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‘Wandinha’ reúne o melhor de Tim Burton

publicado: 06/12/2022 00h00, última modificação: 07/12/2022 09h44
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“Fria como um cadáver”: Jenna Ortega personifica a protagonista Wandinha - Foto: Foto: Netflix/Divulgação

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por André Cananéa*

Wandinha, a primogênita do casal Gomez e Mortícia Addams, é mesmo um assombro… de sucesso! Lançada na plataforma de streaming há menos de 15 dias, a série homônima Wandinha se tornou um fenômeno, batendo recordes e  superando sucessos até então absolutos, como a 4ª temporada de Stranger Things. Leio no Correio Braziliense que a série derivada de A Família Addams obteve a maior semana de estreia de série em inglês na história da Netflix, tendo sido assistida por 341,2 milhões de horas durante os primeiros sete dias em catálogo.

Misturar os dramas e comédias juvenis, já bem conhecidos do universo pop do audiovisual, com pitadas de fantasia, monstros e sobrenatural já é, por si só, uma fórmula praticamente infalível. Acrescente aquele tipo de enredo de mistério que fez a fama de Agatha Christie a Enola Holmes (também da Netflix, por sinal) e… voilà! Sucesso garantido!

Wandinha, a série, tem tudo isso e muito mais! À frente do projeto, Tim Burton enxergou na adolescente Addams o potencial para trazê-la ao seu universo particular, repleto de monstros estilizados, humor corrosivamente ácido e uma névoa sinistra, mas fofinha ao mesmo tempo, ao fazer da série de oito episódios um encontro entre Harry Potter, O Enigma da Pirâmide, Os Fantasmas Se Divertem e Edward Mãos de Tesoura (os dois últimos dirigidos pelo próprio Tim Burton).

Mas nada disso teria o menor charme se não fosse por uma jovem mignonzinha de exatos 20 anos, 1,55 m de altura e um talento gigantesco para dar vida a uma adolescente socialmente morta, incapaz de se relacionar, sem qualquer sentimento e, como todos nós já sabemos, apaixonada por hobbies mortíferos, como ter um escorpião de estimação.

Sem um músculo de emoção na face, fria como um cadáver e repleta de tiradas macabras, Jenna Ortega fez uma Wandinha Addams digna de entrar para a história e, de quebra, deverá render muitos prêmios à atriz.

O enredo se passa em um internato chamado Escola Nunca Mais. É para lá que Wandinha vai logo nos primeiros minutos da série. É quando vemos parte de sua família: Mortícia (Catherine Zeta-Jones, num claro tributo ao trabalho de Anjelica Huston, que viveu a matriarca em A Família Addams de 1991 e 1993, filmes que trazem no papel  de Wandinha Christina Ricci, atriz que reaparece na série como uma professora), Gomez (Luis Guzmán) e o irmão Feioso (Isaac Ordonez). Mas esqueça a família: a série é essencialmente Wandinha e seus colegas.

A Escola Nunca Mais tem uma peculiaridade: lá só estudam os outcasts (ou “excluídos”), os adolescentes com características sobrenaturais, como sereias, vampiros, metamorfos e górgonas, por exemplo, que não são bem vistos pelos habitantes da pequena Jericó. E embora tenham lá seus poderes assustadores, são dotados das fortes características próprias da idade, como inveja, ciúme, competitividade e, claro, paixões. É a fórmula escolar que o próprio Burton explorou em O Lar das Crianças Peculiares.

É nesse contexto que a novata Wandinha, ao mesmo tempo em que vai conhecendo os colegas, se depara com o surgimento de um monstro que está aniquilando os habitantes da cidade. E misturando seu faro-fino para detetive, sua irresistível atração macabra e um certo poder sobrenatural, a primogênita dos Addams vai entregando uma série de episódios viciantes.

A participação de Tim Burton é fundamental para o projeto. Além de entretenimento classe A ao longo de oito episódios (metade dirigido por ele), o cineasta traz à tona questões que são caras à sua filmografia, como o jovem deslocado, retrabalhado brilhantemente na figura de “monstro”, ou cercado por eles. E a Wandinha de Burton tem muito de dois personagens bem conhecidos do diretor, a jovem Lydia, personagem de Winona Ryder em Os Fantasmas Se Divertem, e o carismático Jack Skellington, da animação O Estranho Mundo de Jack, uma assombração que só quer fazer o bem.

É nesse embalo que a série Wandinha também dá lições de autoestima, como quando a colega de quarto de Wandinha Addams se vê pressionada a se tornar a “lobisgarota” que tanto irá orgulhar a mãe e a linhagem licantropa da família, ao que Enid (Emma Myers) enfrenta com firmeza e crava que isso vai acontecer no tempo dela, uma boa metáfora para amadurecimento.

Entretenimento com algo a dizer, Wandinha é ótima diversão em família, se comunicando muito bem tanto com a garotada, quanto com os adultos que tenham se sentido “outcast” em algum momento da vida, ou não.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 6 de dezembro de 2022.