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Encontro defende direito à memória

publicado: 11/11/2025 08h41, última modificação: 11/11/2025 08h41
Pesquisadores apresentam possíveis ações de reparação a violências cometidas pela Ditadura Militar
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Evento começou ontem (10), no Campus I da UFPB, com uma oficina sobre lugares de memória | Foto: Carlos Rodrigo

por Paulo Correia*

O Memorial da Paraíba (MDP) promoveu, ontem (10), a abertura do 1º Encontro Democracia no Brasil e Direito à Memória — aportes teóricos, políticos e metodológicos. O evento, realizado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), reuniu pesquisadores do campo da memória social e política, assim como organizações da sociedade civil.

O encontro teve origem no projeto de pesquisa “Por uma cartografia dos lugares de consciência: trajetos da memória das violações de direitos humanos e da resistência na Paraíba”, financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB).

Segundo Fernanda Rocha, coordenadora do projeto, o objetivo da iniciativa é trazer à tona narrativas alternativas sobre espaços que foram palco de violações de direitos humanos, buscando “indicar possíveis ações de reparação”.

“Esses lugares têm essa representatividade, são importantes porque a gente está tratando dessa relação da sociedade e da população com espaços e lugares onde essa história não é contada”, enfatiza.

O trabalho de pesquisa foi baseado no relatório da Comissão Estadual da Verdade e busca ir além dos documentos oficiais para construir uma cartografia georreferenciada que revele a complexidade do Regime Militar, mas também de outros momentos históricos de marcante violação dos direitos humanos, como a escravidão.

“A gente não vai poder ignorar essas histórias do passado, mas a gente traz esse marco da Ditadura Militar como continuidade da violência de Estado, que é sistemática”, pondera a coordenadora.

A pesquisadora Suelen Andrade, que integra o projeto, enfatiza que o principal objetivo é mapear e contar as histórias desses “lugares de consciência” e que sua metodologia buscou inspiração em iniciativas de outros estados, como no projeto Lugares de Memória, coordenado pelos pesquisadores Fernanda Pradal e José Gómez, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio de Janeiro.

“A ideia é dar visibilidade a esses espaços e contar a história do que ocorreu nesses espaços, dando abertura para um diálogo sobre o que aconteceu”, afirma.

Para Fernanda Pradal, professora do Departamento de Direito da PUC-Rio e membro do Coletivo Memória, Verdade, Justiça e Reparação, esse mapeamento não apenas revela memórias “soterradas” do período da Ditadura Militar, mas também impulsiona o desenvolvimento de trabalhos pedagógicos e políticas públicas.

“Esse trabalho se conecta numa perspectiva que pode vir a ser uma rede de lugares que tem essa função pedagógica, reparatória de violações de direitos individuais e coletivas, e nessa perspectiva da não repetição desse tipo de violação”, frisa.

O projeto conta, ainda, com a parceria de outras entidades, como o Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, a Rede Brasileira de Lugares de Memória (Rebralum), a Red de Sitios de Memoria Latinoamericanos y Caribeños (Reslac), o Laboratório de Antropologia, Política e Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio e o Governo da Paraíba.

O Memorial da Democracia é vinculado à Fundação Casa de José Américo e à Secretaria de Cultura da Paraíba e tem como objetivo o estudo, a valorização, a preservação e a divulgação da história e das memórias referentes ao período ditatorial no estado da Paraíba.

Programação

A programação do evento iniciou, ontem à tarde, com a oficina “Lugares de memória, Ditadura Militar e resistência: possibilidades metodológicas”, no Campus I da UFPB.

O debate continua amanhã, com a oficina “Lugares de memória como instrumento de ação política e produção de conhecimento: cartografia social e construção coletiva da memória”, com Fernanda Pradal, Estevão Palitot (UFPB), Fernanda Rocha e Suelen Andrade (MDP-FCJA). A oficina acontecerá no Campus IV da UFPB, em Rio Tinto, no Centro de Ciências Aplicadas e Educação (CCAE), das 14h às 17h.

No encerramento do evento, na sexta-feira (14), será realizada uma consulta pública sobre o Plano Museológico e Memorial da Democracia da Paraíba. A reunião será realizada das 9h às 12h, no Memorial da Democracia da Paraíba, localizado na Fundação Casa de José Américo, em Cabo Branco.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de novembro de 2025.