A IndieWire, publicação voltada ao cinema, TV e série, com foco nos Estados Unidos, elencou 20 motivos que fizeram de 2019, um grande ano para os amantes do cinema. De fato, foi um ano de grandes filmes, grandes novidades e grandes reencontros. A IW, por exemplo, destaca o retorno de Renée Zellweger e Brad Pitt ao estrelato, a ascensão de Florence Pugh (estrela de Midsommar: O Mal Não Espera a Noite e que em 2020 estará nas telas com Viúva Negra, da Marvel) e o reencontro de Robert De Niro com Al Pacino (e também Joe Pesci), patrocinado por Martin Scorsese.
No top 20 motivos que fizeram 2019 um grande ano para o cinema, também foi lembrado o fenômeno Parasita, que além de sucesso de público nos EUA, também entrou para a história como o primeiro filme sul-coreano a ganhar a Palma de Ouro em Cannes; as dez indicações - veja bem, dez! - para Roma no Oscar deste ano e a vitória maciça das mulheres no prestigiado Sundance Festival, com destaque para a vitória histórica de Chinonye Chukwu, de Clemency (ainda sem título em português), a primeira mulher negra a ganhar o festival.
A publicação também destacou uma série de diretores e diretoras, mais-ou-menos-novos, que se reinventaram em seus segundos filmes: Jordan Peele (Nós), Lulu Wang (The Farewell), Greta Gerwig (Adoráveis Mulheres), Ari Aster (Midsommar: O Mal Não Espera a Noite), Robert Eggers (O Farol) e Jennifer Kent (The Nightingale). “Todos voltaram à tela grande este ano com novos filmes que elevaram suas vozes internas e trouxeram suas capacidades de contar uma história a novos limites. Nenhum desses cineastas se contentou em simplesmente repetir a fórmula que fez suas estreias tão promissoras”, assinalou a publicação, em tradução livre.
Obviamente, a lista não esqueceu a partida de Agnes Varda, o oscar tardio a Roger Deakins (pela fotografia de Blade Runner 2049) o reencontro de diretores com seus “musos” e “musas”, como Scorsese/De Niro em O Irlandês; Pedro Almodóvar/Antonio em Dor e Glória; Noah Baumbach/Adam Driver em História de um Casamento e Greta Gerwig/Saoirse Ronan em Adoráveis Mulheres.
Entre outros tópicos, a publicação, claro, também lembrou de Coringa: “Ame-o ou odeio-o, Coringa fez algo que pouquíssimos filmes conseguem fazer na era do streaming de 2019: fez o mundo inteiro sair de casa e ir ao cinema para ver um estudo sério de personagem que, por um acaso, era um filme inspirado em uma história em quadrinhos”, cravou o texto da IW, que também passeou pelas estratégias de mercado do Netflix e saudou a chegada da Criterion, conhecida pela maneira soberba como trata filmes clássicos e independente, ao streaming.
Infelizmente, a publicação foca somente no cercado norte-americano. Se tivesse apontado seu canhão de luz para o Brasil, certamente veria que 2019 foi um ano ainda mais surpreendente por aqui, sobretudo se levarmos em conta a força contrária ao setor por parte do Governo Federal, que fez de tudo para cortar verbas e censurar projetos. A resposta a isso foi uma das melhores safras do audiovisual brasileiro, sobretudo o cinema produzido no Nordeste. O pernambucano Bacurau e o cearense Pacarrete (mais que A Vida Invisível) dominaram a pauta, colecionando prêmios e exposição na mídia. Não por acaso, ambos são estrelados por atores paraibanos.
Nesse cenário, o cinema paraibano termina o seu melhor ano na década. Além de ter emprestado atores para produções “de fora”, o ano fecha com dois novos longas-metragens dirigidos por Vladimir Carvalho e Vânia Perazzo, Giocondo Dias - Ilustre Clandestino e O Que Os Olhos Não Veem, respectivamente (ambos exibidos no Fest Aruanda). Além de O Rebento, filme de André Morais, previsto para estrear em 2020, e que dificilmente sai de um festival de mãos vazias.
Mais: Campina Grande deu origem a A Noite Amarela, filme que deu a Ramon Porto prêmio de Melhor Diretor no prestigiado Brooklyn Horror Film Festival, nos EUA. E não para por aí: o movimento audiovisual no interior do Estado tem crescido a olhos vistos. Basta dar uma conferida na programação do Comunicurtas deste ano, realizado semana passada na Rainha da Borborema.
Para além da produção audiovisual local, o Cine Banguê fez história este ano. Vivendo um momento ímpar, além de oferecer à comunidade cinéfila filmes de arte e de baixo orçamento, que raramente tem espaço nas redes de shopping, o cinema da Fundação Espaço Cultural da Paraíba marcou dois golaços só nesse mês de novembro: inaugurou uma sessão acessível, para cegos e surdos, e quinta-feira passada promoveu, em parceria com a Vitrine Filmes, uma exibição de Bacurau para pessoas em situação de rua.
Espaços como o da Fundação Casa de José Américo, sobretudo, seguem com seu papel fundamental de abrir as portas para o debate em torno de filmes que tem algo a acrescentar a vida de quem se dispõe a vê-los e ouvir especialistas comenta-los após a exibição.
E tudo que foi realizado este ano, parece, foi só o trailer. Muito mais está para vir em 2020. Prova disso foi o anúncio, por parte do governador João Azevêdo, durante a abertura do Fest Aruanda, de um edital que vai patrocinar 14 festivais de cinema na Paraíba ao longo do próximo ano. Tenho defendido os festivais como encontros fundamentais para o desenvolvimento técnico, teórico e intelectual de quem quer se tornar um realizador, ou um espectador de cinema melhor. A experiência que tive ao acompanhar debates e paineis em festivais como o Comunicurtas e o Aruanda foram transformadoras.