Bo McCready é um norte-americano, morador de Austin, no Texas, que trabalha com ciência de dados. Ele lê e analisa dados, e constroi gráficos. Parte deles versam sobre cultura pop, em geral. Por exemplo: quem é o personagem que tem mais falas na série The Office? Ele já fez um gráfico sobre isso.
Encontrei o site dele e acessei as redes sociais de McCready. Em 22 de janeiro de 2022, ele publicou, no X, uma série de gráficos que mostram a popularidade dos gêneros de cinema de 1910 a 2021. Embora eu não tenha achado detalhes sobre a pesquisa — apenas o resultado —, ele informa que a iniciativa partiu de um projeto para o IMDB, e que naquela postagem do comecinho de 2022, ele dava uma atualizada nos números.
Para ilustrar, vou tomar como exemplo o faroeste. Os gráficos mostram que o gênero alcançou o maior pico de popularidade em 1925, alcançando um bom desempenho também em 1935 e 1940, gozando de prestígio até 1950, quando, então, entra em decadência, até ser resgatado em 1966, mas sem tanto admiração por parte do público, mantendo-se levemente relevante até o fim dos anos 1970, quando entra em total declínio de popularidade, de acordo com os gráficos.
Os filmes de terror, por outro lado, vêm na direção oposta. Depois de viver picos modestos de popularidade nas décadas de 1910 a 1920, ele teve uma aceitação muito grande em meados dos anos 1970 e teve uma popularidade ainda maior em meados dos anos 1990. Depois de uma leve queda, tem crescido bastante desde o fim dos anos 2000, alcançando sua maior popularidade em 2021, data limite da pesquisa (acredito que tenha subido ainda mais).
Há uma semana, a BBC elegeu os 10 filmes de 2025 até agora. Dos 10, três são filmes de terror, e todos os três estão entre os mais comentados dos últimos tempos. São eles: Pecadores, A Hora do Mal e Faça Ela Voltar. Eu já escrevi sobre o filme de vampiros e blues, de Ryan Coogler, estrelado por Michael B. Jordan, em uma coluna no passado, que você pode resgatar acessando o site do jornal A União. Os outros dois, vi recentemente no cinema (eles continuam em cartaz hoje).
Faça Ela Voltar é um filme australiano dirigido com muita competência pelos irmãos Danny e Michael Philippou. Eles já haviam assombrado minhas noites com o hoje cult Fale Comigo, em que um grupo de jovens encontrava fantasmas no limbo ao apertar uma mão mumificada. Agora, a dupla tece um assustador conto sobre uma mãe enlutada (vivida pela extraordinária Sally Hawkins, de A Forma da Água) que adota dois irmãos adolescentes.
O filme começa com um ritual que não se explica muito. Mais para frente, a gente descobre que uma gravação em VHS desse ritual é assistida com frequência pela mãe que perdeu a filha adolescente de forma trágica, e que percebe na jovem cega que adotou, e da ajuda de um garoto muito estranho que vive com ela, a possibilidade de trazer a filha de volta dos mortos.
O filme é quase um drama, apesar de cenas com muito sangue, autoflagelo e mortes com alto grau de repugnância visual. Mas o filme não é sobre rituais, ou magia sobrenatural, ou coisas demoníacas. Isso está lá para impulsionar a história que interessa, que é a da mãe e esses dois novos filhos adotivos. Se fosse um blockbuster americano, iria perder um tempo precioso explicando de onde vem o ritual e apostar em alguns sustos gratuitos. Por sorte, Faça Ela Voltar não perde tempo com essas coisas, vai direto ao assunto e isso o deixa extremamente coeso, e tenso!
A Hora do Mal me fez ter pesadelos, e isso já diz bastante coisa. Estrelado pela atriz do momento, Julia Garner (a Surfista Prateada do novo Quarteto Fantástico, mas muito lembrada pela série Ozark) e pelo veterano Josh Brolin (Goonies, Duna, Vingadores), o filme narra o sumiço de 17 crianças num mesmo horário da madrugada. Todas as 17, pertencentes à mesma turma na escola, que tem 18 alunos (exato, só um não some).
Basicamente, isso é tudo que o trailer traz (e os desdobramentos para encontrar tais crianças) e justamente por não dar spoilers, a trama de A Hora do Mal consegue surpreender durante o seu desenlace.
Com direção e roteiro competentes de Zach Cregger (Noites Brutais), o filme se desenrola pelo ponto de vista de alguns personagens, surgindo como um quebra-cabeça intrigante e tenso ao mesmo tempo, com direito a um jump scare (o nome da moda para “susto”), aqui e ali, em um filme que transita entre metáforas e clichês de horror com muita habilidade.
No entanto, o que me marcou muito foi a abertura do filme. Ao som da bela e soturna “Beware of darkness” (“Cuidado com as trevas”, em tradução livre), clássico de George Harrison, Cregger soube pavimentar o caminho para o desfecho da história, e deixar inquietos os espíritos de pobre nós, fãs do gênero.
Por meio deste link, acesse os gráficos sobre cinema de Bo McCready
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 2 de setembro de 2025.