Notícias

Ele, que era presidente da Junta Comercial do Estado, morreu vítima de complicações da Covid-19, aos 77 anos

Morre em JP o ex-deputado e ‘camarada’ Simão Almeida

publicado: 30/12/2021 09h21, última modificação: 30/12/2021 09h21
Simão Almeida Walter Rafael Secom-PB.jpeg

por Ana Flávia Nóbrega, Iluska Cavalcante e Pettronio Torres*

Aos 77 anos, o presidente da Junta Comercial do Estado (Jucep) e ex-deputado estadual, Simão Almeida, teve falecimento confirmado ontem, por complicações de AVC hemorrágico e morte encefálica, causadas pela Covid-19. A morte ocorreu em um hospital particular de João Pessoa, onde estava internado para o tratamento da doença desde o dia 16 de dezembro. O início dos sintomas ocorreu no dia 10 do mesmo mês, ele chegou a ser intubado na Unidade de Terapia Intensiva do hospital, mas não resistiu.

Ele havia tomado duas doses da vacina contra a Covid-19, mas mesmo assim desenvolveu sintomas mais graves da doença devido a problemas respiratórios decorrentes de um histórico de tabagismo.

Após a confirmação de morte encefálica, a família decidiu pela doação de órgãos. Simão deixa esposa, Marinês, e seis filhos: Emília, Camila, Virgínia, João Pedro, João Maurício e Gabriel.

O velório de Simão Almeida teve início às 21h na Assembleia Legislativa da Paraíba até as 8h de hoje, seguindo cortejo para a cidade de Boa Vista, onde o ex-deputado será velado na Câmara Municipal e sepultado às 16h em um cemitério da sua cidade natal.

Militante histórico do PC do B, o ex-parlamentar era um dos principais expoentes do comunismo paraibano. O ‘Camarada’, como era tratado por alguns amigos mais próximos, comoveu autoridades da Paraíba durante o dia de ontem.

“Seu legado é exemplo para todas as gerações: homem íntegro, político perspicaz, foi um dos expoentes na reorganização das entidades sindicais na Paraíba e presença destacada nas greves e manifestações populares. Seu destemor será lembrado para sempre”, declarou Gregória Benário, presidente do partido, em nota.

Autoridades lamentam a morte do político

A morte foi confirmada em nota pelo PCdoB, no início da noite de ontem, partido em que Simão Almeida traçou sua trajetória política e ocupava o cargo de vice-presidente. Antes disso, autoridades como o governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania) e o presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba, Adriano Galdino (PSB), lamentaram o ocorrido.

João Azevêdo destacou a trajetória política de Simão Almeida, lembrando que, desde jovem, se mostrou um grande defensor da liberdade e legalidade democrática, tendo participado ativamente de movimentos estudantis e sociais. Essa posição motivou sua prisão e perseguição durante a ditadura militar, levando-o a viver na clandestinidade até a promulgação da anistia.

O governador João Azevêdo se solidarizou com os familiares e amigos, e expressou gratidão por todos os seus serviços prestados como auxiliar de governo, contribuindo para o desenvolvimento da Paraíba.

Como presidente da Jucep, Simão se mostrou um administrador comprometido com um trabalho voltado a prestar um atendimento eficiente ao paraibano, especialmente os empresários. Sua gestão foi marcada pela modernização dos serviços oferecidos ao público, com destaque para o ‘Jucep Digital’, lançado recentemente, que facilitou a tramitação dos processos de abertura, alteração e extinção de empresas pela internet, garantindo maior acessibilidade aos serviços prestados pelo órgão.

Já o presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba, o deputado Adriano Galdino, em nome de todos os parlamentares e servidores do Poder Legislativo paraibano, emitiu nota. “Neste momento de dor para toda a família nos solidarizamos com os familiares e amigos de Simão Almeida, um grande político do nosso estado, que deixa grandes lições e um legado de trabalho e luta pelo povo da Paraíba”, manifestou Galdino.

Amigos prestam homenagens ao companheiro

O escritor e amigo próximo, Waldir Porfírio, lamentou o falecimento de Simão relembrando sua trajetória de luta política e a surpresa pela rápida evolução do quadro. “É uma perda muito grande. Eu estava com ele fazendo um curso há, aproximadamente, 20 dias atrás. Para a gente foi uma surpresa muito grande [o falecimento]. Convivi com ele desde a década de 80, quando ele voltou para a Paraíba, após anos de anistia por conta da ditadura militar. Simão é uma pessoa muito respeitada, as palestras dele eram uma aula para que todos nós, respeitado por todas as forças políticas da esquerda à direita. Esse é um de seus grandes legados”, lamentou o amigo. 

