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Preso no 8 de janeiro é candidato a vereador em João Pessoa

publicado: 28/08/2024 09h55, última modificação: 28/08/2024 09h55

por Filipe Cabral*

Dos 1.046 presos por envolvimento em atos de terrorismo e destruição de prédios públicos no 8 de janeiro de 2023, em Brasília (DF), ao menos 48 concorrerão às eleições municipais deste ano e, destes, um será candidato a vereador em João Pessoa. Trata-se de Marinaldo Adriano, cujo pedido de candidatura foi registrado na Justiça Eleitoral pelo partido Democracia Cristã (DC).

De acordo com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2024 o jovem paraibano de 21 anos participará pela primeira vez das eleições como candidato. Em seus perfis nas redes sociais, Marinaldo se descreve como “cristão”, “pessoense com orgulho”, “jovem sonhador” e promete representar “a força da juventude”.

Preso no dia 8 de janeiro de 2023, em Brasília, Marinaldo administrava uma página na internet (blog) em que publicava mensagens sobre fraudes nas eleições gerais, pedia intervenção militar e postava fotos participando de manifestações golpistas na capital paraibana. Após passar três meses no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, o pessoense teve a liberdade provisória concedida em março do ano passado, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

No Sistema de Divulgação de Candidaturas e de Prestação de Contas (DivulgaCandContas) do TSE consta que a candidatura de Marinaldo já foi deferida pela Justiça Eleitoral, o que significa que os dados e documentação apresentados pelo candidato atenderam a todos os requisitos para concorrer.

Entre a documentação apresentada, destacam-se as quatro certidões (da Justiça Estadual e Federal em 1º e 2º graus) que atestam não haver processos criminais abertos contra ele no Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB) nem no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5). Em relação à prestação de contas, o candidato afirma não possuir bens próprios e declarou ter recebido, até o momento, apenas R$ 52 em recursos para a campanha através de doação de pessoas físicas. A quantia, segundo a plataforma do TSE, foi gasta com o fornecimento de material de campanha.

Consultado por A União, o advogado especialista em Direito Eleitoral Edísio Souto explicou que, apesar da prisão, a candidatura de Marinaldo só deveria ser indeferida se já existisse uma decisão condenatória transitada em julgado ou se ele não atendesse a algum dos critérios de elegibilidade elencados pela legislação. Caso contrário, segundo o jurista, a candidatura é “perfeitamente viável”.

“Nós estamos em agosto de 2024, mais de um ano depois do ocorrido. Se não há condenação criminal transitada em julgado nem condenação proferida por órgão colegiado, a candidatura é perfeitamente viável. O fato do candidato ter sido preso isso não afasta a condição de elegibilidade e também não incide em nenhuma das hipóteses de inelegibilidade”, pontuou.

“Eu não sou Bolsonaro”

Em entrevista exclusiva ao jornal A União, Marinaldo Adriano disse que nunca foi “de direita” e que acabou se envolvendo com os atos do 8 de janeiro por conta das dificuldades financeiras que enfrentava à época como catador de recicláveis — profissão que exerce até hoje.

“Eu não quebrei nada, eu nem cheguei a descer para a Praça dos Três dos Poderes. Do ônibus que a gente saiu, que foi para o quartel do Exército de Brasília, ali mesmo eu fiquei.

Eu não sou nem de direita. Quem me conhece sabe que minha vida todinha foi ao lado da esquerda”, garantiu o candidato que diz já ter trabalhado em campanhas de políticos paraibanos do campo progressista como o ex-governador Ricardo Coutinho, a deputada estadual Cida Ramos e o deputado federal Luiz Couto.

Segundo ele, a proximidade com a ala bolsonarista surgiu em 2022, quando trabalhava na  campanha do então candidato a governador pelo Partido Liberal (PL), Nilvan Ferreira.

“Aqui em casa a gente estava passando por um negócio complicado, minha irmã estava grávida e a gente estava passando por necessidade. Até hoje a gente passa. A gente cata reciclagem para ter o que comer e de frente aos quartéis tinha comida. Aí eu ia lá, comia e,  como já participava (entre aspas) dos eventos da direita, ficava com as amizades”, explicou.

Sobre a atual candidatura e o ingresso no Democracia Cristã (DC), Marinaldo afirma que é um desejo que ele cultiva desde a infância.

“Eu tinha esse interesse desde pequeno, quando andava nos bastidores da política segurando bandeira de Ricardo Coutinho. Eu entrei para a Democracia Cristã porque é um partido pequeno e que, ao meu ver, pode fazer dois ou três vereadores na cidade”, destacou.

Sobre os planos como vereador, Marinaldo pretende atuar na criação de políticas públicas voltadas especialmente para a juventude, para “crianças atípicas” e para o incentivo à gestão participativa, “onde a população possa dar sua opinião por meio de um aplicativo”. Em sua defesa, ele pede que os eleitores acreditem:

“Eu não sou Bolsonaro, gente! E muito menos seu representante. Se eu fosse representante de Bolsonaro, eu estaria no no partido dele, no PL, e apoiando [Marcelo] Queiroga. Não estaria no partido que estou e apoiando Cícero [Lucena]”, concluiu.