José Alves
“Discordo totalmente do processo de votação do impeachment contra a presidente Dilma Roussef ocorrido na Câmara Federal domingo passado, porque não há crime de responsabilidade”, disse ontem o governador Ricardo Coutinho durante o programa Fala Governador, transmitido pela Rádio Tabajara e um pool de emissoras em todo o Estado. Para Ricardo, o governo Dilma sofreu um golpe parlamentar e alertou que depois dessa aprovação do impeachment pela Câmara, a Operação Lava-Jato poderá deixar de existir. Ele enfatizou que no país está sendo construindo um grande acordo das elites políticas e econômicas para fazer com que muita coisa paralise.
O governador também disse que este país precisa recobrar a sua legitimidade, a sua legalidade e sua governabilidade. E observou que isso só pode ser conseguido através do povo, pontuando que o povo precisa escolher seu governante através das eleições, principalmente porque faltou legitimidade na votação para o impeachment da presidente Dilma. “Vou continuar lutando pela democracia que é nosso bem maior”, disse Ricardo.
Corrupção
“Depois que saiu a lista da Odebrecht, parou tudo, se recolheu tudo e ninguém mais falou sobre corrupção. Eu me solidarizo com o povo brasileiro. Aquele que foi às ruas pedindo o combate a corrupção. Mas nem todo mundo que a mídia diz que é ladrão, é realmente ladrão e essa mídia encobre um monte de gente que é corrupta, em função dos interesses maiores que estão em jogo”, ressaltou o governador afirmando que o povo precisa exigir a continuação da Operação da Lava-Jato.
Ricardo disse ainda que todo "esse quadro que aí está, daqui a pouco está feito uma panela de pressão, porque as demandas não poderão ser atendidas, e a violência que se perpetrou irá acirrar ânimos e isso é a coisa que particularmente eu menos quero", afirmou. "Esse impeachment não tem legitimidade porque foi presidido por um réu. Já a presidenta Dilma não é ré. Pelo contrário, é uma mulher digna e sem crime contra ela".
"O pior nessa votação", continuou o governador Ricardo Coutinho, "é que teve gente que votou pelo impedimento de Dilma no governo, mas que há três meses estava diante dela de joelhos pedindo um ministério. E essa pessoa iria ser ministro, pregando para todos, que o governo Dilma era o mais correto do mundo, porque queria ser ministro da saúde. Foi gente daqui da Paraíba. No domingo, esse mesmo deputado chegou lá com uma fita verde e amarela, e votou a favor do impeachment”, lembrou Ricardo.
Democracia e excluídos
“Meu maior desejo é que o país volte a ter tranquilidade para estabilizar sua economia, e ao mesmo tempo prosseguir adiante para voltar a crescer. Mas essa tranquilidade e estabilidade tem que passar pela democracia que é o que temos de mais importante. É a democracia que nos dá capacidade de incluir os excluídos. Eu lembro que antes só se falava do Nordeste como uma carcaça de boi no meio de uma terra esturricada. O Nordeste hoje são obras, adutoras, transposição do Rio São Francisco e no final do ano temos que ter um debate para uma obra futura que é trazer as águas do Amazonas para o Nordeste. Esse é o debate e a ação que precisamos pensar para o Nordeste todo unido", afirmou.
“Esses que impregnaram o ódio no povo brasileiro de 15 meses para cá, colocando brasileiro contra brasileiro, a exemplo de pobre contra rico. Esses que comandaram isso, não conseguiram sequer participar de uma manifestação popular, porque o povo não se sente representado por eles", disse.
Ricardo afirmou que essa votação na Câmara o deixou muito preocupado com a democracia. "Acho que o governo Dilma tem uma série de erros e tenho cobrado publicamente mudanças, principalmente contra a política econômica que foi implantada pelo ministro Joaquim Levi [ex-ministro da Fazenda], que quebrou. Mas quebrou porque o Congresso não deixou o governo trabalhar. E o governo tinha que ter feito uma aliança com o povo e não fez".
Legitimidade
Até a OAB reconheceu que não há crime de responsabilidade contra Dilma porque pedaladas fiscais não é crime de responsabilidade fiscal. "A presidenta Dilma tem legitimidade, porque foi eleita, mas por outro lado, não tinha mais governabilidade e domingo passado provou isso. Mas o vice-presidente Michel Temer não tem nem legitimidade nem governabilidade. E do ponto de vista da sociedade não terá governabilidade", destacou o governador.
E segundo Ricardo, por uma razão muito simples. "Porque tudo isso foi conduzido por algumas pessoas que não podem jamais falar em combate a corrupção. Foi um golpe realizado por pessoas que há pouco tempo estavam lá, 'mamando no governo' e também porque foram responsáveis por escândalos dentro do governo e saíram".
“Toda a Paraíba sabe que eu falo aquilo que penso e que acredito, eu não falo nada em função de ter mais ou menos voto, eu não faço parte desse time. Eu expresso quilo que sinto e uma das crenças que tenho mais forte é a crença de que o caminho da evolução da humanidade passa pela democracia. E pelo respeito às regras. Não se pode atropelar isso", disse o governador.
Ricardo alerta ainda para o crime de responsabilidade forjado: "O impeachment é algo pessoal e individual. Se faz impeachment contra um governante e para que isso aconteça no regime presidencialista é preciso ter um crime, e esse crime não pode ser forjado, esse crime não pode ser falso. Um impeachment não pode ser feito porque o governante está impopular ou porque o governo é ruim. Se um governo é ruim deve ser trocado nas eleições. A democracia é isso com seu lado bom e seu lado ruim".
Sede de poder
Ainda de acordo com o governador, a questão maior é que a democracia no Brasil ainda é muito jovem e muitos políticos ainda não a conhecem. "Para alguns a democracia só serve, se servir a si mesmo. Se não servir a si mesmo, não serve, e muitos fazem qualquer coisa para poder subir nos degraus da política e alcançar o poder". Ricardo observou também que o impeachment não deve ser comparado a uma partida de futebol. Durante a votação domingo, chegaram a fazer bolão como se fosse uma brincadeira. “Mas todos precisam saber que estavam mexendo com a democracia”, enfatizou.
Para finalizar, o governador ressaltou três posturas que foram importantes ontem na votação do processo de impeachment contra Dilma. Foram as dos deputados Damião Feliciano, Luiz Couto e Wellington Roberto. “Os três votaram contra sabendo que estavam perdidos. Imaginem uma outra parte de deputados o que teriam feito se o resultado fosse pelo não impeachment. As pessoas sabem qual seria a posição. Muita gente teria pulado do barco. Mas a coerência é fundamental, como foi o exemplo dos três deputados paraibanos que votaram contra o impeachment", ressaltou.