, mas longe de mim rever tudo isso”, ressalta.

De acordo com a análise de José Artigas, o eleitor tem retomado a consciência política após as eleições de 2018. Ele explica que nessa época os discursos que associavam política com corrupção se intensificaram, fazendo com que a população brasileira se desestimulasse com o exercício da democracia.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 15 de maio de 2022