O Ranking de Competitividade dos Municípios 2025, lançado pelo Centro de Liderança Pública em agosto e referente ao ano de 2024, revela um contraste marcante na Paraíba. João Pessoa aparece como caso de sucesso, consolidando-se entre as capitais mais competitivas do Nordeste, com avanços em gestão pública, sustentabilidade fiscal, transparência e qualidade dos serviços. Por outro lado, Bayeux figura entre os piores desempenhos do país, resultado de limitações estruturais e institucionais que comprometem saúde, educação e inserção econômica. O quadro evidencia como a capacidade de gestão e a disciplina fiscal influenciam diretamente a qualidade de vida da população e a atração de investimentos.
Segundo o documento, a competitividade, no âmbito da gestão pública, refere-se à “capacidade de planejamento, articulação e execução por parte do Poder Público, em seus territórios de responsabilidade, na promoção do bem-estar social, atendimento às necessidades da população e geração de um ambiente de negócios favorável”. Assim, o levantamento compara 418 cidades brasileiras com mais de 80 mil habitantes em 65 indicadores, distribuídos em 13 pilares e três dimensões: Instituições (como sustentabilidade fiscal e funcionamento da máquina pública), Sociedade (saúde, educação, segurança, saneamento e meio ambiente) e Economia (dinamismo, inovação, capital humano e telecomunicações).
A capital paraibana conquistou, no resultado geral, a nota de 51,05 e aparece na oitava posição entre todos os municípios do Nordeste e no 157o lugar do país. Analisando detalhadamente os fatores que levaram a esse cenário, é possível perceber que João Pessoa registrou avanços significativos em diferentes áreas e alcançou posições de destaque nacional.
No Saneamento, a cidade está entre os primeiros lugares do Brasil em cobertura da coleta de resíduos domésticos e destinação adequada do lixo, com índice de 100% e nota máxima nas avaliações. Outro indicador em que João Pessoa conquistou a primeira posição nacional foi Transparência Municipal.
Quanto ao Funcionamento da Máquina Pública, a cidade teve um salto de 31 posições, alcançando o 32o lugar, com melhorias na informação contábil e fiscal e na qualificação de servidores. Já no pilar Capital Humano, João Pessoa está na 58a colocação nacional, após subir 23 posições, indicando progressos na formação e na retenção de talentos. Também houve avanços nos pilares Meio Ambiente, de 17 posições, com destaque para a recuperação de áreas degradadas; e Telecomunicações, que registrou um salto de 46 degraus, reflexo da expansão da infraestrutura digital.
Campina Grande também apresentou evolução significativa em seus dados. Com a nota 48,06, é a 19a cidade do Nordeste. A saúde foi o fator de maior destaque, com a cidade subindo 231 posições em Acesso à Saúde e alcançando o 69o lugar nacional nesse pilar.
Entre os aspectos que explicam esse salto, estão a Cobertura da Atenção Primária à Saúde (APS), na qual Campina é líder estadual, segunda colocada do Nordeste e terceira do país; a redução da desnutrição infantil, indicador de melhor desempenho na Paraíba; e a queda na mortalidade por causas evitáveis e na mortalidade materna, nas quais aparece como segunda melhor colocada no estado.
Avaliação
Segundo o economista João Bosco Ferraz, os avanços refletem uma gestão consistente nas duas cidades, e não apenas ações pontuais. “João Pessoa e Campina Grande destacam-se por um sistema de gestão sólido, com disciplina fiscal, transparência, equipes qualificadas, uso de metas e dados, além de execução robusta em APS, saneamento, meio ambiente e governo digital”, afirma.
O especialista detalha, ainda, os setores em que cada município tem se destacado mais. “João Pessoa combina equilíbrio fiscal, governo digital e gestão por resultados com entregas visíveis em saúde, educação, infraestrutura e meio ambiente. Campina Grande, por sua vez, tem tração em inovação — e João Pessoa agora está avançando muito na área —, tecnologia e Ensino Superior, o que eleva produtividade e atratividade. Em conjunto, as duas cidades formam um dueto de maior capacidade estatal e densidade econômica, com potencial de puxar a média do estado, algo que pode ser amplificado por consórcios intermunicipais e cooperação técnica para difundir capacidades aos demais municípios”, explica.
