Notícias

Em 2024

Uso de Inteligência Artificial será decisivo nas eleições

publicado: 14/08/2023 09h31, última modificação: 14/08/2023 09h31
Manipulação de fotos, criação de falsos cenários e fake news são apontadas como prováveis surpresas do pleito
1 | 3
Para Cassimiro, a força, muitas vezes, não está em quem cria, mas na divulgação desenfreada de um fato - Foto: Edson Matos
2 | 3
Para Artigas, vivemos a era da “pós-verdade”, com o aumento da disseminação de alternativas - Foto: Roberto Guedes
3 | 3
Vice-governador do Estado, Lucas Ribeiro - Foto: Assessoria
tre_preparação_urnas-jose_cassimiro_júnior-foto-edson_matos  (52).jpg
20200221_prof josé artigas © roberto guedes (9).jpg
Lucas Ribeiro assessoria 1.jpg

por Iluska Cavalcante*

Uma foto onde Donald Trump está cercado por policiais, com o olhar assustado de quem está sendo levado contra a sua vontade viralizou em todo o mundo. O motivo da popularidade do assunto não foi porque um ex-presidente dos Estados Unidos estava sendo preso e sim porque se tratava de uma “deepfake”, uma nova modalidade de informação falsa, mas dessa vez realizada com o apoio da inteligência artifical (IA).

Cada dia mais essa tecnologia tem avançado em todo o mundo e ficando popular principalmente através de aplicativos, a exemplo do “ChatGTP”. Ela chama a atenção pela praticidade que pode proporcionar à humanidade, mas também assusta pela sensação de falta de controle.

Como saber se um texto foi escrito por um ser humano ou uma IA, ou mesmo se uma foto, ou áudio são conteúdos verídicos? Essas perguntas devem se tornar ainda mais frequentes principalmente durante as próximas eleições municipais, que acontecem em outubro de 2024.

Uma das melhores formas de controle é ter um bom uso das redes sociais, tanto por parte dos políticos  como dos eleitores

De 2018 para cá o número de fake news utilizado em campanhas eleitorais cresceu alarmantemente, influenciando, inclusive, no resultado do pleito. O secretário de Tecnologia do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB), José Cassimiro, comentou que o trabalho da Justiça Eleitoral precisou ser intensificado nos últimos anos, devido ao crescimento do crime.

Ele justificou a polarização política e a força com que os conteúdos são compartilhados, como motivo para o crescimento dos casos. Além disso, o especialista avalia que em 2024 esse número pode aumentar ainda mais, agora com a utilização da inteligência artificial.

Em 2022, a Justiça Eleitoral precisou desmentir diversas informações falsas, algumas até feitas de maneiras muito amadoras, a exemplo de uma montagem onde a apresentadora do telejornal Jornal Nacional, Renata Vasconcelos, divulga uma pesquisa eleitoral inverídica. A foto viralizou e confundiu muitos eleitores mesmo com a baixa qualidade.

Agora, com a tecnologia utilizada pela IA, as deep fakes estão cada dia mais realistas e podem contribuir para a disseminação de desinformação nas Eleições 2024. Segundo Cassimiro, uma das formas de se proteger é prestar mais atenção no conteúdo que é recebido, e, principalmente, não compartilhar.

“É preciso que os usuários saibam separar o joio do trigo, não custa nada reparar naquilo que apareceu, procurar saber se aquilo é mentira ou verdade. A força, muitas vezes, não está em quem cria, mas na divulgação desenfreada. Não é só quem produz que está cometendo o crime, mas quem dissemina e espalha também interfere de maneira injusta e ilegal nas eleições”, comentou o secretário de Tecnologia do TRE-PB.

Uma das melhores formas de fazer isso é ter um bom uso das redes sociais, tanto por parte dos políticos que desejam se candidatar, como por parte do eleitor, que precisa ficar mais rigoroso com o que vê, lê ou escuta. “Todo mundo usa redes sociais. A população praticamente nem assiste mais telejornais, ela se instrui a partir do que recebe, mas lá tem notícias verdadeiras mas também falsas, para ofender a honra de alguém. Isso interfere nas eleições, de um jeito que pode promover alguém de maneira falsa, ou pode prejudicar alguém de maneira falsa”.

Cientista político defende fiscalização

De acordo com o cientista político e professor da Universidade Federal da Paraíba, José Artigas, é necessário que ocorra uma maior fiscalização para esse tipo de prática durante as eleições, principalmente no uso das redes sociais. Caso contrário, o especialista acredita que a democracia pode estar em risco. “É preciso que tenhamos um conjunto de normas que possam inibir e coibir esse tipo de atitude e isso não envolve apenas a legislação ordinária”.

