“Eu vou cumprir o mandado. E vocês de agora em diante não se chamam Chiquinha ou Pedrinho, vocês todos são Lula e vão andar pelo país fazendo o que precisa ser feito!” Assim, com uma mensagem de força e inspiração para a militância, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesse sábado (7), em São Bernardo do Campo, que cumpriria o mandato do juiz Sérgio Moro.
Na quinta-feira (5), o juiz federal Sérgio Moro determinou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado no “caso triplex”. Desde então, Lula esteve acolhido e rodeado por milhares de homens e mulheres que vieram de diversos estados do país a São Bernardo, berço do petismo e de seu sindicalismo, e lá se mantiveram em constante vigília e resistência.
“Eles querem e eu vou atender o pedido deles. E quero fazer aqui uma transferência de responsabilidade: eles acham que o problema deles é só o Lula. Eles vão descobrir que o problema são todos vocês. Minhas ideias já estão pairando no ar e não tem como prendê-las!”, afirmou. “Eu não tenho mais idade para fazer outra coisa a não ser enfrentá-los olho no olho.”
A fala se deu em um caminhão diante da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde mais cedo acontecera um ato ecumênico em homenagem a Marisa Letícia Lula da Silva, que completaria 68 anos de idade.
Assim, Lula foi conduzido nos ombros dos homens e mulheres que com ele permaneceram nesses dias, na reprodução de um momento histórico e emocionante, até a sede do Sindicato.
“Quanto mais dias eles me deixarem lá, mais Lulas vão nascer neste país!”, afirmou, dizendo estar vivendo o momento de maior indignação que uma pessoa é capaz de viver. “Não adianta tentarem me parar. Eu não vou parar porque não sou ser humano, sou uma ideia e estou com vocês!”
Em sua fala, Lula lembrou algumas medidas do governo federal enquanto esteve à frente da Presidência. “Eu sonhei que era possível um metalúrgico sem diploma universitário fazer mais pela educação do que os diplomados. Eu sonhei que era possível diminuir a mortalidade infantil levanto leite, feijão e arroz para as crianças pudessem comer todo dia. Eu sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocar nas melhores universidades deste país para que a gente não tenha só juízes e procuradores da elite”.
“A história vai provar que quem cometeu o crime foi o delegado, o juiz que me acusou e o MP”
Lula foi firme ao chamar Sérgio Moro, o Ministério Público e a mídia à responsabilidade pela perseguição jurídico-midiática que vem sofrendo num processo sem provas e marcado por irregularidades.
“Eu sou único condenado por um apartamento que eles sabem que não é meu. E eu pensei que o Moro iria resolveu e ele mentiu que era meu. Eu não os perdoo por ter passado à sociedade a imagem de que sou bandido”, denunciou, lembrando que nenhum outro governo fez tanto pelo combate à corrupção quando os do PT. “Como presidente, eu fortaleci o Ministério Público e o Judiciário. E sempre disse: quanto mais forte a instituição, mais responsáveis precisam ser seus membros!”
“Deram a primazia de criar quase um clima de guerra negando a política. E eu digo todos os dias: nenhum deles dorme com a consciência tranquila da honestidade e inocência que eu estou.”
“Eu não me acho acima da lei. Se eu não acreditasse na justiça eu não teria feito um partido, teria feito a revolução. O que eu não posso admitir é um procurador que foi na tevê dizer que o PT é uma organização criminosa, e por isso o Lula é o chefe. E ainda disse que não precisa de provas porque tem convicções. Eu quero que ele guarde as convicções dele para os comparsas deles, para os asseclas dele, e não para mim.”
“Não sou contra a Lava Jato. Quero que ela continue prendendo rico. O que não pode é ir apelar com a opinião pública para fazer justiça. Quer fazer política? Largue a toga e vá fazer campanha.”
Dilma: “Somos da paz, e não da injustiça ou da violência”
A eterna companheira de Lula, Marisa Letícia, foi homenageada em ato ecumênico pela manhã. A vida, a garra e a incansável luta em defesa da democracia da ex-primeira dama, que esteve ao lado do ex-presidente Lula de 1973 a 2017, foram celebrados por milhares de pessoas diante do sindicato. “Não é fácil o que eles fizeram com a Marisa, o que eles fazem com meus filhos. A imprensa e o Ministério Público adiantaram a morte da Marisa “, afirmou Lula.
A cerimônia, que contou com a presença de milhares de pessoas, foi mais uma amostra da resistência dos que não corroboram com as arbitrariedades do judiciário brasileiro. É, ainda, uma poderosa demonstração de fé, como bem definiu a presidenta legitimamente eleita pelo povo, Dilma Rousseff, ao lembrar de oração atribuída a São Francisco de Assis.
“Lula é um homem de fé que se inspira num representante da Igreja Católica que teve compromisso com os mais pobres e que redigiu o primeiro documento contrário à escravidão. O grande inspirador do papa Francisco. Essa oração é de paz e hoje mostra mais do que nunca que somos da paz. Não somos da injustiça nem da violência”, anunciou Dilma, que prosseguiu com a oração. “Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde houver discórdia, que eu leve a união.”
Com a serenidade de quem está seguro de sua inocência, Lula denunciou o golpe que tirou do poder Dilma Rousseff e as inconsistências da Operação Lava Jato, defendeu o legado de seus governos e inspirou a militância a manter-se em estado de mobilização.
“Esse pescoço aqui eu não baixo. Vou de cabeça erguida e sair de peito estufado porque vou provar a minha inocência. Eu sairei dessa maior, mais forte, mais verdadeiro e inocente. Eu não tenho como pagar o carinho e respeito que vocês têm me dado nos últimos anos”, agradeceu. “Se o crime que eu cometi foi levar comida e educação para os pobres, eu digo que quero continuar sendo criminoso neste país!”
Da Redação da Agência PT de Notícias, de São Bernardo do Campo (SP)