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Holofotes para a visibilidade feminina

publicado: 10/03/2023 00h00, última modificação: 10/03/2023 13h14
Em João Pessoa, o Teatro Santa Roza vira palco da mostra fotográfica ‘Teu olho me vê?’ para colocar em foco as mulheres reeducandas que trabalham no equipamento cultural
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Fotos: Milena Medeiros/Divulgação
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por Guilherme Cabral*

Treze imagens integram a exposição de fotografias Teu olho me vê?, que a multiartista paraibana Milena Medeiros está realizando no Teatro Santa Roza, situado no Centro da cidade de João Pessoa, até o dia 31 deste mês. A mostra, que celebra o ‘Mês das Mulheres’, objetiva dar visibilidade, ao registrar as reeducandas que trabalham cotidianamente nas dependências dessa casa de espetáculos, que é a mais antiga da Paraíba e a quinta do Brasil, inaugurada em 1889, e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1998. O acesso é gratuito para o público, que pode ver as fotos de terça-feira a domingo, sempre que ocorrerem eventos no local.

Milena Medeiros falou sobre a experiência de ter participado desse projeto no Teatro Santa Roza, localizado na Praça Pedro Américo. “Como pessoa, é uma honra e aprendizado retratar mulheres, principalmente em contextos sociais tão delicados quanto trabalhadoras reeducandas, na correria diária por um espaço em liberdade para sobreviver aos tantos obstáculos que a nossa sociedade impõe. O convite para fazer as imagens me chegou como um presente desafiador. As pessoas fotografadas para a exposição são mulheres potentes que devem ser admiradas pela jornada que traçam em suas individualidades e histórias”, disse ela.

A exposição fotográfica conta com registros que mesclam simplicidade e beleza de mulheres que cuidam da preservação do teatro, entre as quais as reeducandas Elayne Aires, Francielle ‘Léo’ Barros, Maria das Neves da Silva, Maria das Neves ‘Mary’ Sena, Raimunda Luiz do Nascimento e Severina do Ramo dos Santos.

“O Santa Roza, obviamente, foi escolhido não só por ser palco, mas por, simplesmente, elas trabalharem no local, há algum tempo. As fotos foram feitas no último dia 3, no jardim e palco do teatro, com algumas imagens captadas de forma espontânea e outras com poses escolhidas por elas”, explicou Milena Medeiros, que também é videomaker, roteirista e diretora de fotografia documental desde 2015.

Protagonistas

Já a coordenadora da Escola de Dança do Santa Roza, Itamira Barbosa, que idealizou a exposição Teu olho me vê?, disse que a mostra retrata as reeducandas que trabalham nos serviços gerais do teatro e estão em condições de retorno ao convívio social. “Até que ponto as pessoas que estão à margem da sociedade são vistas pelos outros de maneira digna e respeitosa? Muitas dessas pessoas são ignoradas por não serem vistas com o olhar que qualquer um merece, é como se a sua condição lhe impusesse o apagamento. A possibilidade de se colocar como protagonistas muda todo esse olhar”, comentou ela, ao justificar a escolha do título da mostra.

Para Barbosa, a meta é “colocar as companheiras de trabalho como protagonistas, nesse espaço de arte que é o Santa Roza, no qual elas estão aqui todos os dias, vendo outras pessoas brilharem. Tiveram, nesse momento, a possibilidade de experimentar e pertencer a esse espaço que é público e tão querido, na cidade de João Pessoa”, apontou ela. “Então, o nosso objetivo é homenagear a essas mulheres, que executam funções não tão visíveis por outras pessoas, para que aqueles que frequentam o Teatro Santa Roza vejam quem realiza essas funções. O registro, em foto, dessas mulheres possibilita mostrar aquelas que estão todos os dias do lado de quem passa, mas que pouco veem suas potências e conhecem suas histórias. São vidas construídas e mergulhadas à margem do sistema opressor vigente”.

Itamira Barbosa ainda destacou a importância de se disponibilizar um espaço para proporcionar visibilidade à atividade do ser humano. “Pessoas não são coisas e o que fazemos reflete, no outro, de muitas formas. Um olhar mais atento nos revela potências e fragilidades do outro, bem como a capacidade de ver para além da imagem de quem somos, podendo mostrar as nossas próprias potências e fragilidades. A invisibilidade se torna mais forte se você é uma mulher. O apagamento das capacidades da mulher é uma arma de reforço do machismo e mantém o patriarcado. Caso a mulher seja pobre e preta, a pancada é sempre maior, a solidão é presente e o fardo se torna mais pesado”, explicou a gestora da Escola de Dança.

Por fim, Milena Medeiros antecipou que seu projeto mais recente é o curta-metragem chamado de Jardim Soturno, com temática feminista. “Um núcleo familiar, filmado no Cordão Encarnado e Porto do Capim. Está em finalização e está previsto para lançamento em junho”, disse a multiartista.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 10 de março de 2023.