A Paraíba ganhou os holofotes da política nacional, desde a indicação do deputado federal Hugo Motta (Republicanos) para a presidência da Câmara dos Deputados. O parlamentar paraibano entrou na disputa pela Mesa Diretora da Câmara após a desistência do presidente de seu partido, Marcos Pereira, no dia 3 de setembro.
O cargo da presidência tem destaque no Parlamento, principalmente, por pautar a agenda da Casa. De acordo com a Resolução nº 17, de 1989, do Regimento Interno da Câmara, dentre as atribuições da presidência, estão: presidir as sessões do Plenário, manter a ordem, suspender a sessão quando necessário e nomear comissão especial.
Ascensão
Hugo Motta é natural de João Pessoa e começou sua trajetória política no, então, PMDB, sendo que em 2010, aos 21 anos, foi eleito o deputado federal mais jovem, obtendo 86.150 votos. Em 2014, foi reeleito pelo PMDB, com 123.686 votos. Nas eleições de 2018, foi novamente eleito, agora pelo PRB, numa ampla coligação formada entre PSB, PTB, PRB, PT, DEM, PDT, PC do B e Podemos, o qual alcançou 92.468 votos. Em 2022, pelo Republicanos, é reeleito com 158.171, considerado o candidato mais votado da Paraíba.
O deputado construiu uma trajetória de proximidade com importantes lideranças do “centrão” e da Câmara dos Deputados, como Eduardo Cunha (PMDB), Rodrigo Maia (PSDB) e Arthur Lira (PP). A partir de 2014, Cunha alavancou sua carreira ao posicioná-lo como presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle e, no ano seguinte, como presidente da CPI da Petrobras, que tratava sobre denúncias, principalmente contra o PT, durante a Operação Lava Jato. Foi também relator de projetos como a PEC dos Precatórios e a PEC Emergencial, e participou da aprovação da Reforma Trabalhista e do Teto de Gastos durante o governo de Michel Temer (MDB). No governo de Jair Bolsonaro (PL), atuou na privatização da Eletrobras e dos Correios.
Embora tenha sido um aliado próximo de Cunha, Motta acabou distanciando-se dele após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), não comparecendo à sessão que cassou o mandato do ex-padrinho político. Com a queda de Cunha, ele manteve sua relevância, ganhando apoio de Rodrigo Maia e, mais recentemente, de Arthur Lira. Maia confiou a ele a relatoria de projetos importantes, como a PEC do Orçamento de Guerra, e sob Lira, Motta liderou a renegociação das dívidas do FIES. Sua habilidade de transitar entre diferentes correntes políticas também se reflete na aliança com líderes como Ciro Nogueira (PP), mantendo-se próximo a grupos tanto do governo quanto da oposição.
Sua influência estende-se além do âmbito legislativo. Em 2023, foi eleito vice-presidente nacional do Republicanos e mantém alianças com importantes bancadas, como a evangélica e a ruralista. Atualmente com 35 anos, foi indicado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), apontado como favorito para a sucessão da Mesa Diretora da Câmara, realizada em fevereiro de 2025.
O cargo da presidência tem destaque por pautar a agenda da Casa
Natural de João Pessoa, mas com influência política em Patos
Apesar de ter nascido na capital, sua influência política encontra-se no município de Patos, quarta maior cidade da Paraíba, com 103.165 habitantes, segundo o último censo, publicado em 2022.
A trajetória política da família de Hugo Motta é marcada por forte presença no cenário estadual. Essa tradição familiar foi importante para estabelecer uma base política sólida na região, facilitando o caminho para novas gerações, como do próprio Hugo Motta.
O avô paterno de Hugo Motta, Edivaldo Fernandes Motta, contribuiu para consolidar a influência política do clã Motta na região do sertão paraibano, desde os anos de 1950, assumindo os cargos de deputado estadual e federal, assim como prefeito de Patos. Além disso, foi deputado constituinte, juntamente com Lula. Em 1992, sua esposa Francisca Motta assumiu a sucessão política da família, após a sua morte.
A avó materna de Motta, Francisca (Chica) Motta, iniciou sua trajetória política em 1992, como vice-prefeita de Patos. Em 1994, foi eleita deputada estadual pela primeira vez, com 16.800 votos, e reeleita, sucessivamente, como deputada estadual até ser eleita prefeita de Patos, em 2012, obtendo 53,81% dos votos válidos, sendo a segunda mulher à frente do executivo municipal. Em 2022, elegeu-se pela sexta vez para o cargo de deputada estadual pelo Republicanos, com 40.230 votos.
