Jadson Falcão - Especial para A União
Nessa semana, mais dois escândalos de corrupção vieram à tona através da atuação da operação Lava-Jato no país, desta vez atingindo ícones da direita. A prisão do policial federal Newton Ishii e a abertura de processo contra Cláudia Cruz, esposa de Eduardo Cunha, chegam para somar à onda de escândalos que têm alcançado supostos heróis daqueles que atacaram o governo da presidente afastada Dilma Rousseff. O deputado estadual Frei Anastácio afirma que caso Cunha seja preso, mais escândalos virão à tona.
A prisão de Newton Ishii - mais conhecido como “Japonês da Federal” - na terça-feira (7), por corrupção chocou a população que se acostumou a ver o policial conduzindo reús da operação. O acusado de crime de facilitação do contrabando foi preso em Curitiba e o processo transitou em julgado, ou seja, não cabe recurso.
A abertura de ação por lavagem de dinheiro contra a esposa do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, já era esperada, e também aconteceu nessa semana, mais especificamente na quinta-feira (9). A jornalista Cláudia Cruz vai responder a processo por lavagem de dinheiro de mais de US$ 1 milhão provenientes de crimes praticados por Eduardo Cunha, além de ser acusada também de evasão de divisas.
Investigações apontam que Cláudia tinha consciência dos crimes que praticava, e é a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, por meio da qual custeou despesas de cartão de crédito no exterior, em montante superior a US$ 1 milhão num prazo de sete anos - de 2008 a 2014 -. De acordo com a investigação, o valor é totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito de Eduardo Cunha.
Para o cientista político Rubens Pinto Lyra, as prisões se inserem num quadro amplo de uma forte atuação do Judiciário e do Ministério Público que, pela primeira vez no Brasil, vêm mostrando sua autonomia, revelando uma grande roubalheira e punindo culpados.
Lyra afirma que vê a Lava Jato como um processo positivo, porém se diz preocupado com o que chama de “um certo direcionamento” no que tange as abordagens que o terceiro poder tem feito na luta contra a corrupção. “Nós tivemos o caso de Lula que foi ostensivo e ilegal, e nós temos outros casos, como por exemplo em Minas Gerais, onde uma juíza decretou a proibição de uma reunião de alunos do centro acadêmico de direito que iriam debater sobre o impeachment. Isso é absurdo e é uma violência contra a liberdade de expressão. O judiciário vem extrapolando das suas atribuições”, explicou Lyra.
O cientista político ressaltou a ambivalência que, para ele, existe quanto a operação. “De um lado você tem um processo importante que é o Judiciário fazendo seu papel e punindo pessoas que antes eram intocáveis. O problema é que isso se faz com a utilização de métodos que extrapolam os métodos que são próprios do Estado de Direito”, disse ele.
Rubens Pinto Lyra explicou ainda que se o presidente da Câmara for preso, ninguém sabe o que vai acontecer, “porque muitos acham que ele tem a chave de muitos segredos”. Para ele, “ a prisão de Eduardo Cunha será a manha de todas as prisões”, e caso aconteça, a prisão pode agravar ainda mais a situação do governo do presidente interino, Michel Temer.
O deputado estadual Frei Anastácio (PT) afirmou que o Brasil está sendo comandado não por Michel Temer, mas sim por Eduardo Cunha. “Ele é poderoso e manobra a Câmara. Você tira pela questão da Comissão de Ética, que está apurando o caso dele e levando o processo em banho-maria porque de fato ele tem muito poder. O governo Temer é um governo que além de não ter legitimidade, está sendo manobrado pela Câmara e não tem nenhuma força”, afirmou o deputado.
Frei Anastácio disse que a prisão do “Japonês da Federal” foi algo muito bom, “porque para essas pessoas que eram ‘os paladinos da moralidade’, a máscara está caindo”.
O deputado afirmou ainda que “a Justiça tem que fazer justiça“, independentemente do partido a qual pertença o acusado. “Seja do PT, do PMDB ou do PSDB, quem for bandido tem que ir para a cadeia mesmo”, afirmou ele, que completou dizendo que o governo de Michel Temer além de ser ilegítimo, “vai deixar o país numa situação muito pior do que ele diz que encontrou”.