Qual o papel da mulher na sociedade? E na luta pela democracia? Questões como estas podem ser respondidas em uma visita pela exposição “Mulheres pela Democracia”. Uma galeria em que as histórias de diversas mulheres que em suas áreas de atuação trabalharam pelo fortalecimento da democracia e pela conquista de uma sociedade mais justa e igualitária, com luta por direitos e por representatividade.
A iniciativa foi da desembargadora Maria de Fátima Moraes Bezerra Cavalcanti Maranhão, presidente do TRE-PB, que reuniu com o apoio da Comissão de Participação Feminina (Copfem) e a Comissão de Gestão e Memória e da Escola Judiciária Eleitoral (EJE-PB), nomes de relevância na história do Judiciário paraibano, mas também mulheres da cultura, do jornalismo, da medicina e da política para a construção deste memorial.
“O objetivo deste projeto é trazer um resgate histórico das lutas das mulheres pela democracia, em especial das paraibanas, que se destacaram em cargos políticos, no campo jurídico, cultural, ativismo e de diversas áreas de atuação, contribuindo para o incremento de uma maior participação de mulheres na política, em prol de uma sociedade mais justa e igualitária”, ressaltou a desembargadora Fátima Maranhão.
A exposição “Mulheres pela Democracia na Paraíba” está montada no hall da Sala de Sessões, no primeiro andar do edifício-sede do TRE paraibano, situado na Avenida Princesa Isabel, 201, Centro, João Pessoa.
A senadora Daniella Ribeiro (Progressistas) é líder da maioria no Senado, presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), uma das mais importantes do Congresso Nacional e também presidente da Comissão da Mulher da Casa e afirma que o lugar de destaque deve servir para enfatizar a competência da mulher como representante do povo e no trabalho, para que outras mulheres cheguem a esses espaços de poder. “É um momento de muita honra e reconhecimento para nós, mulheres. Cada uma dessas mulheres tem uma história de construção importante de um caminho que fica para ser trilhado por outras mulheres. As mulheres tiveram grandes conquistas em espaços na política, desde a criação de cotas, financiamento de campanhas. Hoje temos instrumentos para incentivar a participação da mulher na vida pública”, relatou Daniella Ribeiro a primeira mulher eleita por voto popular para o Senado Federal, como representante da Paraíba.
A deputada estadual Cida Ramos (PT) enfatizou que a iniciativa demonstra a união feminina na luta pela igualdade de gênero. “Esta exposição representa o reconhecimento de uma instituição importante como é o TRE da Paraíba. Nós mulheres precisamos nos unir em todos os poderes, trabalhar por conquistas em todos os aspectos”, ressaltou a deputada estadual.
O evento contou com a participação da diretora-geral do Senado Federal, Ilana Trombk, que avaliou a importância do resgate histórico das mulheres paraibanas e contribuição delas para a democracia brasileira. “É uma conquista muito recente no Brasil, uma democracia inclusiva e esta exposição mostra que essa democracia tem que dar espaço para as mulheres, porque as mulheres contribuem e aqui está demonstrado que as mulheres paraibanas contribuíram para democracia brasileira como um todo. Isso tem que ser festejado, lembrado e escrito na história”, enfatizou.
A deputada Francisca Mota (Republicanos) aos 82 anos ainda atua na política, com mandato na Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB). Ela também foi a primeira mulher presidente da Casa, e uma das homenageadas. “Tenho para mim esse papel de representar, ouvir e dar voz a mulheres. É preciso ouvir a voz de quem está fora do parlamento. Abro minhas portas para ouvir outras categorias que estão fora da assembleia”, disse.
Pouca representatividade no Parlamento
A representatividade das mulheres no Parlamento ainda está muito aquém do peso que elas têm no eleitorado brasileiro, que corresponde a mais de 52,5%. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, das 513 cadeiras, apenas 77 são ocupadas por deputadas, que corresponde a 15%. No Senado somente 12 mulheres foram eleitas para as 81 vagas, o que equivale a uma participação feminina de 14%.
