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O Dono do Shopping

publicado: 26/05/2019 12h00, última modificação: 23/05/2019 13h59

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O Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou na última semana a medida liminar de habeas corpus que beneficiaria o empresário Roberto Santiago. Preso desde março, o “dono do shopping” é acusado de participar de um esquema de corrupção e fraudes licitatórias no município de Cabedelo, Região Metropolitana de João Pessoa. De acordo com as investigações, ele teria comprado o mandato do ex-prefeito Luceninha, operado um esquema de corrupção referentes aos contratos de coleta de lixo e supostamente cooptado membros do Tribunal de Contas do Estado para impedir a construção de um novo shopping na região.

Foi Verissímo quem falou que existe um Custo Empresa que o brasileiro paga há anos muito maior que o Custo Brasil do qual reclamam tanto os empresários. Por mais justas que sejam as reclamações dos empreendedores sobre os absurdos que atrapalham os negócios, sendo a complexidade tributária a mais relevante delas, está na hora do brasileiro abrir os olhos para o lado mais difícil da corrupção, que é justamente a parte corruptora.

É mais difícil porque estamos falando de quem emprega, paga impostos e gera riqueza para a região. Vivemos em um país que sonegar é uma prática considerada como de autodefesa. Os privilegiados pela prática nos ensinaram a odiar os políticos que aceitam a propina e respeitar o trabalho duro de quem assinou o cheque. A Operação Lava Jato começou a nos alertar sobre isso com a prisão de Marcelo Odebrecht, depois vieram os irmãos Batista da JBS. Muitos ainda consideram esses peixes grandes do poder econômico meras vítimas do sistema político. Não são. Empresários conhecidos nacionalmente ou nomes locais são parte integrante do sistema, mesmo sem mandato eletivo.

Sem a corrupção entre empresários e políticos muitas coisas não existiram no Brasil. Conta a história que o prefeito Mendes de Morais jogava pôquer todas as noites com os empreiteiros que construíam o Maracanã. A construção da Ponte Rio-Niterói também aconteceu assim e o nascimento de Brasília também. Quantas rodovias, portos, mineradoras e empregos criados foram usados como justificativa para corrupção? Talvez o mérito e diferencial de Roberto Santiago seja exatamente esse, o de corromper para não entregar nada. Afinal, a população ainda espera sem saber pelo shopping de Cabedelo.