Para o presidente da Federação das Associações de Municípios da Paraíba (Famup), George Coelho, os resultados refletem o porte das cidades quanto a sua capacidade de atrair investimentos e modernizar os serviços públicos. Segundo ele, a competitividade está diretamente ligada ao dinamismo econômico e ao papel estratégico desses municípios no desenvolvimento estadual. “João Pessoa cresce com o turismo e novos investimentos; Campina é um polo tecnológico e universitário que movimenta toda a região. Isso fortalece os serviços e exige uma administração pública cada vez mais qualificada”, frisou.
Intercâmbio entre gestões é caminho para melhoria
Apesar do destaque de João Pessoa e Campina Grande, a realidade da maioria dos municípios paraibanos é de limitações financeiras e estruturais. Segundo George Coelho, 61% das cidades do estado são de pequeno e médio porte e dependem quase exclusivamente do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). “O Sertão, o Cariri e o Curimataú concentram os maiores desafios. Há avanços com a chegada das energias renováveis e uma política municipalista mais forte, mas entraves em áreas como agricultura e indústria ainda dificultam investimentos”, destacou.
A única cidade sertaneja a ser analisada no Ranking de Competitividade dos Municípios foi Patos. Ela obteve a nota geral 47,85, ocupando a 20a posição no Nordeste e o 243o lugar no ranking geral, com melhorias em indicadores sociais, mas ainda enfrentando desafios em saneamento e infraestrutura. No Acesso à Saúde, contudo, o município do Sertão figura entre os 100 melhores do país.
Nem todos os municípios paraibanos, porém, tiveram desempenho positivo. Foi o caso de Bayeux — com nota 34,26, sendo o 96o município nordestino e o 413o nacional — e Santa Rita — avaliada com a nota 39,92, ocupando a 87a posição regional e a 393a do país. Especialmente no pilar Qualidade da Educação, ambos aparecem entre os cinco últimos colocados. De acordo com o documento, o cenário explica-se por fatores como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Ensino Fundamental, no qual as cidades estão entre as 50 piores colocações para os anos iniciais e entre os 30 de menor desempenho para os anos finais.
No caso de Bayeux, a situação é ainda mais crítica. Isso porque o município figura entre as cinco últimas colocações no pilar Qualidade da Educação; na penúltima posição nacional em mortalidade por causas evitáveis e obesidade na infância; e entre os cinco piores desempenhos em Inserção Econômica, após queda de 286 posições em relação ao ranking anterior.
Apesar dos resultados negativos em vários indicadores, a gestão municipal de Bayeux afirma que tem trabalhado para reverter esse cenário. Ao apresentar as diretrizes que nortearão a Educação nos próximos anos, o secretário de Educação, Tiago Bernardino, explicou que o plano foi estruturado para enfrentar os principais desafios da rede, com foco em resultados concretos.
“Nosso plano de ação está organizado em 12 eixos estratégicos, com metas e indicadores claros. O foco vai desde a alfabetização e aprendizagens essenciais, passando pela expansão da Educação Infantil, formação continuada dos professores e maior tempo de aprendizagem, até inclusão, infraestrutura adequada, inovação tecnológica e participação ativa da família e da comunidade. A ideia é garantir uma educação mais justa, inclusiva e de qualidade para todos os estudantes de Bayeux”, destacou.
Para João Bosco Ferraz, os entraves enfrentados por esses municípios estão diretamente ligados à fragilidade de suas estruturas administrativas. “Bayeux e Santa Rita enfrentam travas estruturais e institucionais que limitam resultados — base fiscal frágil, baixa capacidade estatal, serviços essenciais com pouca densidade operacional, ambiente de negócios complexo e integração metropolitana insuficiente com a capital. Isso se traduz em indicadores persistentemente baixos em saúde, educação e inserção econômica”, aponta.
Ele também exemplifica caminhos para que as gestões municipais melhorem seus índices, avaliando que é possível mirar em João Pessoa como um padrão a ser seguido na Região Metropolitana. “Primeiro, [é preciso] arrumar a casa fiscal e montar uma sala de situação com metas semanais ou quinzenais; em seguida, virar a chave dos serviços essenciais, com APS robusta e alfabetização na idade certa; contratar limpeza urbana e iluminação por desempenho; simplificar radicalmente alvarás e licenças para destravar a atividade produtiva; e, por fim, requalificar territórios críticos e integrar políticas com João Pessoa em mobilidade, saúde e segurança. Com projetos bem estruturados, a governança melhora, o financiamento aparece e os indicadores reagem”, defende.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 21 de setembro de 2025.