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“O Estúdio” faz rir com o cinema

publicado: 15/04/2025 09h30, última modificação: 15/04/2025 09h30
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Rogen vive diretor de um estúdio em Hollywood: bastidores da indústria em tom de galhofa | Foto: Divulgação/Apple TV

por André Cananéa*

Ator, diretor e produtor, Seth Rogen passou a vida — e a carreira — fazendo graça com todo tipo de costume social, e reunindo amigos famosos dentro e fora das telas em comédias tão divertidas quanto bizarras. Seu nome está associado a produções como É o Fim (um grupo de celebridades fica preso na casa do ator James Franco, em pleno apocalipse), A Entrevista (sobre dois jornalistas que ao conseguirem uma entrevista exclusiva com Kim Jong-un, são convocados pela CIA para matá-lo) e a animação para adultos A Festa da Salsicha. Entre seus maiores feitos está Superbad: É Hoje, comédia juvenil de 2007, que se tornou ícone de uma geração.

Aos 43 anos de idade e depois de integrar o elenco de mais de 120 produções — entre eles Minha Mãe é uma Viagem, Pagando Bem, Que Mal Tem? e Segurando as Pontas, além de ter emprestado sua voz a uma série de animações, de Kung-Fu Panda a Uma Família da Pesada —, ele se volta ao berço que lhe fez fama e fortuna: os bastidores da indústria cinematográfica, um negócio que movimenta, anualmente, coisa de US$ 11 bilhões e que alimenta, entre outros braços, o mercado de notícias das celebridades e do entretenimento.

O Estúdio é uma série de sete episódios lançada pela Apple TV, no dia 26 de março (os quatro primeiros já estão disponíveis; novos capítulos vão surgindo todas as quartas-feiras) codirigida, cocriada e estrelada por Seth Rogen e vários amigos dele. Já no primeiro episódio, fazem aparições especiais o diretor Martin Scorsese (em desempenho extraordinário de um papel hilário), a atriz Charlize Theron e os atores Bryan Cranston, Paul Dano e Steve Buscemi — nomes estelares da indústria do cinema, quase todos representando eles próprios.

A trama gira em torno da ascensão de Matt Remick (Rogen), um produtor executivo que se torna diretor de um estúdio de cinema de Hollywood. Menos comercial e mais arrojado que sua antecessora, Patty (Catherine O’Hara, histriônica como pede o papel), ele busca equilibrar “cinema” e “filme” da melhor maneira possível, ou seja, o caráter artístico com o comercial de cada produção.

É isso que define a ideia quando cai no colo do novo diretor um filme envolvendo a marca Kool-Aid (no Brasil, Ki-Suco). O conselho empresarial exige que o projeto seja um estrondoso sucesso de bilheteria, mas Remick quer mesmo boas notas no Rotten Tomatoes ou no Letterbox, ferramentas colaborativas que procuram atestar a qualidade da obra e fazer o público — sobretudo, mais jovem — assisti-lo (ou não).

Esse é o mote do primeiro episódio, que rende comparações — sem filtros — com o “filme da Barbie” e envolve o próprio Martin Scorsese na jogada do diretor do estúdio, de ter o filme de um grande cineasta no cast do estúdio, ao mesmo tempo que inclui o tal Kool-Aid no projeto, agradando, assim, a gregos e troianos — só que não é bem isso que acontece. A saber o que vem mais por aí…

Mas O Estúdio não é a primeira tentativa de o audiovisual de ver o próprio mercado (ou a própria arte) estampada na tela. A lista é imensa, mas no topo dela há de estar, por exemplo, A Última Loucura de Mel Brooks, do próprio Mel Brooks, sobre um grupo disfuncional que tenta produzir o primeiro grande filme mudo em décadas.

Há também o clássico absoluto Crepúsculo dos Deuses, do mestre Billy Wilder, e tem também Hitchcock (que retrata a produção e a estreia do filme Psicose), além de Babilônia e o vencedor do Oscar O Artista (ambos tratam, cada um a seu jeito, da transição do cinema mudo para o cinema falado).

Roteiristas não escrevem somente histórias, mas podem render ótimos enredos também. Mank (2020), de David Fincher, narra a batalha do roteirista Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman) contra o alcoolismo para concluir o roteiro de Cidadão Kane, um dos filmes mais importantes de toda história do cinema. Já Trumbo — Lista Negra (2015), coloca Bryan Cranston no papel de Dalton Trumbo, um dos grandes roteiristas de Hollywood que acabou perseguido pelo macarthismo devido a sua associação com o Partido Comunista.

Grandes diretores, claro, debruçaram-se, em filmes incríveis, sobre os bastidores do cinema. O citado Scorsese, além de ter dirigido uma cinebiografia sobre o colega Howard Hughes (O Aviador), também deu ao mundo o sensível A Invenção de Hugo Cabret (2011). Quentin Tarantino, que além de diretor é uma enciclopédia ambulante de cinema, também deixou sua marca com Era Uma Vez em Hollywood (2019) e Steven Spielberg lançou mão de um olhar bastante pessoal e sensível sobre a indústria que lhe fez um dos nomes mais importantes no biográfico, Os Fabelmans.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 15 de abril de 2025.