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PB foi um dos que mais reelegeram

publicado: 14/10/2024 09h33, última modificação: 14/10/2024 09h33
Estado teve 103 candidatos que tentaram continuar no poder e 95 conseguiram os votos para se manter no cargo
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Estudiosos argumentam que os resultados não surpreendem uma vez que quem está no cargo costuma ter algumas vantagens na disputa eleitoral municipal | Foto: João Pedrosa

Concluído o primeiro turno de votações das Eleições Municipais 2024, a Paraíba se destacou no cenário nacional como um dos estados brasileiros que mais reelegeu prefeitos e vereadores. Dos 103 candidatos paraibanos que tentaram estender o mandato no Executivo municipal por mais quatro anos, 95 obtiveram sucesso, o que corresponde a uma taxa de reeleição de 92,52% — a quarta maior do Brasil, atrás apenas dos estados de Roraima (100%), Alagoas (98,18%) e Acre (92,85%). No caso dos postulantes ao Legislativo, dos 1.546 candidatos que buscavam prolongar os mandatos nas câmaras municipais paraibanas, 1.071 foram reeleitos, garantindo uma taxa de 69,29% — a segunda maior do país. O Rio Grande do Norte registrou a maior média, com 70,05%.

Em todo o Brasil, dos mais de três mil prefeitos que buscaram se reeleger nas eleições municipais de 2024, 80,6% tiveram sucesso no pleito do último domingo (6). Enquanto 590 foram derrotados pelos adversários, 2.444 conseguiram mais quatro anos. Já entre os vereadores, a média nacional de reeleitos foi de 40,79%. Conforme revelam os resultados da apuração divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 58.400 vereadores eleitos pelos brasileiros, 23.823 darão sequência aos mandatos a partir de 2025.

De acordo com o doutor em Ciência Política, João Paulo Ocke de Freitas, tais resultados não surpreendem pois, segundo ele, os “incumbentes” (quem está no cargo) costumam ter algumas vantagens na disputa eleitoral. “De maneira geral, a regra — e é claro que existem exceções — é que quem ocupa a cadeira do governante geralmente vença, porque é quem está ´com a caneta na mão´, tem o orçamento, uma rede de relações de apoio e coalizão bem articulada, é quem realiza as obras que atraem a atenção do eleitorado”, explicou.

Ocke destaca que a“caneta na mão” favorece na eleição | Foto: Arquivo pessoal

O cientista político explicou que, embora cada município tenha uma realidade diferente, o alto índice de reeleição no estado pode indicar uma boa avaliação dos gestores paraibanos pelos cidadãos. Mas, conforme alerta, esta não é a única explicação. De acordo com Ocke de Freitas, o volume de recursos recebidos nos últimos anos pelos municípios em questão, por meio de emendas parlamentares, pode ter sido um fator decisivo para o bom desempenho dos candidatos à reeleição.

“A gente sabe que recentemente as emendas parlamentares tiveram um papel importante no fortalecimento de alguns grupos políticos regionais, e nós sabemos também que a dinâmica da distribuição de emendas e do acesso de parlamentares a emendas mudou nos últimos anos. Esse aumento da verba das emendas parlamentares pode ter cevado algumas candidaturas e algumas prefeituras com obras de impacto, especialmente aquelas realizadas nos últimos meses antes da eleição”, pontuou.

Ainda sobre os fatores que podem ter influenciado a alta taxa de reeleitos no estado, o pesquisador chama atenção para a baixa competitividade dos opositores.

“É preciso avaliar com cuidado, pois cada município tem sua especificidade. Pode ser que o prefeito tenha sido bom, pode ser que o dinheiro das emendas parlamentares tenha cevado a prefeitura nos últimos meses, mas pode ser também que os candidatos adversários desses prefeitos não tenham um legado para apresentar, não tenham experiência política ou ainda não tenham, realmente, aquilo que nós chamamos de competitividade eleitoral”, observou.

Eleições

De acordo com os dados do TSE, dos 3,2 milhões de eleitores paraibanos aptos a votar nas eleições deste ano, 2,7 milhões compareceram às urnas no último domingo, o que representa uma taxa de participação de 84,58%. Em 2020, nas últimas eleições municipais, a média foi de 84,21%.

Ainda segundo o TSE, foram registrados na Paraíba 2.548.469 votos aos concorrentes (93,42%), 118.740 nulos (4,35%) e 60.691 votos em branco (2,22%). Em 2020, os votos nulos somaram 135.752 (5,43%) e os brancos 60.846 (2,44%).

Os partidos que mais receberam votos no primeiro turno deste ano, foram: o PSB, com 594.938 (23,53%); o PP, com 432.215 (17,09%); Republicanos, com 415.482 (16,43%); União Brasil, com 284.020 (11,23%); e MDB, com 204.233 (8,08%). O PCO foi o partido que obteve o menor número de votos no estado, com apenas 299 (0,01%).

Como era esperado, os candidatos que obtiveram as maiores votações foram os que concorreram às prefeituras dos maiores colégios eleitorais do estado: João Pessoa e Campina Grande. O atual prefeito e candidato à reeleição na capital, Cícero Lucena (PP) foi o mais votado no estado, com 205.122 votos. Em seguida, vem o prefeito e candidato à reeleição em Campina Grande, Bruno Cunha Lima (União Brasil). Na sequência, vêm os segundos colocados nas duas cidades: Marcelo Queiroga (PL), com 90.840 votos em João Pessoa, e Dr. Jhony (PSB), com 79.741 em Campina Grande.

