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tarifas de 50%

Trump impõe sanções contra o Brasil

publicado: 31/07/2025 09h01, última modificação: 31/07/2025 09h01
Ordem Executiva oficializa aumento do tributo sobre itens exportados, mas apresenta longa lista de exceções
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Republicano argumenta que ações do governo brasileiro ameaçam a segurança nacional | Foto: Reprodução/Fotos Públicas

por Redação (Com Agência Brasil)*

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma Ordem Executiva (OE), ontem (30), que considera o Brasil uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional dos EUA, classificação semelhante à adotada contra países considerados hostis a Washington, como Cuba, Venezuela e Irã. No entanto, o documento também estabelece uma extensa lista de exceções, com 697 itens. De acordo com a Casa Branca, a medida começa a valer no dia 6 de agosto.

Entre os itens excluídos da medida, estão suco de laranja, combustíveis, veículos, alguns tipos de metais e minerais, madeira, peças e equipamentos de aeronaves, fertilizantes, energia e produtos energéticos. No entanto, café, frutas e carnes não estão entre as exceções aplicadas pelos Estados Unidos e serão taxados em 50%. A lista completa com os produtos que não serão taxados está no Anexo I da Ordem Executiva assinada pelo presidente Trump, publicada no site da Casa Branca.

“O presidente Donald J. Trump assinou uma Ordem Executiva implementando uma tarifa adicional de 40% sobre o Brasil, elevando o valor total da tarifa para 50%, para lidar com políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”, diz o comunicado da Casa Branca.

A Ordem Executiva considera que “a perseguição, intimidação, assédio, censura e processo politicamente motivado pelo Governo do Brasil contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e milhares de seus apoiadores são graves violações dos direitos humanos que minaram o Estado de Direito no Brasil”.

O governo estadunidense repete a versão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que afirma ser perseguido pelo processo que enfrenta ao ser acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado no Brasil.

Segundo a denúncia, Bolsonaro pressionou comandantes militares para suspender o resultado da eleição presidencial de outubro de 2022, quando perdeu para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Emergência Nacional

Com o título “Enfrentando uma emergência nacional”, o comunicado da Casa Branca diz que a OE declara o governo brasileiro uma ameaça aos EUA com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) de 1977.

A Casa Branca argumenta que as políticas e ações do governo brasileiro prejudicam empresas, a liberdade de expressão de cidadãos, a política externa e a economia dos EUA.

Segundo Trump, as tarifas impostas ao Brasil são para lidar com as “ações imprudentes” do governo brasileiro.

“O presidente Trump está protegendo a segurança nacional, a política externa e a economia dos Estados Unidos de uma ameaça estrangeira. Em linha com seu mandato eleitoral, o presidente Trump também tomou outras medidas para alcançar a paz por meio da força e garantir que a política externa reflita os valores, a soberania e a segurança dos EUA”, completa o comunicado.

Mídias sociais

No informe da Casa Branca, o Governo Trump voltou a acusar o Brasil de limitar a atuação das plataformas digitais.

“Recentemente, membros do governo brasileiro tomaram medidas sem precedentes para coagir, de forma tirânica e arbitrária, empresas americanas a censurar discursos políticos, remover usuários de plataformas, entregar dados sensíveis de usuários americanos ou alterar suas políticas de moderação de conteúdo”, diz o comunicado.

O Supremo Tribunal Federal (STF) tem suspendido redes sociais ligadas a Trump. Em fevereiro deste ano, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, mandou suspender a Rumble, rede social da Trump Media & Tecnology Group (TMTG), dona também da Truth Social.

A companhia foi suspensa por não apresentar representante legal no Brasil, uma exigência da legislação nacional.

Em agosto de 2024, Moraes suspendeu a plataforma X, também sediada nos EUA, por descumprir decisões judiciais e não apresentar representante legal no país.

Por meio deste link, acesse a lista completa dos itens excluídos da medida

Investimentos dos EUA resistem à taxação

Por Agência Brasil*

A imposição da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros pelo governo de Donald Trump não deve prejudicar os investimentos diretos de empresas estadunidenses no Brasil, disse, ontem, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron. 

Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional do Brasil | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Segundo o secretário, as companhias pensam em horizonte de longo prazo, não em questões conjunturais. “Elas olham para os próximos 10 a 15 anos. São questões muito mais estruturais que conjunturais em uma discussão como essa [a guerra comercial com Donald Trump]”, disse Ceron, em entrevista coletiva para explicar o resultado das contas públicas de junho. “O Brasil tem proximidade secular com os Estados Unidos. Acredito que isso vai se manter”.

Segundo o portal InvestVis, que compila dados sobre investimentos estrangeiros diretos no Brasil, os Estados Unidos são o país cujas empresas mais investem no Brasil. De janeiro de 2024 a junho de 2025, as companhias americanas investiram US$ 12,25 bilhões no país, correspondendo a 23,46% do total. Em segundo lugar, vêm os países Baixos, com US$ 7,92 bilhões (15,17%).

Missão especial

O senador Nelsinho Trad (PSD-MS) informou, ontem, que a comitiva de senadores que foi aos Estados Unidos para debater as tarifas impostas pelo Governo Trump sobre produtos brasileiros conseguiu abrir canais de diálogo com autoridades daquele país. Trad, que preside o colegiado e também a Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, disse que o grupo foi recebido por nove parlamentares norte-americanos — sendo oito democratas e um republicano —  e que conseguiu transmitir às autoridades a mensagem sobre a necessidade de manter as tratativas, além de alertar sobre as perdas que os Estados Unidos terão com a taxação.

“Nós não temos como negociar porque a gente não é do Executivo, a gente é do Legislativo. O que fizemos foi abrir canais e caminhos para que essa relação pudesse ser azeitada e, com isso, facilitar na frente novas tratativas de diálogo”, afirmou o senador durante entrevista coletiva em Washington, capital norte-americana.

A missão foi enviada com o objetivo de distensionar a relação com os Estados Unidos no âmbito parlamentar. Na terça-feira (29), o grupo se reuniu com representantes da Embaixada do Brasil e com empresários.

Além de Trad, participam da missão os senadores Tereza Cristina (PP-MS), Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), Rogério Carvalho (PT-SE), Jaques Wagner (PT-BA), Carlos Viana (Podemos-MG), Fernando Farias (MDB-AL) e Esperidião Amin (PP-SC).

Ontem, também foi realizada uma reunião com representantes da Americas Society/Council of the Americas, entidade que reúne lideranças da sociedade civil e do setor empresarial com foco no fortalecimento das relações interamericanas. A expectativa é que seja divulgado um manifesto de entidades empresariais americanas em apoio a uma solução negociada.

Presidente anuncia alíquota de 25% para a Índia

Por Agência Estado*

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também anunciou, ontem, que a alíquota tarifária para a Índia será de 25%, marginalmente abaixo dos 26% anunciados em abril, em postagem na Truth Social, ontem. Na publicação, o republicano cita que, ao longo dos anos, os dois países fizeram poucos negócios porque as tarifas indianas são muito altas e o país possui barreiras comerciais “não monetárias, mais rigorosas e desagradáveis que as de qualquer país”.

“Eles, os indianos sempre compraram a grande maioria de seu equipamento militar da Rússia e são os maiores compradores de energia da Rússia, junto com a China, em um momento em que todos querem que a Rússia pare com a matança na Ucrânia. Tudo isso não é bom”, escreveu.

Por conta da relação sugerida por Trump entre a Índia e a Rússia, o republicano justifica a tarifa de 25% e afirma que o país também pagará “uma penalidade”, a partir de 1º de agosto, data prevista para a entrada em vigor das taxas.

Resposta

O ministério do Comércio e Indústria da Índia afirmou, ontem, que o governo “tomou conhecimento de uma declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre o comércio bilateral” e está “estudando suas implicações”.

A nota oficial, divulgada após Trump anunciar tarifa de 25% ao país asiático, comunica que a Índia “tomará todas as medidas necessárias para proteger o interesse nacional”, como tem feito em outros pactos comerciais, “incluindo o mais recente Acordo Econômico e Comercial Abrangente com o Reino Unido”.

Segundo o governo, a Índia e os EUA vêm conduzindo “negociações para concluir um acordo comercial bilateral justo, equilibrado e mutuamente benéfico nos últimos meses”. O governo indiano defende que “permanece comprometido com esse objetivo”. O texto também ressalta que o país dá “a máxima importância à proteção e à promoção do bem-estar de nossos agricultores, empreendedores e micro, pequenas e médias empresas”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 31 de julho de 2025.