Jorge Rezende
A mesa diretora da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) dará início nesta segunda-feira (19) ao seu ‘Ciclo de Debates com os Presidenciáveis 2018’. E o primeiro pré-candidato a presidente convidado é João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, o Jango, deposto pelo golpe civil-militar de 1º de abril de 1964 – ato inicial da instauração de uma ditadura militar que “governou” o Brasil durante 21 anos.
Com o tema ‘O Momento Político, Gestão Pública e as Perspectivas para o Brasil’, Vicente Goulart proferirá sua palestra no plenário da CMJP, a partir das 9h30, através de uma propositura do vereador Lucas de Brito (Livres). No dia 27 de março, também no plenário da CMJP, às 10h, será a vez do presidenciável João Amoêdo, do Partido Novo (PN).
Para o presidente da Casa, vereador Marcos Vinícius (PSDB), os ciclos de debates terão dois debatedores para fazerem as interlocuções com o presidenciável, logo após sua explanação, que deverá ter a duração de uma hora. Ainda haverá a participação de pessoas alinhadas com os projetos de cada pré-candidato. “Faremos esses ciclos de maneira isonômica e democrática”, ratificou.
“Esta é mais uma contribuição da Casa para a democracia, contribuindo com a população de João Pessoa para conhecer melhor aqueles que irão disputar a Presidência da República em outubro deste ano”, disse o presidente da CMJP, vereador Marcos Vinícius. “Vamos fazer o possível para trazer todos os presidenciáveis para este ciclo de debates”.
João Vicente Goulart, de 60 anos, viveu no exílio no Uruguai com seu pai quando era criança. Hoje filiado ao Partido Pátria Livre (PPL), ele já foi deputado estadual no Rio Grande do Sul. Seu pai era gaúcho de São Borja (RS) e morreu na Argentina, em 1976. Até hoje a família suspeita que Jango foi envenenado.
Em 2017, o filho de Jango trocou o Partido Democrático Brasileiro (PDT) pelo PPL, depois que não recebeu apoio dos colegas da antiga sigla para barrar o cancelamento da construção do memorial ao seu pai no Distrito Federal (DF), onde vive. O memorial tem projeto de Oscar Niemeyer e foi cancelado pelo governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB).
Movimento Revolucionário
O PPL tem origem no antigo MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), um grupo que defendeu a guerrilha e a luta armada logo após a instauração da ditadura. A partir dos anos de 1980, o MR-8 abandonou definitivamente a defesa da luta armada no contexto da redemocratização do Brasil e seus líderes filiaram-se ao MDB. Com o fim do bipartidarismo, a decisão de sua direção continuar militando nas fileiras do PMDB não causou surpresa, já que suas lideranças ocupavam cargos e setores estratégicos no partido. Atualmente, o presidente nacional da legenda é o ex-guerrilheiro Sérgio Rubens.
Formado em Filosofia, João Vicente dedica a vida à memória do pai. Ele preside o Instituto Jango, escreveu um livro sobre a vida no exílio do ex-presidente – que foi finalista do Prêmio Jabuti – e capta recursos para transformar em filme essa história. Com a experiência de apenas um mandato eleitoral – foi deputado estadual pelo PDT em 1982, no Rio Grande do Sul –, João Vicente também associa à imagem do pai a sua plataforma de governo e quer relançar as famosas “reformas de base” de Jango.
São mudanças que dariam ênfase, entre muitos pontos, à reforma agrária, maior participação do estado na economia, respeito aos direitos trabalhistas e controle sobre as multinacionais. Mais de 50 anos depois, ele ainda fala em rigor na remessa de lucros das empresas estrangeiras no país. E o discurso nacional-desenvolvimentista prevalece.
O Golpe de 64
A ditadura militar no Brasil começou em 1964, quando o presidente João Goulart foi deposto e precisou se exilar no Uruguai. O gaúcho defendia o fortalecimento da economia do país através de indústrias nacionais, a reforma agrária e o combate ao analfabetismo. As medidas, reforçadas durante o histórico comício de Jango para 150 mil pessoas na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, tiveram como reação a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo, que condenava as medidas “comunistas” de Jango e acirrou o clima político. O complô militar contra Jango deu início ao período da ditadura, que durou 21 anos.