O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, ontem, o deputado paraibano Hugo Motta (Republicanos-PB), favorito para suceder Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara a partir de fevereiro. O encontro ocorreu um dia depois de Lula encontrar Lira e discutir o bloqueio das emendas parlamentares e foi realizado na Granja do Torto, em Brasília, onde fica a residência de campo da presidência.
Na conversa com Motta, Lula procurou “amenizar” o clima ruim dentro da Câmara em relação às decisões do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre as emendas. Ontem, os deputados responderam aos questionamentos de Dino, mas o ministro manteve o bloqueio dos recursos e deu até as 20h de hoje para a Câmara prestar novos esclarecimentos “objetivamente”.
O intuito do presidente ao encontrar Motta foi evitar que a situação conflituosa do Legislativo com o Judiciário prejudique o andamento das pautas do Planalto, principalmente a aprovação do Orçamento de 2025, que ficou pendente de aprovação para o início do próximo ano.
O encontro de ontem contou com a participação do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. A reunião serviu também para o Planalto se aproximar mais de Motta e abrir um canal mais direto com o favorito para assumir a Câmara.
O encontro, que não estava previsto em agenda, ocorreu no fim da manhã de ontem e foi intermediado pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Lula entrou em campo para tentar distensionar a relação com a Câmara dos Deputados após ser alertado que o clima estava muito ruim para o governo.
A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de bloquear R$ 4,2 bilhões em emendas havia precipitado enorme descontentamento entre os líderes partidários, entre eles o próprio Motta.
Ciente dos recados de que a crise escalava e ameaça inviabilizar os planos do governo, no próximo ano, Lula chamou Lira no Alvorada para uma conversa na quinta-feira (26). O presidente disse que o governo não pretendia retaliar Lira ou politizar o assunto. Ouviu do comandante da Câmara que o governo também tinha responsabilidade no encaminhamento das emendas e que a entrada da PF no caso era um exagero.
A decisão de convidar Motta para uma reunião reflete a preocupação do Planalto com a governabilidade no próximo ano. Lula quer deixar claro que não há “jogo combinado” com o STF no assunto e que também tem interesse numa saída negociada.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 28 de dezembro de 2024.