Na opinião do professor, vivemos a era da “pós-verdade”, com o aumento da disseminação de verdades alternativas sem amparo. “Não tem amparo factual mas são vendidas como verdade, são disseminadas com formato de jornalismo tradicional. Fazendo com que as pessoas tenham dúvidas da veracidade das instituições oficiais e acadêmicas”.

De acordo com ele, o país não está preparado para lidar com esses casos, principalmente durante as eleições. “O político tem interesse político e eleitoral sabendo que aquilo não. Ainda estamos em processo. Não temos uma legislação de controle, não temos como inibir mas estamos tentando punir”.

Mas o interesse político em tentar usar a sua tecnologia da época para ganhar proveito não vem de hoje. Muito antes da Inteligência Artificial, Artigas explica que a disseminação deliberada racional e planejada de mentiras com interesse na órbita política já acontecia.

“Vemos um modelo com intuito de manipulação semelhante ao que vimos nos anos 20 e 30 e resultou em fascismo. Na época, o rádio era utilizado para produzir desinformação, algo semelhante acontece, mas com amplitude maior em função da revolução tecnológica”, comentou.

Por outro lado, Artigas avalia que o avanço da tecnologia também trouxe pontos positivos para a política, a exemplo do uso das redes sociais. “Elas são fundamentais como produção de informação fidedigna e oficial. É importante para que os parlamentares dialoguem com a sociedade, antes isso não era permitido. É importante para resgatar a proximidade entre um eleitor e um eleito”.

Ação positiva da tecnologia pode ser um fato fundamental

Lucas Ribeiro assessoria 1.jpg
Vice-governador do Estado, Lucas Ribeiro - Foto: Assessoria

Nem só de fake news vive a rede social de um político em exercício. É possível utilizar a tecnologia para prestar contas e se aproximar da população. Alguns perfis que tem chamado a atenção são os do governador, João Azevêdo (PSB), e do vice-governador, Lucas Ribeiro (Progressistas).

Além da divulgação do trabalho que vem sendo realizado, os políticos utilizam das redes para mostrar suas vidas pessoais e levar uma aproximação maior ao eleitor. A estratégia, além de atrair a participação popular, também ajuda o gestor, caso ele saiba utilizá-la com sabedoria, como para ouvir relatos e saber as necessidades de investimento em políticas públicas.
O vice-governador Lucas Ribeiro comentou que as redes sociais trouxeram um novo cenário para a comunicação política. “É uma forma direta e rápida de se comunicar com as pessoas, um canal de diálogo e de compartilhamento de informações”.

Para ele, não há separação do público e privado no que diz respeito ao que é mostrado nas suas contas pessoais. Ele enxerga como positivo mostrar o seu dia a dia pessoal.
“Antes de serem as redes sociais do vice-governador, são as redes sociais de Lucas. Então, faz parte dessa presença nas redes compartilhar também momentos pessoais, em família, porque isso faz parte da minha vida. Além do trabalho, tenho amigos, vou à igreja, fico com minha família, e isso também está presente nas redes sociais. ”, afirmou.

Lucas ressaltou que há um acompanhamento das interações da população, o que ajuda a aproximar o gestor das pessoas de maneira mais rápida e ouvir suas demandas. “Os comentários e sugestões dos seguidores nas redes sociais são muito importantes. Procuramos acompanhar atentamente as opiniões e demandas da população, considerando-as na formulação de políticas públicas e tomadas de decisão”.

No trabalho da Justiça Eleitoral não é diferente. A inteligência artifical e a tecnologia, de modo geral, é uma realidade que vem facilitando a vida do eleitor, principalmente no atendimento. Além dos autosserviços, os eleitores podem realizar operações sem interação com humanos.

“Diretamente, com computadores, é possível emitir certidão de quitação, pagar multa, fazer uma série de coisas que antes precisava ir aos cartórios”, comentou o secretário de Tecnologia do TRE-PB, José Cassimiro.

Já o uso da IA na votação deve demorar para ser implementado. Cassimiro explicou que a tecnologia nem sempre é aliada da segurança, principalmente no que diz respeito às urnas eletrônicas. A ferramenta não é conectada a qualquer rede de internet ou wifi, e isso acontece para evitar que ela seja hackeada.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 13 de agosto de 2023.