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8 de janeiro

PF prende influenciador digital na PB

publicado: 18/08/2023 11h50, última modificação: 18/08/2023 11h50
Na nova etapa da “Operação Lesa Pátria”, realizada ontem, também foram cumpridos mandados de apreensão
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Rodrigo teria feito uso das redes sociais para incentivar e depois elogiar os atos de vandalismo em Brasília - Foto: Reprodução da internet

por Juliana Teixeira*

Um mandado de prisão e outros dois de busca e apreensão foram cumpridos pela Polícia Federal na Paraíba, durante uma nova fase da Operação Lesa Pátria ontem. Aqui na Paraíba, o influenciador digital Rodrigo Lima de Araújo e Silva, de 41 anos, foi alvo de mandado de prisão. Nas redes sociais, o investigado se apresenta como gestor público, cientista político, profissional de marketing político, professor, palestrante e escritor. Ele já atuou nas equipes de comunicação institucional da Prefeitura de Bayeux, na Grande João Pessoa, e no Botafogo-PB. O influenciador digital também foi candidato a vereador de João Pessoa em 2016. Segundo as investigações, ele teria relação com os ataques golpistas de 8 de janeiro, no Distrito Federal, quando deu suporte na organização dos crimes.

O influenciador é suspeito de incitar os atos terroristas na capital federal. Ele teria sido uma das primeiras pessoas a postar nas redes sociais o termo ‘Festa da Selma’, codinome que se refere aos ataques às instituições e à democracia brasileira. Um vídeo publicado por Rodrigo Lima está entre os documentos do relatório Democracia Digital, elaborado em parceria entre a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com apoio do InternetLab e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Para elaboração do documento, foram mapeados cerca de 1.500 grupos e canais abertos do Telegram. Rodrigo seria gerenciador de um grupo e de listas de transmissão de mensagens no aplicativo.

Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem, especialmente protegido, e crimes da lei de terrorismo. Os alvos desta fase são suspeitos de terem alimentado o movimento violento chamado de “Festa da Selma”, que era, em verdade, codinome previamente utilizado para se referir às invasões. O termo Festa da Selma foi utilizado para convidar e organizar transporte para as invasões, além de compartilhar coordenadas e instruções detalhadas para a invasão aos prédios públicos. Rodrigo, o preso nesta fase da operação, era um dos que recomendava não levar idosos e crianças, se preparar para enfrentar a polícia e defender, ainda, termos como guerra, ocupar o Congresso e derrubar o governo constituído.

Operação Lesa Pátria denominada “Festa da Selma” criou um mapa para as pessoas saberem em quais pontos do Brasil conseguiriam pegar ônibus para irem a Brasília para as invasões do 8 de janeiro. O mapa tinha cidades específicas e contatos de pessoas responsáveis pelos ônibus. As caravanas foram à capital do Brasil dois dias antes dos ataques às sedes dos Três Poderes. De acordo com a Agência Nacional de Transporte Terrestres (ANTT), 253 ônibus fretados chegaram ao Distrito Federal entre 5 e 8 de janeiro deste ano. A 14ª fase da operação Lesa Pátria, que aconteceu ontem, teve também alvo nos estados do Distrito Federal, Goiás, Paraná, Santa Catarina e Bahia e foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Morais.

Expressão faz referência a termo usado no Exército

“Selma” é em alusão à Selva — expressão usada por militares brasileiros — e foi um dos códigos usados por bolsonaristas para combinar as últimas etapas de invasão da Praça dos Três Poderes.

A partir de 5 de janeiro, uma quinta-feira, o termo passou a ser mais utilizado no Twitter e Telegram, junto a vídeos que tinham uma série de códigos para combinar os ataques – todos interceptados pela PF e pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A expressão foi lançada por Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, logo após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, para levantar dúvidas falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro

Segundo as investigações, um vídeo com a seguinte indicação do blogueiro foi postado dia 4 de janeiro, às 21:53 em um grupo com mais de 13 mil inscritos. “Gente, presta atenção aqui no meu último stories de hoje. Os ingredientes da festa de Selma, tem que ter açúcar união, tem que ter esse açúcar. Açúcar união, tá, porque estavam fazendo um outro tipo de açúcar não dá certo, açúcar União, tem que ter organização que vai começar agora sábado que é a pré festa da Selma, e a gente na hora da festa, a gente tem que ter cinco espigas de milho, cinco milho, pra festa ser um sucesso. A gente não está em um momento a seguir João, então a gente tem que perguntar para o Brasil e ver se a gente acha cinco espigas de milho tá? Então essa vai ser a nossa receita de bolo, açúcar união, organização e cinco espigas de milho para ser um sucesso e a gente vai fazer essa festa pra Selma e vamos sair vitoriosos está bom? repasse aí essa receita aí do bolo de nossa festa”

Nas redes sociais de Rodrigo Lima, o deputado federal Cabo Gilberto já apareceu lançando o influenciador como pré-candidato a prefeito de João Pessoa. O deputado defendeu o ex-secretário da Prefeitura de Bayeux e influencer bolsonarista, Rodrigo Lima, preso, em decorrência da Operação Lesa Pátria. Rodrigo é acusado de ser um dos financiadores dos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro, em Brasília-DF.  Cabo Gilberto afirmou que conhece Rodrigo desde a infância, e que, na verdade, ele está sendo perseguido por apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro. “É meu amigo, conheço desde criança, e sei que não tem nada de errado em relação a ele.”, disse. 

“Vemos que o devido processo legal não está sendo respeitado, pois o general de Lula abriu as portas do palácio para potencializar os atos do dia 8, e continua solto”, afirmou o deputado.

Outro preso na operação foi o pastor evangélico Dirlei Paiz. Atualmente, ele é coordenador técnico do gabinete do presidente da Câmara de Vereadores de Blumenau (SC), Almir Vieira. Nas redes sociais, Paiz, de 40 anos, já publicou diversas imagens de manifestações em frente ao quartel da cidade. Também foi presa a cantora gospel Fernanda Oliver. Foi ela a responsável por gravar a canção que ficou conhecida como “hino das manifestações”, cujos versos exaltam a “luta” em nome de “Deus, pátria e família”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 18 de agosto de 2023.