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ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Paraíba tem única prefeita indígena

publicado: 09/10/2024 09h20, última modificação: 09/10/2024 09h20
De etnia Potiguara, Ellys Sônia da Silva, a Ninha (PSD), vai governar Marcação, no Litoral Norte do estado

por Filipe Cabral*

Ninha venceu a disputa contra Angélica Barreto e comemorou a vitória com carreata | Foto: Divulgação

A única mulher indígena eleita prefeita nas Eleições Municipais 2024 é paraibana. De etnia Potiguara, Ellys Sônia Oliveira Gomes da Silva, a Ninha (PSD), foi eleita prefeita de Marcação, no Litoral Norte do estado, com 4.922 votos, o que corresponde a 76,79% dos votos válidos e à maior votação da história do município.

Ninha venceu a disputa contra Angélica Barreto (Republicanos) — também Potiguara —, que obteve 1.496 votos (23,31%) no pleito.

Nascida e criada em Marcação, a candidata sucederá a atual prefeita do município, Eliselma Oliveira, a Lili (DEM) — que além de única prefeita indígena do Brasil é também prima de Ninha.

“Meus avós sempre foram pessoas que lutaram para o desenvolvimento do município. Tive a minha tia como a primeira mulher vice-prefeita da cidade e, hoje, minha prima Lili, que está encerrando o seu segundo mandato, me lançou nessa linha de sucessão e eu abracei, com muito amor e carinho, essa missão de cuidar do nosso povo e dar continuidade ao trabalho que ela executou”, declarou.

Sobre os planos para a gestão, Ninha disse que terá como prioridade ampliar o acesso a serviços públicos, especialmente para os moradores das 15 aldeias indígenas existentes na cidade. “A prefeita Lili executou um trabalho belíssimo, mas precisamos ainda fazer muitas coisas, como a pavimentação de estradas e a construção de escolas e unidades básicas de saúde”, afirmou.

A futura prefeita ainda comentou sobre o fato de ser a única mulher indígena de todo o país a ser eleita para ocupar o Executivo municipal. “É um orgulho poder representar o meu povo”, disse.

“O povo indígena, a vida toda, foi muito oprimido, sem representatividade. É muito importante termos, hoje, uma mulher, uma gestora indígena que conhece de perto as necessidades do nosso povo e que vai lutar pelos nossos direitos, defendendo a nossa cultura, a nossa língua, as nossas tradições. Eu quero levar isso não só para a Paraíba como também para o Brasil”, acrescentou.

 Câmara

Além do Executivo, a representatividade indígena também estará garantida no Legislativo municipal de Marcação pelos próximos quatro anos. Todos os nove vereadores eleitos na cidade se autodeclaram indígenas.

A partir de 2025, a Câmara Municipal de Marcação será composta por cinco homens e quatro mulheres. Desse total, apenas três foram reeleitos: Rafa de Camurupim (PSD), Kelly Bernardo (PSD) e Josa de Camurupim (União).

O único candidato não indígena eleito na cidade foi o vice-prefeito Zé Pedro (União Brasil), que se autodeclarou pardo para a Justiça Eleitoral.

De acordo com o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município de marcação possui 8.999 habitantes, dos quais 88,08% são indígenas — o que corresponde a 7.926 pessoas.

Representação

Além dos representantes de Marcação, outros 12 candidatos indígenas foram eleitos na Paraíba, no último domingo, sete deles em Baía da Traição, município do Litoral Norte vizinho à Marcação. Foram seis candidatos a vereador e o candidato a vice-prefeito Toninho de Rosa. Quatro vereadores indígenas também foram eleitos em Rio Tinto e um em Guarabira.

Em todo o Brasil, foram eleitos sete prefeitos indígenas, sendo Ninha a única mulher. Na Região Norte, elegeram-se Egmar Curubinha (PT), da etnia tariana, em São Gabriel da Cachoeira (AM); Dr. Raposo (PP), da etnia makuxí, em Normandia (RR); e Tuaua Benísio (Rede), também da etnia makuxí, em Uiramutã (RR).

Em Minas Gerais, foram eleitos Jair Xakriabá (Republicanos), em de São João das Missões, e Anastácio Guedes (PT), no município de Manga, ambos da etnia xacriabá. No Nordeste, o Cacique Marcos (Republicanos), da etnia xucuru, foi eleito prefeito de Pesqueira, em Pernambuco.

Para o cargo de vereador, de acordo com os dados do sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foram eleitos 214 indígenas em todo país, sendo 180 homens e 34 mulheres.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 09 de outubro de 2024.