Na lista dos mais votados do estado, também aparecem os candidatos derrotados em João Pessoa, Ruy Carneiro (Podemos), com 69.712 votos, e Luciano Cartaxo (PT), com 49.110. O candidato a prefeito eleito em Santa Rita, Jackson Alvino (PP), também se destacou, com 38.241 votos, no município.

De modo geral, ainda segundo os dados divulgados pelo TSE, os candidatos mais votados na Paraíba foram homens (83%), brancos (64%), casados (79%), com idade entre 50 e 59 anos (29%) e Ensino Superior completo (63%). Na análise por ocupação, as maiores votações foram obtidas por prefeitos (26%), empresários (15%), médicos (12%) e advogados (5%).

Foram disponibilizados pela Justiça Eleitoral, 1.825 locais de votação, com 10.626 seções eleitorais, 41.238 mesários, 10.339 urnas eletrônicas de seção e 1.277 urnas de contingência. O estado foi o primeiro do Brasil a totalizar os votos, o que ocorreu exatamente às 19h44.

Favoritismo no segundo turno é para quem já ocupa o cargo

Em João Pessoa e Campina Grande, a disputa pelas prefeituras será definida no dia 27 de outubro, quando será realizado o segundo turno de votações. Na capital, o pleito será decidido entre Cícero Lucena e Marcelo Queiroga. O primeiro obteve 49,16% dos votos válidos na cidade, enquanto o segundo ficou com 21,77%. A diferença de votos entre os dois, no primeiro turno, foi de 114.282 votos.

Em Campina Grande, Bruno Cunha Lima saiu na frente com 48,22% dos votos válidos e concorrerá no segundo turno com Dr. Jhony, que alcançou 34,58%. A diferença entre os dois foi de 31.336 votos.

Segundo João Paulo Ocke de Freitas, em ambas as cidades, os candidatos à reeleição podem ser considerados favoritos. No caso de Cícero, de acordo com o cientista político, a vitória é mais provável devido à votação expressiva que recebeu no primeiro turno e ao arco de alianças políticas construído em torno de sua campanha. Cunha Lima, por sua vez, conforme apontado pelo pesquisador, precisará enfrentar a força do apoio do governador João Azevêdo (PSB) a Dr. Jhony.

“No caso da eleição de Campina Grande, o apoio mais decisivo do governador a Dr. Jhony pode levar, quem sabe, o ex-secretário da Saúde a se mostrar como alternativa viável, como um novo ator, uma novidade na política campinense. Resta saber se o eleitor conservador de Campina Grande vai arriscar uma mudança. Essa é uma dúvida. É muito mais difícil para Jhony vencer a eleição no segundo turno do que Cunha Lima, mas tendo o apoio do governador eu não descartaria a possibilidade de uma virada no segundo turno”, analisou.

Destaques

O primeiro turno das eleições municipais na Paraíba também teve outros destaques, como Francinildo Pimentel (PSB), que foi eleito prefeito de Alagoa Nova com 92,87% dos votos válidos do município — o maior percentual registrado no estado. Além dele, outros três candidatos a prefeito foram eleitos com mais de 90% dos votos: Vicente (PSB), em Serra Grande, com 92%; Felício Queiroz (PL), em São José dos Cordeiros, com 90%; e Ari (PSB) em Riachão do Bacamarte, também com 90%.

A prefeita mais nova eleita na Paraíba foi Marina Lacerda (MDB), que, aos 24 anos de idade, assumirá o Executivo de Santana de Mangueira. Com 58 anos a mais, Aline Barbosa de Lima (MDB) foi a prefeita eleita mais idosa da Paraíba, com 82 anos. “Dona Aline”, como é conhecida pelo eleitorado, foi reeleita para a Prefeitura do município de Belém, no Agreste paraibano.

Ainda no quesito faixa etária, a Paraíba teve o candidato mais velho eleito no Brasil. Aos 90 anos, Zé Costa (MDB) foi eleito vice-prefeito de Monte Horebe, em sua primeira candidatura a um cargo político. O aposentado compôs a chapa do atual prefeito do município, Marcos Eron (MDB).

Outro destaque nas eleições municipais da Paraíba foi o município de Marcação, onde praticamente todos os candidatos eleitos são indígenas. Inclusive, a prefeita eleita, Ninha (PSD), foi a única mulher indígena eleita prefeita no país. O único candidato não indígena eleito na cidade foi o vice-prefeito Zé Pedro (União Brasil), que se autodeclarou pardo para a Justiça Eleitoral.

Por último, também vale destacar as eleições para prefeito de Espedito Filho (PSB) e Lais Raquel (PSB) nos municípios de Triunfo e Poço de José Moura, no Sertão do estado. Além de pertencerem ao mesmo partido e terem sido eleitos para municípios vizinhos, os dois são marido e mulher. Os dois se casaram em 2018 e entraram para a política no ano seguinte, quando Espedito começou a se preparar para concorrer à Prefeitura de Triunfo pela primeira vez, sendo eleito em 2020.

A prefeita mais nova é Marina Lacerda (MDB), que, aos 24 anos de idade, assumirá Santana de Mangueira

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de outubro de 2024.