Nas redes sociais, Waldir complementou: “não se pode dar adeus a quem deixou um legado tão grande”.

Já o amigo e secretário de Comunicação da Prefeitura de Campina Grande, jornalista Marcus Alfredo, publicou uma nota de pesar em sua rede social, antecipando a morte do deputado: “Registro, com pesar, a morte do ex-deputado Simão Almeida. Foi meu ídolo, na medida em que passei a conhecê-lo, no início dos anos 90, oportunidade em que era assessorado na Assembleia Legislativa da Paraíba pelo querido amigo Waldir Porfírio seu chefe de Gabinete. Inteligente, sério, brincalhão, ciente do seu papel histórico, sonhador e batalhador. Este foi o Simão a quem conheci, com sua voz grave e rascante e uma elegância natural na relação com as pessoas. Uma fera no exercício do mandato. Um gigante como ser humano. Descansa em paz, amigo”, escreveu.

Além disso, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) também se manifestou. “Recebemos a triste notícia da partida do ex-deputado Simão Almeida. Combativo, dedicado às causas nobres da política e compenetrado em suas atividades parlamentares, Simão muito contribuiu para o desenvolvimento do nosso estado. Que Deus o acolha na Vida Eterna”, escreveu o parlamentar.

A presidente do PCdoB nacional, Luciana Santos, também lamentou a morte do político: “Representou com garra e sabedoria nossa legenda em várias eleições, e muito contribuiu para elevar o nível de organização e mobilização da classe trabalhadora e do povo paraibano”.

Eleições, ações sociais e vítima da ditadura


O advogado, ex-deputado estadual e um dos maiores expoentes do comunismo paraibano, foi também ex-presidente do PCdoB e, atualmente, ocupava o cargo de vice-presidente do partido no estado. Simão de Almeida Neto é natural de Boa Vista, onde nasceu no dia 9 de janeiro de 1944. Ainda quando a cidade era distrito de Cabaceiras, Simão criou o projeto de lei de emancipação do município.

Ao todo, disputou nove eleições em sua carreira política. Sendo a primeira eleição em 1988, quando foi candidato a vice-prefeito na chapa de Antonio Arroxelas, que ficou na quarta posição entre sete candidatos. No pleito de 1990, elegeu-se deputado estadual com 4.538 votos. Em 1994, obteve 7.615 votos, mas não conseguiu a reeleição. Em 1996, ele candidatou-se a vice na chapa de Lúcia Braga (PDT), que levou a disputa para o segundo turno contra Cícero Lucena (PMDB), que elegeu-se prefeito de João Pessoa.

Dois anos depois, disputou uma vaga na Câmara Federal, recebendo 11.820 votos, não conseguindo se eleger. Ele também não conseguiu uma vaga na Câmara Municipal em 2000, obtendo 1.322 sufrágios. Seu melhor desempenho eleitoral, em número de votos, foi em 2002, quando candidatou-se ao Senado e recebeu 113.405 votos, sendo 50.711 só dos eleitores de João Pessoa. Nas eleições seguintes não disputou nenhum cargo eletivo, ou seja em 2004 e 2008, e não foi bem-sucedido nas eleições de 2006 (4.291 votos para deputado estadual) e 2010 (3.816 votos).

A trajetória política, no entanto, foi iniciada bem antes. Simão Almeida foi militante do movimento estudantil desde a década de 60, quando ainda era secundarista e, posteriormente, na universidade participando da reorganização dos movimentos durante a ditadura militar. Por conta disso, foi perseguido durante anos precisando viver na clandestinidade. Sua primeira filha, inclusive, teve o nascimento em um dos hospitais das Forças Armadas, já que após descoberta do local de sua casa, a esposa de Simão Almeida foi levada por força da ditadura.

Simão voltou à Paraíba em 1980, onde ajudou a fundar e reoganizar entidades sindicais e partidárias. Considerado homem à frente de seu tempo, ele levantou a pauta do que viria a ser a lei contra o assédio contra mulheres, principalmente nos ambientes de trabalho, já em 1992.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 30 de dezembro de 2021