Sessenta famílias paraibanas alcançaram, ontem, o que deveria ser garantido a todos os indivíduos, mas, para muitos, ainda é um sonho: a casa própria. Fruto de uma parceria dos governos Estadual e Federal, o Residencial Deputado Simão Almeida, localizado no bairro Valentina, em João Pessoa, engrossa a lista de iniciativas que facilitam o acesso ao direito à moradia — previsto na Constituição Federal de 1988 — e presta uma homenagem ao político que marcou a luta pela democracia na Paraíba.
“Simão foi um deputado que exerceu na sua plenitude, durante o tempo todo que ocupou cargos públicos, essa defesa intransigente pela política de inclusão, pela política de habitação e pela justiça social. Essa homenagem foi mais do que justa, e eu fico muito feliz de estar aqui, não só celebrando a conquista dessas 60 famílias, mas deixando uma marca”, enfatizou o governador João Azevêdo, durante a solenidade de entrega das chaves das unidades habitacionais.
Na ocasião, o gestor destacou a qualidade do empreendimento, que proporcionará mais conforto e bem-estar às famílias contempladas. “Dignidade com qualidade de vida, acima de tudo, é isso que nós queremos”, reforçou.
O condomínio é composto por apartamentos de 45 m², com dois quartos, sala, varanda, cozinha/área de serviço, banheiro e vaga de garagem. Além disso, possui piscina, churrasqueira e um sistema de energia fotovoltaica para as áreas comuns. Mais de R$ 11,4 milhões foram investidos na estrutura.
Aos 27 anos, a terapeuta Milene Salustino sonhava com a casa desde a adolescência. Por isso, ao receber as chaves das mãos do governador João Azevêdo, representando as demais famílias, comemorou: “Eu estou muito empolgada, muito feliz por esse momento, que eu sonhei desde a adolescência . Eu sempre quis ter a minha casa. Eu não tinha condições de dar essa entrada, e o subsídio do governo me ajudou demais”.
Pouco antes da solenidade, o governador João Azevêdo visitou o apartamento do casal Gabriel Morais e Rayssa Rocha. “Eu estou com 25 anos e, há pouco mais de dois anos, estou tentando tirar a minha casinha. Eu creio que essa realização é muito importante para nós dois, que nos casamos há pouco mais de um ano. Receber essa chave é uma honra”, disse Gabriel Morais. “Hoje é um sonho realizado. Tanto eu quanto Gabriel estamos muito felizes. E agora os nossos planos é vir morar logo aqui. Viver pagando aluguel é muito ruim, porque é uma coisa que não é sua. Agora, a gente vai pagar uma coisa que é nossa”, emendou Rayssa.
Público-alvo
As unidades habitacionais foram destinadas a famílias com renda mensal bruta de R$ 1.320 a R$ 3 mil. Para seu financiamento, além da contrapartida do Governo do Estado no valor de R$ 23 mil, utilizada como entrada, cada família recebeu um subsídio do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), limitado a R$ 55 mil (a depender da renda familiar bruta). Cada apartamento custa de R$ 168 mil a R$ 172 mil.
A presidente da Companhia Estadual de Habitação Popular da Paraíba (Cehap), Emília Lima, ressaltou a importância de a iniciativa atingir um público antes excluído dos programas habitacionais.
“As famílias que ganhavam pouco mais de um salário mínimo sempre sobravam na fila dos conjuntos maiores, que são direcionados para quem ganha menos, e não tinham acesso à faixa de quem ganhava mais. Agora, eles não são mais ‘invisíveis’, porque o Governo do Estado entra com o diferencial da entrada e, junto com esse subsídio, faz com que essa faixa tenha condições de ter acesso a [um apartamento de] qualidade melhor”, pontuou.
Parcerias
O secretário de Infraestrutura, Deusdete Queiroga, frisou os avanços dos programas habitacionais, principalmente se confrontada à falta de investimentos da gestão federal anterior. “A gente viveu, há quatro anos, uma grande dificuldade, porque não tinha recurso federal. Hoje, com a retomada do Minha Casa, Minha Vida, esse projeto de habitação tem se intensificado e mais famílias serão contempladas até o fim de 2026”, assegurou. Conforme o secretário, o Governo do Estado pretende entregar cerca de 20 mil unidades habitacionais até o fim do atual mandato.
O presidente da Federação das Associações de Municípios da Paraíba (Famup), George Coelho, também ressaltou o papel das parcerias entre os entes federativos para o sucesso na implementação da política de habitação. “Esse é o princípio de tudo, a decisão política do governador de fazer com que esses equipamentos sejam contemplados para as pessoas que mais precisam, porque o governo tem recurso, mas precisa também de uma complementação, e o Governo Federal tem feito isso”, destacou.
Tributo
Entre os presentes na solenidade, a filha do ex-deputado Simão Almeida, Virginia Almeida, lembrou o legado de luta em defesa dos menos favorecidos deixado por seu pai, falecido há três anos e meio.
“Viver essa experiência de hoje alivia a saudade, porque a gente vê que o que ele deixou permanece. A gente cresceu vendo painho lutar pelos menos favorecidos, e eu acho que esse é o grande legado dele: se importar com os menos favorecidos. Ele sempre dizia para a gente assim: ‘o que é público é sagrado, porque não é só seu, é de todos’”, relatou.
A presidente da Junta Comercial do Estado (Jucep), Gregória Benário, destacou o trabalho desenvolvido pelo ex-deputado, que liderou a entidade, considerando-o uma referência de integridade, ética e também de continuidade. “Se a gente, hoje, tem uma geração de pessoas que estão à frente para lutar pelo diferencial, Simão tem essa participação ativa, essa contribuição”, comentou.
Nascido em 9 de janeiro de 1944, Simão Almeida é natural de Boa Vista, que, à época, ainda era distrito de Cabaceiras. O político, inclusive, foi autor do projeto de lei que emancipou seu município.
Engenheiro eletricista e advogado, Simão Almeida foi militante histórico do PCdoB, iniciando sua trajetória política nos movimentos estudantis dos anos 1960, com participação em organizações como a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular.
Conhecido como “o Camarada”, Simão Almeida foi um dos maiores expoentes do comunismo na Paraíba. Retornou à Paraíba em 1980, após um período de exílio, ajudando a reorganizar sindicatos e partidos. Considerado um homem à frente de seu tempo, pautou, em 1992, o que viria a ser a lei contra o assédio a mulheres, especialmente no ambiente de trabalho.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de agosto de 2025.