Aniversários de obras, sejam pinturas, livros, discos, filmes etc., constituem uma boa oportunidade para revisitá-las, reeditá-las e até mesmo expor ao público algumas pérolas da produção, escondidas no cofre de artistas, detentores de espólio e/ou gravadoras/curadores/produtores.
Esta semana, uma dessas obras importantes completa 50 anos. É Red Rose Speedway, segundo disco de Paul McCartney junto aos Wings, grupo que o ex-Beatle arregimentou em 1971 para gravar o LP Wild Life e durou exato 10 anos, deixando um legado de sete álbuns excepcionais (fazem parte do portfólio, por exemplo, a obra-prima Band on The Run, Venus and Mars e London Town, que eu particularmente adoro).
Red Rose Speedway foi lançado, primeiro, no mercado norte-americano, em 30 de abril de 1973, e no Reino Unido, em 4 de maio daquele ano. O LP deu aos Wings o primeiro single a chegar ao primeiro lugar da parada nos EUA, ‘My love’, que se tornaria um clássico do repertório pós-Beatle de McCartney.
Paul celebrou o cinquentenário do disco lançando uma edição comemorativa em LP em meia velocidade. É uma tiragem limitada que saiu no Record Store Day, sábado passado. Ele já havia lançado tiragens semelhantes nos 50 anos de McCartney, RAM e Wild Life. Mas tem mais: às 13h (horário de Brasília) do dia 4 de maio, através da Apple Music e Spotify, fãs do mundo inteiro irão se reunir para uma audição coletiva, por meio da internet, de Red Rose Speedway. Acesse por esse link: (redrosespeedway.tunecast.com).
Em uma entrevista publicada no site oficial do músico, Paul comenta algumas faixas do álbum. Revela que o solo de ‘My love’ foi mostrado ao autor da canção pelo hoje falecido guitarrista Henry McCullough momentos antes da gravação, com a orquestra já pronta para executar o arranjo. Revela que ‘One more kiss’ foi inspirada na filha, Mary, e que a faixa experimental ‘Loup’ (1st Indian on the moon)’ foi “herança da rebeldia de Wild Life”, mas que ele nunca quis tocá-la ao vivo.
Paul também comenta o ‘Medley’ que encerra o álbum: “É uma espécie de ópera, e é muito divertido juntar coisas assim, encontrar pequenos links e maneiras de ir disto para aquilo. Tínhamos feito isso no álbum Abbey Road e o que fizemos lá foi que John (Lennon) e eu tínhamos trechos de músicas que não havíamos terminado. Então nós os colocamos em um medley e funcionou. Este era eu fazendo isso de novo”.
Red Rose Speedway foi gravado em quatro estúdios londrinos entre março e junho de 1972, e também no Olympic Sound e no famoso Abbey Road, entre setembro e outubro daquele ano. O LP saiu com nove faixas, a última delas o tal ‘Medley’ formado por ‘Hold me tight’, ‘Lazy dynamite’, ‘Hands of love’ e ‘Power cut’. Outras faixas desse disco são ‘Big barn bed’ (escolhida para abrir o repertório), ‘Get on the right thing’, ‘Little lamb dragonfly’ (uma sobra do album Ram), ‘Single pigeon’ e ‘When the night’ (um clássico do repertório dos Wings).
Pouco depois de completar 45 anos, em dezembro de 2018, Red Rose Speedway ganhou sua edição definitiva, uma super caixa contendo três CDs (acomodando desde o álbum na íntegra, até descartados e mixagens alternativas), dois DVDs e um blu-ray (o destaque do material audiovisual é o The Bruce McMouse Show, nunca lançado comercialmente e, aqui, em cópia restaurada), além de livretos, encartes e réplicas dos desenhos que compõem a arte original do LP.
Como o deluxe (que hoje sai na faixa de R$ 2 mil, além dos impostos) é financeiramente pesado, me contentei com a edição dupla, em CD, lançada simultaneamente. Além do disco remasterizado em Abbey Road (trabalho supervisionado pelo próprio McCartney), o segundo CD reúne 18 faixas, compiladas dos dois CDs da caixa.
Entre os biscoitos finos desse CD estão o reggae ‘C’moon’, ‘Seaside woman’, cuja autoria é atribuída à Linda McCartney, esposa de Paul e integrante dos Wings, que lançaria a faixa somente em 1977 com o pseudônimo de Suzy and the Red Stripes, ‘Hi hi hi’, cuja origem, dizem os especialistas, foi composta por Paul completamente “high” (gíria para “chapado”) a partir do chamamento de Bob Dylan em ‘Rainy day woman’, na qual ele canta: “Todo mundo deve ficar doidão”.
Mas a joia dessa coroa é ‘Live and let die’, canção que Paul compôs e os Wings gravaram (em 1972) para Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973) e que só aparece na trilha do filme e em coletâneas e discos ao vivo do ex-Beatle. Aqui, ela comparece duas vezes, na versão original e, encerrando o CD, o take 10 da gravação, crua, só com voz e banda, sem os backing vocals e o acompanhamento da orquestra.
Felizmente, essa edição dupla Archive Collection está disponível nas plataformas de streaming de música, onde é possível ouvir essas outras faixas raras da sessão de Red Rose…, como ‘The mess’, lado B do single ‘My love’ e que se tornou presença obrigatória no repertório do Wings.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 25 de abril de 2023.