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Moraes nega possibilidade de recuo

publicado: 19/08/2025 08h40, última modificação: 19/08/2025 08h40
Em entrevista a jornal dos EUA, ministro atribuiu postura de Trump a fake news espalhadas por Eduardo Bolsonaro
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Artigo publicado no The Washington Post analisa fama global que o brasileiro ganhou como “xerife da democracia” | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

por Felipe Pontes (Agência Brasil)*

O ministro Alexandre de Moraes, relator das ações sobre uma trama golpista que teria tentado manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder, disse “não haver a menor possibilidade de recuar nem mesmo um milímetro” na tramitação do caso.

A declaração foi dada em rara entrevista sobre o processo, concedida aos correspondentes internacionais Marina Dias e Terrence McCoy, autores de um perfil do ministro publicado, ontem, pelo jornal norte-americano The Washington Post.

“Vamos fazer o que é certo: vamos receber a denúncia, analisar as evidências, e quem tiver de ser condenado vai ser condenado, e quem tiver de ser absolvido vai ser absolvido”, afirmou Moraes, segundo a entrevista publicada em inglês.

O jornal descreve Moraes como alguém acostumado a grandes embates com os poderosos, nos quais assume com postura pessoal a máxima “nunca desista, sempre avance”.

Em outro trecho, o ministro declara “com tranquilidade”: “Não há chance de recuarmos do que devemos fazer”, referindo-se aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Moraes, o Brasil foi infectado por uma doença “autoritária” e faz parte do seu trabalho “aplicar a vacina”.

Para produzir o perfil, os repórteres entrevistaram 12 pessoas próximas a Moraes, entre amigos e colegas, a maior parte de forma anônima. Entre os interlocutores ouvidos, conforme o jornal, a maioria avalia que as decisões rígidas do ministro ajudaram a preservar a democracia brasileira num momento de avanço global do autoritarismo. Outros, porém, consideram que Moraes excede-se e prejudica a legitimidade do Supremo. No geral, ele é descrito como alguém de postura agressiva e propenso a demonstrações de poder efetivo.

O artigo também afirma que Moraes ganhou uma fama global peculiar de “xerife da democracia”, devido à repercussão de seus “abrangentes despachos” em países cada vez mais polarizados sobre temas como liberdade de expressão, tecnologia e poder estatal.

Entre as medidas citadas pelo jornal norte-americano como exemplos do modo de agir do ministro, está a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, ordenada no início do mês.

Sanções

O texto publicado pelo The Washington Post aborda, ainda, as sanções impostas contra Alexandre de Moraes pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O ministro atribuiu a postura da Casa Branca a “fake news” espalhadas nas redes sociais e pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair Bolsonaro.

Ao impor um “tarifaço” sobre produtos brasileiros, Trump deu como justificativa, por exemplo, o que chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro, por parte de Moraes e do Supremo. Além de cassar o visto do ministro e de seus familiares, o governo norte-americano também acionou, contra Moraes, a Lei Magnitsky, usada para punir supostos violadores de Direitos Humanos no exterior.

“O que precisamos fazer, e o que o Brasil está fazendo, é esclarecer as coisas”, conclui o ministro, na entrevista ao jornal.

O julgamento da ação penal em que Bolsonaro é réu por uma tentativa de golpe de Estado, junto a mais sete antigos aliados, foi marcado para começar em 2 de setembro, na Primeira Turma do Supremo, colegiado formado por cinco ministros: além de Moraes, Cristiano Zanin, Luiz Fux, Flávio Dino e Cármen Lúcia.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de agosto de 2025.