Segundo o Mapa das Mulheres na Política 2020, feito pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela União Interparlamentar (UIP), o Brasil ocupa o 140o lugar no ranking de representação feminina no Parlamento. Na América Latina, o país está à frente apenas de Belize (169o) e Haiti (186o). Lideram o ranking Ruanda (1o), Cuba (2o) e Bolívia (3o).
Palestra
A presidente da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), Naná Garcez, foi uma das palestrantes da abertura da exposição. Naná observou o cenário profissional em que a mulher está inserida, destacando o preconceito ao qual muitas são vítimas. A gestora enfatizou a importância da ação para destacar a presença feminina na sociedade, mulheres que batalharam para que os espaços de poder pudessem ser abertos. Ela relembrou fatos de sua carreira jornalística.
“Ainda temos que andar muito como profissionais, mulheres e pessoas, temos muito que construir para que a equidade de gênero aconteça. Essa exposição é um avanço, porque está contando a história de mulheres que lutaram em suas áreas para que na nossa sociedade a democracia se estabelecesse”, disse.
Destaques na política, cultura e diversidade
A primeira mulher negra eleita vereadora na cidade de Campina Grande, Jô Oliveira (PC do B), foi uma das homenageadas na exposição. A história de conquista dela servirá para que outras mulheres pretas e vindas da periferia possam saber que têm condições de estar em um cargo eletivo, podendo representar essa que é a maior parcela do povo paraibano e brasileiro. “Quando a gente chega na política a gente melhora o debate, melhora o andamento”, ressaltou.
A primeira prefeita mulher de Marcação, Eliselma Silva, a Lili, representante dos povos indígenas no Litoral Norte da Paraíba destacou a visão política importante que a mulher tem. “Tivemos uma democracia construída por homens, mas nós mulheres estamos construindo esse caminho. Temos sensibilidade e somos pacificadoras, o que é importante ser trazido para a vida pública. A mulher é gestora de vida. Fico feliz por poder representar meu povo, o povo indígena, o que é um grande desafio”, comentou.
Entre as homenageadas está Lenita, mestra, cantadora, musicista, rezadeira, agricultora e pioneira na luta pela resistência quilombola na Paraíba. Atuante na política comunitária, nas áreas religiosa e cultural, ela é uma referência para o quilombo do Gurugi/Ipiranga, no Conde-PB, onde sempre reafirmou tradições afro-brasileiras. Foi presidente da Associação dos Agricultores de Barra de Gramame. Na política foi, ainda, candidata a prefeita da cidade de Conde em 1988. Dona Lenita faleceu em abril de 2015.
As filhas dela estiveram conferindo a exposição e demonstraram o amor e admiração pela mãe. “É motivo de orgulho para nós. Ela lutou por nosso povo, quis abrir portas para outras mulheres e nós a apoiávamos, porque sabíamos da importância”, disse a filha da homenageada, Maria das Graças.
Outra que aparece entre os nomes é Fernanda Bevenutty. Uma mulher trans, que muito jovem entendeu que precisava reivindicar uma identidade de gênero em oposição à informada pelo seu corpo. Solteira, foi mãe de dois filhos. Atuou como enfermeira, parteira e ativista cultural. Fez política e foi uma militante dos Direitos Humanos e LGBT.
Em abril de 2005 discursou na Câmara dos Deputados, junto à Comissão de Direitos Humanos e Minorias, para reivindicar verbas para programas de combate à homofobia. Foi presidente fundadora da Associação das Travestis da PB e vice-presidente da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais, tendo morrido em 2020.
Na área da comunicação, a jornalista Lena Guimarães (in memoriam) foi a homenageada. Lena foi repórter, redatora e chefe de reportagem do Jornal A União; secretária de Comunicação do Estado nos anos de 2009 e 2010; e repórter regional da Folha de São Paulo e do Jornal do Brasil. A jornalista também teve passagens pelo jornal O Momento e Sistema Correio.
A exposição pode ser conferida permanentemente no Tribunal Regional Eleitoral. As visitas podem ser feitas de terça a quinta-feira, das 13h às 17h e às sextas-feiras, pela manhã.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 1 de julho de 2023.