Seu pai, Nabor Wanderley, tem uma longa carreira política, especialmente em Patos, onde já foi eleito prefeito por cinco mandatos, nos anos de 2004, 2008, 2016, 2020 e reeleito em 2024. Ele também atuou como deputado estadual pela Paraíba, entre 2010 e 2016, consolidando-se como uma figura relevante na região.
Famílias na política
Para o professor e analista político, Lúcio Flávio Vasconcelos, a família Wanderley-Motta é um grupo com tradição na política estadual, desde os anos de 1950 e 1960. Segundo o analista, o grupo tem uma característica conservadora e segue uma tradição política percebida no nordeste do país, com a “hegemonia dessa política no processo político do nosso estado”.
De acordo com o professor, a Paraíba tem três famílias predominantes na política estadual, a Wanderley-Motta, a Cunha Lima e a Ribeiro. “Você tem atualmente três famílias, que têm uma projeção estadual importante. Tem uma família que está, em termos políticos, em declínio, que é a família Cunha Lima. (...) Tem um outro grupo familiar muito forte que é a família Ribeiro. (...) E tem a família de Hugo Motta, que tem uma projeção estadual muito forte, muito intensa, aqui [e que], consequentemente, vai ocupar o cenário nacional, caso venha a ser presidente da Câmara”, destaca o professor.
Para Vasconcelos, esse cenário apresenta-se como uma tradição, muito percebida na região nordeste do país, com grupos familiares que se perpetuam no poder, através de sucessivas eleições. Ele destaca, ainda, que tais grupos têm um perfil de centro-direita. “Você não tem extremismos nesses três núcleos familiares que eu apresentei, são grupos tradicionais, grupos vinculados à questão da posse de terra, à questão política com muito força, mas que não têm um perfil de extrema direita”, pontuou.
Controvérsias
Hugo Motta e sua família têm sido alvo de investigações relacionadas ao uso de emendas parlamentares e contratos públicos. Uma das investigações mais recentes, conduzida pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU), envolveu a suspeita de desvio de recursos para obras no município de Patos, cujo prefeito é Nabor Wanderley, pai de Motta. As investigações apontaram para superfaturamento, conluio entre empresas e manipulação de licitações na execução de obras de infraestrutura financiadas com recursos do “orçamento secreto”, já considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Embora Hugo Motta tenha negado envolvimento direto e não seja oficialmente investigado, há indícios de seu suposto envolvimento na liberação das emendas para essas obras. Somente em emendas individuais, nos últimos cinco anos, o deputado já direcionou cerca de R$10 milhões para a gestão de seu pai, em Patos. As investigações incluíram buscas e apreensões, além do bloqueio de bens avaliados em R$269 mil, referentes a superfaturamento encontrado nos contratos. Além disso, a empresa Engelplan, contratada para a execução das obras, é suspeita de envolvimento em práticas irregulares e superfaturamento.
Em 2016, sua avó, Francisca Motta, foi afastada da Prefeitura de Patos, acusada de participação no desvio de R$11 milhões da prefeitura com contratos de aluguel de carros. Em 2021, Francisca foi absolvida. A mãe de Hugo Motta, Ilanna Motta, ocupava o cargo de chefe de gabinete da prefeitura na época e também foi presa na mesma operação, mas depois absolvida.
Seu pai, Nabor Wanderley, é investigado e responde a processos no Judiciário e no Tribunal de Contas da Paraíba (TCE-PB), acusado de desvio de dinheiro da prefeitura. No TCE-PB, Nabor está sendo acusado de conceder irregularmente R$1,4 milhão em gratificações a funcionários da prefeitura. O Ministério Público de Contas estadual solicita a devolução dos valores aos cofres públicos. A defesa de Nabor nega as acusações e ainda não apresentou sua defesa no processo.
Até o fechamento desta edição, o deputado alcançou um amplo apoio à sua candidatura, reunindo, até mesmo os dois maiores partidos da Casa, PL e PT. Além deles, MDB, Progressistas, Republicanos, Podemos, PC do B e PV também declararam apoio ao paraibano. Com essa composição, Motta totaliza, em tese, 324 votos em torno de sua candidatura. A votação será realizada em fevereiro de 2025, sendo o voto secreto.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 03 de novembro de 2024.